Paulo Bertran: faz falta o pesquisador que investigava os fatos e a realidade
Paulo Bertran: faz falta o pesquisador que investigava os fatos e a realidade

O talentoso — e saudoso — Paulo Bertran, escritor e historiador goiano precocemente falecido em 2005 (com 56 anos), deixou escritos admiráveis, como “His­tória da Terra e do Homem no Planalto Central”.

Em 1988 publicou “Uma Introdução à História Econômica do Centro-Oeste do Brasil” (Editora da Universidade Católica de Goiás), um estudo que teve menos divulgação do que merecia. O livro abrange desde a economia colonial até os esforços de integração do último governo planejado que tivemos — o de Ernesto Geisel.

Entre os assuntos importantes abordados no livro está o alerta dado por Paulo Bertran para a destruição do bioma do Cerrado, algo quase que completamente ignorado até os anos 1980. E foi nas décadas de 1970 e 1980 que se deu a expansão inicial da fronteira agrícola do Centro-Oeste, com o aumento das pastagens, expansão que viria, já a partir dos anos 1980, tornar-se exponencial com o plantio da soja, sem os cuidados pedidos pelo bioma.

A tímida reação dos organismos de controle ambiental, quase inexistentes em nível municipal, e desordenados nas esferas estadual e federal, permite uma quase nula preservação das reservas, com extinção das ricas flora e fauna do Cerrado central. A possibilidade de permutação de reserva por área fora das propriedades e a ignorância de muitos plantadores, aliada à omissão ou à corrupção da fiscalização, tem permitido que se dizimassem essas riquezas vegetais e animais, e se resumam as reservas em áreas que não têm, até porque nunca tiveram, vegetação ou fauna digna desse nome.

No último capítulo do livro, Bertran chama a atenção para os esforços do governo (do governo Geisel, principalmente), visando à integração nacional dessa importante região, lembrada apenas no governo Juscelino e nos governos militares como objeto de estudo, projetos e investimentos.

Estão apreciados no livro os principais programas do II PND (1975-1979), o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, os quais contemplavam, total ou parcialmente a região central do Brasil. Destes programas, três eram sem dúvida mais importantes: o Polocentro, o Polamazonia e o da Região Geoeconômica de Brasília. O Polocentro, voltado para Mato Grosso, Goiás e Minas, lançou as bases da elevada produção de grãos e carne que hoje temos na região. O Po­lamazonia visou dar à Ama­zônia Legal condições para um desenvolvimento sustentado e ambientalmente adequado.

Não nos esqueçamos de que Goiás detinha à época a área hoje do Tocantins, parte da Amazônia Legal. E o programa da região de Brasília almejava criar condições de desenvolvimento do entorno da capital, evitando fluxos migratórios e condições socioambientais que exercessem pressões sobre Brasília e a desfigurassem pelo crescimento urbano desordenado. Esses programas foram todos completados dentro de seus orçamentos e cronogramas, ao contrário do que hoje ocorre (o PAC só atingiu 12% daquilo que propôs). Em moeda atualizada, esses três programas aplicaram o equivalente a 10 bilhões de reais. E sem a roubalheira generalizada de hoje.