Congresso Nacional poderá, ou não, confirmar a decisão majoritária da população brasileira. O governo não tem credibilidade para continuar

Congresso Nacional | Foto: Rodolfo Stuckert
Congresso Nacional | Foto: Rodolfo Stuckert

É golpe? Não, não é. O golpe só existe enquanto falácia. O que há é a reação de uma esmagadora maioria da população contra um governo que se exauriu, perdeu completamente a governabilidade porque nele ninguém mais acredita. Ad­minis­trativamente, o governo já acabou há meses. Politicamente, se mantém apenas como estrutura de poder. Somente isso. Dilma Roussef não governa mais. E nem vai conseguir governar se sobreviver, sabe-se lá como, ao processo de impeachment.

Essa estrutura de poder fez o possível para evitar a instalação do processo de impeachment. Por uma razão muito simples e óbvia: iniciado, é um caminho sem volta. Isso, inclusive, não depende do resultado da votação pelo Congresso. Não. Impeachment é um posicionamento político da população. Ninguém derruba um governo pelo voto de deputados e senadores se o povo for majoritariamente contra. E também é o povo que liquida um governo mesmo quando este é acobertado por conchavos de deputados e senadores.

Há uma guerra pelo poder em Brasília? Há, sim. Os opositores sonham dia e noite com a possibilidade de derrotar o grupo que conquistou o poder. Mas essa oposição só tem força neste momento porque o governo se enfraqueceu internamente ao ponto de se exaurir completamente. A guerra pelo poder começou dentro do próprio governo, entre os comandantes do petismo.
Que se veja a situação do ex-presidente e ainda principal estrela do grupo que está no poder Luiz Inácio Lula da Silva. Há quanto tempo Dilma Roussef e seu governo mequetrefe estão sangrando? Não começou agora, com o início do processo de impeachment. Claro que não. Vem lá do mandato anterior, com medidas econômicas irresponsáveis e mentirosas. Nenhum governo derrete instantaneamente como se tivesse sido bombardeado por artefato nuclear. O derretimento é progressivo.

E onde estava Lula durante esse tempo todo? Não ao lado de Dilma, certamente. O “Sassá Mutema”, salvador da pátria dilmista, só assumiu agora a sua condição de chefe porque a chefe-substituta perdeu a chefia. Antes, o que se ouvia enquanto tititi em Brasília era sobre uma surda disputa pela condição de chefe entre ela e ele. Houve um momento, inclusive, que se falava abertamente sobre a candidatura de Lula à Presidência em 2014 mesmo diante da possibilidade da recandidatura de Dilma Roussef. Eles se estranharam o tempo todo, e só estão abraçados agora porque a canoa está afundando.

Ou seja, não são apenas os opositores que sonham dia e noite com o poder. Lula também, e Dil­ma mais ainda. Talvez por não ter a mínima queda para o jogo político, a presidente meteu os pés pelas mãos logo após as eleições de 2014, quando tentou dividir e controlar um naco do aliado PMDB. Com isso, ela anularia uma permanente arma política de Lula, que era sua grande proximidade com a cúpula do partido. Enfra­que­cendo o PMDB enquanto conjunto, obviamente ela conseguiria enfraquecer também o rival interno.

Se a jogada de Dilma tivesse funcionado, Lula teria que passar por ela para se candidatar em 2018. O jogo entre os dois ficaria equilibrado. O problema é que a presidente adentrou um terreno em que jamais esteve e não conhece perfeitamente. O PMDB reagiu pesadamente, e logo ao alvorecer do novo mandato, diante da mais leve motivação — as medidas recessivas adotadas no início de 2015 — a base do governo começou a ruir. E foi se agravando sem que o “Sassá Mutema” desse as caras no processo. Só agora ele apareceu, e na condição de tutor.

Se Dilma sobreviver ao processo de impeachment, e isso pode acontecer por incrível que pareça, ela será a monarca que abdicou do trono. Será Lula o comandante, e não ela. Isso não significa que haverá um governo. Não, Lula comandará somente a estrutura de poder. Este governo não tem sobrevida. Morreu. Nem ele e nem ninguém desse grupamento político que está no poder consegue somar credibilidade suficiente para ressuscitar o que está morto, e apenas aguardando a hora de ser enterrado. Pode ser que seja agora, com o impeachment. Ou depois, em 2018. Não importa mais. Acabou. A diferença portanto é somente o período de agonia.

Mas o Brasil muda pra melhor se o impeachment for aprovado pelo Congresso Nacional? Muda, sim, mas somente em um pequeno aspecto: a esperança. Isso é muito pouco, obviamente. Os governantes atuais causaram a crise política e a crise econômica. Se eles continuam, é claro que não é possível acreditar que alguma coisa irá mudar nesse cenário. A aprovação do impeachment, na outra ponta, significará que foi constituída ampla maioria no Congresso, porta de acesso ao centro nervoso da crise política. Como uma coisa é que está travando a outra, amenizada a questão política, abre-se a possibilidade de se iniciar a superação da crise econômica.

Sim, o impeachment é a melhor esperança neste momento.