Chefe do Executivo mostra irritação com primeiras informações divulgadas sobre conteúdo de reunião ministerial de 22 de abril

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” O lema de campanha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 2018, João 8:32, acabou por se tornar uma imagem estampada na candidatura do ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro. O curioso é que o mesmo versículo da Bíblia pode ser crucial para verificar a possível enrascada na qual o chefe do Executivo nacional se meteu ao trocar o diretor-geral da Polícia Federal e, na sequência, o superintendente da PF fluminense.
A Polícia Federal exibiu, em sessão sigilosa, a íntegra da fita com a gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril, que agora faz parte do inquérito autorizado pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). A PF investiga as acusações feitas por Sergio Moro contra Bolsonaro no dia 24 de abril, quando deixou o cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública.
Depois do depoimento do ex-juiz da Operação Lava Jato, no sábado, 2, Celso de Mello determinou que o Palácio do Planalto entregasse a fita com a gravação da reunião ministerial citada por Moro no depoimento. O ex-titular da pasta da Justiça e o presidente da República são investigados no inquérito da PF.
Proteger a família
Pelo relato de quem esteve na sessão em que a gravação foi exibida, Bolsonaro teria dado declarações de que o interesse em interferir na PF do Rio e mudar o superintendente, o diretor-geral da Polícia Federal e, se preciso, o ministro da Justiça, tinha relação direta com investigações contra seus familiares.
Coincidência ou não, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou hoje o décimo pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) para suspender a investigação do suposto esquema de rachadinha no gabinete do filho do presidente quando Flávio ainda era deputado estadual pelo Rio. O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é alvo de operação da PF que investiga a fabricação e divulgação de ataques e informações falsas contra ministros do STF.
E Eduardo Bolsonaro é investigado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito no Congresso por ter partido do gabinete do deputado federal do PSL paulista a criação de um perfil nas redes sociais utilizado para atacar adversários. A família Bolsonaro nunca esteve tão em xeque. Ainda mais por se vender como detentora da verdade.
Quem conhecerá a verdade?
O uso do versículo João 8:32 pode depor contra os Bolsonaro na Polícia Federal e no STF? É bem provável, mas não podemos dar como fato consumado. Se o conteúdo da gravação, que faz parte de uma investigação que corre em segredo de Justiça, confirmar a tentativa de interferência na PF do Rio para proteger os filhos, Bolsonaro teria muita dificuldade em barrar um dos pedidos de impeachment contra ele na Câmara.
A dúvida sobre o João 8:32 na boca de Bolsonaro é qual será o preço que o Palácio do Planalto pagará ao Centrão para que a verdade vendida pelo governo prospere no Congresso. Conheceremos a verdade da velha política, que foi negada em discurso na porta do Exército, em Brasília, no dia 19, ou seja, aquela contada por Bolsonaro?
Ou a verdade da reunião ministerial confirmará mais uma suspeita de crime de responsabilidade na conta do presidente, que, até aqui, tem mostrado grande desdém com a coisa pública, com os brasileiros e seus eleitores?
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