Se meus braços nada mais querem abraçar,

As minhas pernas não mais querem caminhar,

A minha alma não pode mais querer amar,

As ilusões não querem mais me enganar,

A glória não mais me faz sonhar,

A vaidade não mais me vai influenciar,

A esperança acaba de me abandonar,

Se me falta vontade do mundo desbravar,

Estou caminhando para a morte beijar.

Se somos como gotas d’água a rolar,

Descendo, crescendo, até molhar

As margens do rio que puder alagar;

Abraçando ilhas que puder criar,

Ampliando os seus braços sem parar,

Ambicionando o mundo inundar,

Para ser engolido no final pelo mar,

Fica sem sentido pela vida lutar,

Pois terminaremos pela morte beijar.

Se quando nada mais me restar,

A não ser o corpo a doer e cansar,

A mente a não mais querer pensar,

A forte vontade se abrandar,

A doce ilusão me abandonar

E a última esperança acabar,

Sem ter um futuro a visualizar,

Posso começar a me preparar —

A minha missão na Terra vai terminar,

Sentirei o beijo da morte a me beijar.