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Livro de Lira Neto resgata a história do general goiano que lutou para manter o presidente Getúlio Vargas no poder. Ele é avô do secretário de Cultura do governo Marconi

Aguinaldo Caiado de Castro: lutou na Segunda Guerra Mundial contra o nazismo e batalhou para evitar a queda de Getúlio Vargas
Aguinaldo Caiado de Castro: lutou na Segunda Guerra Mundial contra o nazismo e batalhou para evitar a queda de Getúlio Vargas

Dois episódios relacionados a goianos, a propósito do último livro bio­gráfico de Lira Neto sobre Getúlio Vargas:

1 — O chefe da Casa Militar de Getúlio Vargas, general Aguinaldo Caiado de Castro (1889-1963), era um veterano da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Como coronel, foi um dos partícipes da tomada de Monte Castelo, comandando o 1º Regimento de Infantaria, o famoso Regimento Sampaio. Ao partir para a Itália, já era um experimentado militar (integrou, entre outros movimentos, a Revolução Cons­titucionalista de 1932). Anti-getulista a princípio, participou, com o general Gois Monteiro, da derrubada da ditadura Vargas em 1945. Veio a ser nomeado em 1952, não sem certa relutância interna, chefe da Casa Militar, com Getúlio trazido ao governo pelas eleições de 1950. Ainda via no presidente a figura ditatorial que ajudara a afastar, movido pela crença democrática aperfeiçoada ao lutar na Europa.

No correr do tempo, passou a admirar Getúlio, uma presa dos acontecimentos que não provocava, mas que recaíam sobre sua pessoa. Quando a situação de Getúlio ficou insustentável, na reunião ministerial de 24 de agosto de 1954, o general Caiado de Castro indignou-se ao ver que seus colegas de farda, os ministros Zenóbio da Costa, do Exército, Mascarenhas de Morais, do (Estado Maior das Forças Ar­madas (EMFA), Renato de Almeida Guillobel, da Marinha, e Epaminondas Gomes dos Santos, da Aeronáutica, abandonavam Getúlio à própria sorte. Resolveu resistir a qualquer custo, sabendo que haveria ação armada para tomar o Palácio do Catete e depor o presidente.

Um dos ajudantes de ordem da Presidência era o oficial de marinha goiano Thales de Aquino Coelho, seu genro, que também se armou para aguardar o assalto ao Palácio. O suicídio de Getúlio frustrou as intenções armadas, e o vice, João Café Filho, acabou tomando posse. Quem respirou aliviada foi Magaly, filha única do general Caiado de Castro e mulher de Thales. Esteve a ponto de perder de uma só vez o pai e o marido, caso um golpe de força fosse desfechado para depor Getúlio.

O general Caiado de Castro foi senador pelo Distrito Federal de 1954 a 1962. Thales, por sinal um talentoso pintor, continuou sua carreira na Marinha, onde chegou a capitão-de-Mar-e-Guerra. Morreu tragicamente em 1978, no Rio de janeiro, ao defender uma senhora que estava sendo assaltada. Seu filho, Aguinaldo Caiado de Castro Aquino Coelho, é o atual secretário da Cultura do governo goiano.

Carlos Lacerda: o governador da Guanabara e um dos jornalistas mais celebrados do país pode não ter sido morto pela intervenção rápida de um goiano
Carlos Lacerda: o governador da Guanabara e um dos jornalistas mais celebrados do país pode não ter sido morto pela intervenção rápida de um goiano

2 — Lira Neto conta em seu terceiro livro biográfico sobre Getúlio uma cena de pugilato ocorrida em 1954 no restaurante carioca Bife de Ouro, do Hotel Copacabana Palace. O brasilianista John W. Foster Dulles também a relata em seu livro “Carlos Lacerda — A Vida de um Lutador” (Nova Fronteira, 512 páginas, tradução de Vanda Mena Barreto de Andrade). Eu já sabia desse acontecido, com detalhes, desde os anos 1970, por um meu auxiliar, quando governava Goiás. O secretário de representação do governo goiano no Rio, Murilo de Barros Pimentel, foi involuntariamente envolvido no entrevero. Foi uma briga com risco de morte, conta ele, entre Euclydes Aranha, filho de Osvaldo Aranha (então ministro de Getúlio, e muito atacado por Lacerda), e o jornalista Carlos Lacerda.

