Ayn Rand e o Objetivismo: entenda por que você precisa ler esta pensadora seminal
07 agosto 2022 às 00h00
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Se houvesse a decisão de construir um monumento aos grandes pensadores da humanidade, com estátuas de alturas proporcionais às suas estaturas intelectuais, certamente Ayn Rand (1905-1982) seria a maior das representantes do sexo feminino. E não seria menor do que nenhum dos maiores intelectuais do sexo masculino. Ela, com uma produção literária imensa, conquistou merecidamente uma posição de destaque no mundo intelectual. Os seus livros foram traduzidos em muitos idiomas. “A Revolta de Atlas” (Arqueiro, 1216 páginas, tradução de Paulo Henriques Britto), o mais divulgado dos seus textos, foi considerado o livro mais influente dos Estados Unidos pela livraria do Congresso americano. Foi durante quarenta anos um best-seller, com uma tiragem de mais de 35 milhões de exemplares. Só a Bíblia tinha mais leitores.
“A Revolta de Atlas” narra um momento em que os Estados Unidos, dominados pelo estatismo, presencia o desaparecimento inexplicável das mentes mais criativas do país. A par de uma narrativa misteriosa e dramática, Ayn Rand apresenta a essência da sua filosofia: “a defesa da razão, do individualismo, da liberdade de expressão, assim como os valores em que o homem deve viver”.
Ayn Rand, uma pensadora seminal, foi fundadora de uma corrente filosófica, que denominou O Objetivismo, cuja essência é colocar cada indivíduo como responsável por suas ações tendo como valores supremos a busca da liberdade e da felicidade. Ela valorizava o individualismo, que definia na ideia de que não se devia cometer o erro dos ignorantes de pensar que um individualista é um homem que diz: “Eu farei o que quiser às custas de todos”. “Um individualista é um homem que reconhece os direitos individuais inalienáveis do homem – os seus próprios e os dos outros”. Ela criticava todo tipo de coletivismo e estatismo, que incluía muitas formas de governo, como o comunismo, o fascismo, o socialismo, a teocracia e o Estado do bem-estar social (welfare state).
O individualismo, que Ayn Rand contrapunha ao coletivismo, certamente foi influenciado pelo seu histórico de vida. A pensadora era filha de um modesto farmacêutico, de origem judaica, que perdeu todo o seu patrimônio na revolução comunista. Ela conheceu de perto os males do coletivismo e da perseguição política, o que a fez sair da Rússia para casa de parentes em Chicago. Não conseguindo nunca licença para a emigração dos pais. Nos Estados Unidos, com a sua sensibilidade de artista percebeu no espírito individualista do povo americano a causa da sua prosperidade. E desenvolveu a sua escola filosófica.
No seu início, como imigrante, ela iniciou com Cecil B. DeMille a sua carreira de escritora, em Hollywood, como roteirista de filmes. Com os sucessos dos seus inúmeros textos, Ayn Rand tinha aparição frequente nos programas de entrevistadores da televisão. Os seus temas eram polêmicos como os textos dos seus livros: A Virtude do Egoísmo, Para O Novo Intelectual, A Nascente … e sobretudo o enredo do “A Revolta de Atlas”. Esta uma história sedutora, daquelas que apaixonam o leitor, sobretudo por ser rica em conceitos filosóficos em linguagem muito acessível. São mais de 1200 páginas que dão vontade de ler sem parar.
É nesse livro que se lê uma definição da autora (nota minha: muito adequada ao Brasil ) que é muito citada: “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; ao comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; ao perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
Para o Objetivismo, segundo a formuladora desta corrente filosófica, “a razão é o único meio para perceber a realidade, a única fonte de conhecimento, o único guia de ação e o meio básico de sobrevivência”. O que vinha ao encontro com o ateísmo da Ayn Rand.