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A história da ideia da democracia nunca foi livre de contestações, desde a Grécia Antiga. Na sua origem a democracia não se baseava no voto universal. Só uma elite votava: os cidadãos proprietários. Platão, no seu livro “A República”, pregava que o ideal seria um governo escolhido entre os sábios, uma democracia aristocrática. O voto seria qualificado.

Desde o seu início temia-se que o voto universal, a inclusão dos despossuídos, ensejasse uma situação em que um bando de miseráveis atuaria para saquear os que produzissem riqueza. Outro não foi o temor dos Founders Father ao escrever, em 1787, a Constituição Americana. Contrariando essa expectativa pessimista, os Estados Unidos não caíram nessa tentação

Talvez isto se explica pela cultura inglesa de valorização da liberdade individual e prêmio ao mérito, que Max Weber distinguia como sendo uma diferença religiosa. No seu clássico livro “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, Weber aborda a diferença entre as diversas religiões.

O protestantismo, segundo Weber, prega que o enriquecimento honesto é uma bênção Divina, enquanto o catolicismo condena o lucro como pecado. Uma crença estimula a poupança, o investimento, o trabalho estoico em que o mérito é uma virtude a ser admirada; na outra, os estímulos são negativos, a virtude está na caridade, na esmola. O que a prática mostrou que uma gerou riqueza e a outra, pobreza.

Urnas eletrônicas | Foto: divulgação/TSE.
Urna eletrônica | Foto: divulgação/TSE

Se nos Estados Unidos, a universalização do voto não resultou nos pobres caçando os bens dos ricos, o mesmo não aconteceu nos países católicos. Nestes, realizou-se a pior das expectativas com a lamentável dicotomia entre pobreza e riqueza. A qual tem sido habilmente explorada, eleiçoreiramente falando, pelo populismo-socializante, ao jogar os pobres contra os ricos. A manipulação do eleitorado está baseada na inveja e a causa dos males estaria na desigualdade socioeconômica.

O trágico desse populismo, baseado na transferência de rendas, é a cooptação do eleitor que vende o seu voto, o que torna um milagre escapar desta armadilha. Depois da falência da União Soviética, que escravizou a população, prendeu uma infinidade de opositores do regíme, matou milhões nas perseguições e nos erros do coletivismo, ainda muitos votam nos socialistas. O mesmo aconteceu com o peronismo na Argentina, que empobreceu o mais rico país do mundo, em quase um século de distribuição de renda.

Ambos os exemplos da opção pela pobreza, com a promessa de redução das desigualdades, só deram frutos de mais miseráveis e de servidão ao Estado. Os socialistas, nesses anos, apesar de tantos pesares, ainda retêm uma parcela expressiva de adeptos. São os dependentes do governo ou os que mamam nas suas tetas.

Na Rússia, após a queda do comunismo, as pesquisas de opinião pública indicaram que 30% dos eleitores preferiam o regime anterior; na Argentina, após o governo de Javier Millei repudiar as práticas peronistas, ainda pouco mais de 40%, não apoiam a mudança, preferem o peronismo com as suas benesses aos “descamisados”.

Esses percentuais não diferem muito dos números brasileiros, que apresentam números semelhantes dos que caem no canto da sereia de ser a desigualdade o nosso mal. Quando, na verdade, o verdadeiro mal está no nível de pobreza causada por baixo investimento e produtividade.

Nas eleições o Partido dos Trabalhadores (PT ), partido político líder no estímulo ao baixo sentimento de inveja, maliciosamente culpando a inegável e indesejável desigualdade socioeconômica do nosso subdesenvolvimento, tem estáveis 30% dos votos.

Como sair dessa armadilha?

A saída está em não dar direito de voto aos dependentes do Estado, aos beneficiários das diversas bolsas de auxílio. Está em impedir que o benefício das suas conveniências não sacrifique a nação. Seria qualificar o voto para que os que mamam nas tetas do governo, os dependentes de benefícios públicos, decidam do bem comum.

A ideia de um regime democrático em que aqueles que recebem benefícios do governo não podem votar tem raízes em diversos pensadores políticos e economistas. Entre outros, Milton Friedman: o economista liberal argumentava que há um risco de que, se muitas pessoas dependerem do governo, elas votem em políticas que aumentem os benefícios, levando a um ciclo de gastos públicos insustentáveis.

O voto qualificado seria o fim de um estado de cousas em que o bem geral é sacrificado pelos interessados em vender o voto.