O presidente Superior Tribunal Militar (STM), tenente-brigadeiro do Ar Francisco Joseli Parente Camelo, deu, no dia 27 do mês passado, entrevista ao grupo Bandeirantes de Comunicação, na qual fez algumas afirmativas vale comentário.

A que mais chamou a atenção foi a de que “o comunismo acabou com a queda do Muro de Berlim, em 1989”. Só posso concordar em parte com a enfática afirmativa do ministro.

De fato, na Europa, mais precisamente no Leste Europeu, que esteve sob a bota do comunismo de 1945 até 1989, ninguém quer sequer ouvir falar do regime. Natural, pois nessa região as populações sentiram na carne todas as agruras da tirania comunista.

Mas o que é verdade para a Europa nem sempre é verdade para os continentes africano e americano, por exemplo.

No mundo mais civilizado, onde se estuda, se lê e se conhece a história do comunismo, é sabida a esteira de mortes, torturas, fome, sofrimento e atraso que ele deixa atrás de si, e ele é detestado. Na África ainda há quem o cultue.

Na América Latina — fenômeno sociológico que precisa ser estudado — ainda se cultua, e muito, essa doutrina nefasta. O ministro Joseli Parente se esqueceu de ao menos dois países aqui perto, onde o comunismo não só não acabou, como está bem vivo, copiando uma de suas mais sujas versões, a do comunismo soviético.

Cuba e Nicarágua são exemplos claros de que o ministro se engana em sua afirmação otimista.

Ao menos três gerações de cubanos sofreram e sofrem as piores privações e vêm seu país, outrora próspero, sofrer a falta de alimentos, de liberdade, de energia, de transportes, de tudo enfim que torna existência confortável e esperançosa.

Na Nicarágua, sob a batuta do tiranete Daniel Ortega, uma figura caricata, que tem Fidel Castro como modelo de virtudes e é dominado pela mulher, tão ou mais radical do que ele, o país vive hoje uma das mais, senão a mais feroz repressão religiosa do Globo.

Eleita como inimigo número um do regime comunista nicaraguense, a Igreja Católica tradicional vê seus padres e bispos presos, seus colégios e rádios fechados, suas freiras expulsas e seus cultos proibidos. Alguém teria que mostrar isso ao ministro Joseli Parente.

E não ficamos nisso. No Brasil mesmo, o comunismo não acabou. Temos um Partido Comunista do Brasil, que é oriundo da dissidência soviética que se revoltou contra Kruschev, quando ele, num acesso de sinceridade, denunciou boa parte dos crimes do antecessor Ióssif Stálin. O seu mea culpa correu o Mundo, mas alguns, movidos seja por um dogmatismo cego, seja por uma enorme ignorância, o rejeitaram e assumiram a defesa de Stalin.

Dessa dissidência nasceu o bem vivo PC do B. Que teve como membro o agora ministro do Supremo Flávio Dino, que contraria seu colega do STM, quando afirma, em bem claro vernáculo: “Sou comunista, graças a Deus”. 

O ministro Joseli Parente por certo se esqueceu que o presidente Lula da Silva, a quem ele parece devotar muita admiração, também concorda que o comunismo não morreu. Duas declarações recentes suas: “Sinto orgulho quando me chamam de comunista” e “Felizmente temos agora um ministro comunista (Flavio Dino) no Supremo”.

O Foro de São Paulo nasceu, com a ajuda de Lula da Silva e o patrocínio de Fidel Castro, justamente para tentar fazer renascer na América Latina o que o comunismo perdeu no Leste Europeu.

Para terminar essas considerações sobre o fim do comunismo, no mês passado, a presidente do PT, Gleisi Hofmann, esteve em Cuba, firmando um acordo de cooperação entre o PT, e, sabe quem?, o Partido Comunista Cubano. E José Dirceu, ligação do comunismo cubano com o PT (viveu em Cuba de 1969 a 1975), está de volta à cena política, como o ministro deve saber.

 Esteja certo, ministro: o comunismo não acabou, e ainda dará muito trabalho em alguns lugares, no Brasil inclusive.

Recuo da segurança, da saúde e da educação

O ministro, em sua posse como presidente do STM, em 16 de março, já havia feito algumas afirmações que também merecem comentários. Uma delas, a de que “a esquerda quer um Brasil melhor, mais solidário, mais próspero, que pense no mais pobre”.

No entender de muitos, pelo menos da metade dos brasileiros, isto é o que a esquerda apregoa, mas não é isso que ela quer. Se ela quer essa prosperidade, o que explica o atraso crônico que a sociedade brasileira experimentou sob os governos de esquerda, desde Fernando Henrique? A Educação, a Saúde e a Segurança Pública, elementos da prosperidade, só recuaram nos governos de esquerda, e estão entre as piores do globo.

Isso sem falar na corrupção esquerdista brasileira, recordista mundial.

O otimismo do ministro, evidentemente, não tem razão de ser. Foi também benevolente com Lula da Silva, em seu discurso de posse: “Sei o quanto o presidente Lula se empenha para levar a cada brasileiro, principalmente os mais carentes, a certeza de que eles não estão sozinhos pela própria sobrevivência, pela educação, pelo pão de cada dia…”.

Pelo menos a parte mais informada do Brasil sabe que os recursos públicos, importantes para a sobrevivência dos mais pobres, não são tratados com tanto cuidado pelos esquerdistas daqui. O avanço da elite política sobre eles, Lula da Silva à frente, é assombroso.

Gasta-se com um número enorme de ministérios incompetentes, apinhados de “companheiros” ganhando muito mais do que valem, gasta-se com verbas gigantescas e um tanto misteriosas para deputados e senadores, muitos deles suspeitos, com privilégios enormes para a cúpula do Judiciário, com a corrupção (que agora está voltando) e tanta coisa mais em desfavor de quem paga impostos com sacrifício.

O ministro havia também declarado sua satisfação em pilotar para Lula da Silva e Dilma Rousseff, quando presidentes. Sentimento íntimo, direito inalienável seu, que todos devemos respeitar ao máximo, até porque se liga a valores indiscutíveis, como a lealdade e a gratidão.

O que não impede a existência de colegas seus — e conheci vários — que prefeririam uma passagem imediata para a reserva a desempenhar tão importante função. Não suportariam moralmente o convívio presidencial nos moldes desses dois governantes. Nem qualquer outro tipo de convívio com os dois políticos.