Funcionários do laboratório de Wuhan contraíram coronavírus em novembro de 2019, bem antes do anúncio chinês da pandemia. É preciso saber mais sobre o assunto

No momento em que escrevo este artigo, há no planeta o registro de mais de 170 milhões de contaminados pelo coronavírus, com a consequente morte de mais de 3,5 milhões de pessoas. Só nos EUA, o país mais atingido, houve mais de 33 milhões de infectados e quase 600 mil mortes pela doença. Por outro lado, as mais densas sombras se debruçam, isto há um ano e meio, sobre as origens dessa pandemia. Muito natural, pois, a determinação do presidente americano, Joe Biden, para que os serviços de Inteligência do país apresentassem ao governo, em 90 dias, um relatório apontando quando, onde e como surgiu o misterioso vírus. A China, como era de se esperar, reagiu à ordem de investigação ianque, embora Biden tivesse pedido sua colaboração. O que os chineses querem, neste momento, é que nenhuma pontinha sequer, do véu que cobre a história do vírus, seja levantada. Seria um desastre diplomático para a gigante asiática uma acusação de descaso na manipulação de um vírus em seus laboratórios, num momento grave como o atual.

Confira algumas verdades já evidentes
1

O vírus surgiu na China, mais precisamente na cidade de Wuhan, província central de Hubei, em dezembro de 2019.

2

Wuhan abriga um grande laboratório de virologia, há pelo menos vinte anos.

3

Há um mercado central nessa cidade de 10 milhões de habitantes, onde se comercializam animais silvestres vivos.

Verifique as suposições sobre o vírus
I

O vírus teria como hospedeiro o morcego, e existem estudos nesse sentido, há tempos, no laboratório de Wuhan. A partir do morcego, teria se espalhado pela população local.

II

O vírus seria uma variante geneticamente modificada no laboratório de Wuhan, que, por deficiência de segurança, teria escapado e contaminado alguns pesquisadores, e daí se espalhado pelo mundo.

Outros fatos foram observados
A

A OMS, prova de sua ineficácia, apesar de instada, nenhuma providência tomou para investigar a origem da pandemia, a não ser um ano após sua descoberta.

B

Quando enviou uma equipe a Wuhan, esta não encontrou muita colaboração das autoridades locais, e voltou com um parecer inconclusivo, vazio, sobre a origem do vírus.

C

A China, via de suas representações diplomáticas e de suas ligações empresariais e ideológicas no exterior, vem fazendo um enorme esforço junto à mídia para que não se levantem especulações sobre a origem do vírus, no mundo todo. Tem acionado os jornalistas “simpáticos”. E se abespinhou com a movimentação investigatória do presidente americano.

Esse esforço chinês tem colaboradores nos profissionais de imprensa da esquerda, que se esfalfam para que nenhuma notícia negativa atinja a China, mesmo que em detrimento de seus próprios países. Afinal, o regime político chinês é o comunismo, merecedor de todas as vassalagens dos jornalistas “progressistas”.

Se o presidente Bolsonaro aventa a possibilidade de ter o vírus  escapado do laboratório de Wuhan, uma jornalista como Eliane Cantanhêde imediatamente o acusa de desferir “caneladas ideológicas e nada diplomáticas contra nosso maior parceiro comercial” ou “atacar a maior potência do planeta e os maiores produtores de vacinas e medicamentos do mundo”, como se a China suspendesse por isso a compra de nossa soja e se por palavras doces de Bolsonaro nos remetesse de boa vontade mais vacinas e insumos contra o coronavírus, de que necessitamos.

Acorde, Eliane, não deixe que a obsessão por Bolsonaro, que ocupa praticamente a totalidade de seus artigos há um ano, e suas simpatias ideológicas turvem sua visão. A China compra nossa soja, não porque sejamos um povo amável, mas porque sem ela não alimenta seu povo. E mesmo sendo bonzinhos, ela só nos envia (como faz com outros compradores mundo afora) as vacinas a conta-gotas. E sabe por quê?

Joe Biden: levantando suspeitas sobre a China | Foto: Reprodução

Porque sua prioridade é vacinar chineses. Já aplicou em casa 700 milhões de vacinas. A China é quem mais vacinou contra o Covid, hoje, no mundo. Depois dela, Estados Unidos (300 milhões), Índia (210 milhões) e Brasil (70 milhões).

Vou desenhar para você: some e verá que a China vacinou bem mais que os três juntos. É por isso que não envia mais vacinas para nós, e não pelas idiotices ditas pelo presidente do Instituto Butantã, que acusou o governo federal de culpado pelos atrasos de insumos para fabricação de vacinas, sendo agressivo e não diplomático com a China.

Outra jornalista de esquerda, Miriam Leitão, afirma com uma segurança impressionante que a China poderá comprar soja dos EUA, em vez de comprar do Brasil, pois Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, foi agressivo com a China. Ora, uma velha colunista de economia, há mais de 40 anos cobrindo os mercados, não pode deixar de saber que a China compra do Brasil porque vendemos mais barato. A ideologia obscurece o raciocínio de Miriam.

Abrindo ligeiro parênteses: esses jornalistas “progressistas” ficavam histéricos quando Trump deportava imigrantes ilegais brasileiros. Mas ficam mudos, agora que Biden faz exatamente o mesmo. E, já que voltamos a Biden, aguardemos o resultado de suas ordens de desvendar as origens do corona. Imagine o leitor a gritaria que ouviríamos por aqui, se Trump tivesse feito isso.

Jair Bolsonaro, presidente da República: China compra do Brasil por causa dos preços e da alta qualidade dos produtos do pais | Foto: Sérgio Lima/Poder360
A CIA já entrou em ação 

E pode a CIA — a Central de Inteligência Americana — descobrir algo? Talvez. Afinal, é o maior organismo de espionagem do planeta, e deve ter boas antenas mesmo em território comunista chinês. Tanto assim que forneceu ao “Wall Street Journal”, no mês passado, notícia de que três funcionários do laboratório de Wuhan já teriam contraído coronavírus em novembro de 2019, bem antes do anúncio chinês da pandemia. Em contrapartida, o regime político chinês é fechado, totalitário e desapiedado. Não existirão facilidades para os americanos nessa empreitada. Nós outros, fora dessa luta de titãs, só podemos esperar os resultados. O mundo precisa e deve saber como tudo isso começou. Mas nenhuma revelação, por mais bombástica que seja, adiantará muito no combate à praga, que já afetou mundo inteiro. Ficará para os registros históricos.