O relato de Murilo, que participou diretamente do episódio: “Eu me encontrava, com alguns amigos no Bife de Ouro e, numa mesa vizinha, Lacerda jantava com outro grupo. Vi quando Euclydes, que eu conhecia de vista, entrando também com dois ou três amigos no restaurante, percebeu Lacerda, e imediatamente se transfigurou. Partiu para a mesa do desafeto, aos palavrões, o que fez Lacerda se levantar. Quando se levantava, Lacerda recebeu um soco de Euclydes, perdeu os óculos e se desequilibrou, enquanto este dava um passo atrás e sacava um revólver. Um dos amigos de Euclydes atracou-se com ele, e o revólver caiu. Eu mais que depressa, pois havia me levantado também, apanhei o revólver, que meti no bolso. Vi, nesse momento, e acho que os outros nem haviam percebido, que Lacerda também empunhava um revólver. Segurei-o, juntamente com um dos da sua mesa, e aos brados chamei-o à razão, conseguindo tomar-lhe o revólver, que foi também para meu bolso. Lembro-me que Lacerda, que conseguimos encostar à parede, arfava muito. Serenados, tanto quanto possível os ânimos, Euclydes se retirou relutantemente, conduzido por seus amigos, enquanto os demais permanecíamos. Chamei um dos amigos de Euclydes, na saída, e entreguei-lhe um revólver, aconselhando só devolvê-lo ao dono quando longe dali. Fiz o mesmo com um amigo de Lacerda, a quem entreguei a outra arma. Não sei se troquei as armas. Pode ter acontecido.

Eram dois revólveres idênticos: mesma marca, mesmo modelo, mesmo calibre.”Euclydes, muitos anos depois, tornou-se fazendeiro em Goiás, e foi um dos amigos mais cavalheiros e educados que tive ao longo da vida. Imaginava, quando conversava com ele, observando seu comedimento, sua temperança, como deveriam estar aquecidos os ânimos naquele ano de 1954, para que ele saísse do sério como saiu no episódio.

Marina Silva é vaga sobre energia e segurança pública

Marina Silva caminha rumo à Presidência República. Começo a examinar seu programa de governo, ou melhor, seu programa de intenções, de 242 páginas. Começo com o capítulo 2 (que ela prefere chamar de eixo 2), voltado para a economia, pois estou curioso para saber como o governo Marina (caso eleita) pretende lidar com o agudo problema da energia.
O título daquele capítulo é alvissareiro, embora me pareça um tanto demagógico: “O governo deixará de ser controlador dos cidadãos para se tornar seu servidor. Deixará de ver o setor público como o criador da sociedade. O Estado tem que servir à sociedade, e não dela se servir”.

Também dá esperanças a afirmação contida no subcapítulo que trata da política energética, de que “é preciso retomar o planejamento de médio e longo prazo do setor energético de forma integrada…”. A falta de planejamento desde os anos 1980, aliada à incapacidade administrativa do governo atual, desorganizou o setor energético brasileiro, que hoje navega à matroca.
Não se planeja governo desde que Fernando Henrique Cardoso foi eleito, o que é um absurdo até para uma média empresa, que dirá para um país continental.

Na página 67 do plano, estão listadas as diretrizes para a política energética do governo Marina. São dez itens, onde encontramos coisas realmente importantes, como a intenção de reduzir o uso de combustíveis fósseis e aumentar a disponibilidade de fontes renováveis, mas há também omissões, como quanto à construção de hidrelétricas novas, sejam grandes usinas, sejam PCHs, que o plano não especifica, e de que temos ainda apreciável potencial. Seria o “ecologismo” exacerbado da candidata de olho nas inundações que os reservatórios provocariam?

Busco também saber, além da questão energética, como um futuro governo Marina vê um dos mais graves problemas brasileiros atuais. O mais grave de todos, julgam alguns: o da segurança pública. O plano é, como todos os planos de véspera de eleições, um tanto vago. Convém, nessas horas, não ser muito definido para evitar desagrados eleitorais. Mas são preocupantes vários aspectos do plano, nessa questão da segurança. Algo profundo tem que ser feito no sistema penal e na questão carcerária para evitar absurdos como esse do “Cadu”, preso agora em Goiânia. Assassinou barbaramente o cartunista Glauco e o filho em Osasco. Trazido para Goiânia pela família, dado como inimputável e não perigoso pela Justiça, volta à liberdade, para massacrar em assaltos ao menos três outras pessoas, todas trabalhadoras e úteis. Mas isso já é outra história.