A população de Goiânia está envelhecendo mais, e com mais intensidade. De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, a cidade tem 216,5 mil idosos (pessoas com mais de 60 anos). Em um universo de 1,4 milhão de habitantes, essa população representa cerca de 15% dos goianienses. Em 2010, ainda conforme o IBGE, essa porcentagem era de 9% (124,6 mil idosos em uma população de 1,3 milhão). Já o índice de envelhecimento da capital, métrica usada pelo IBGE, é de é de 83,55 – acima da média estadual, de 67,38, e da nacional, de 80,03. o que significa que Goiânia tem 83 idosos com idade acima de 65 anos para cada 100 crianças de 0 a 14 anos.

Por um lado, o aumento da quantidade de goianienses com idade avançada na cidade representa, inegavelmente, uma evolução na qualidade de vida. Vale destacar que, segundo dados de 2010 do Atlas BR, plataforma das Nações Unidas que mede o índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM, medida composta pelos indicadores educação, renda e longevidade e cujo índice varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano) dos municípios brasileiros, Goiânia chegou a se posicionar em 45% lugar no Brasil no quesito qualidade de vida. A capital goiana atingiu um IDHM de 0,799 . No quesito longevidade, especificamente, o índice foi ainda maior: 0,838.

Por outro, fala-se aqui de uma capital que está a anos-luz de ser uma cidade amigável ao idoso. Em termos de acessibilidade, ocupação para a terceira idade, assistência médica e paliativa de qualidade e até a forma com que boa parte da sociedade enxerga o idoso, em quase tudo somos hostis com pessoas de idade avançada. E pela primeira vez, justamente essa pauta parece ter ganhado destaque nas eleições municipais.

Programas específicos para a população idosa de Goiânia foram itens presentes nos planos de governo de ao menos três dos sete nomes que se dispuseram a disputar o Paço Municipal deste ano. O que mais investiu e discorreu sobre o assunto foi Sandro Mabel, do União Brasil. O empresário idealizou cinco projetos voltados exclusivamente, ou parcialmente, para pessoas idosas na capital. Um deles cria o Programa Habitacional “com meta de viabilizar 15.000 lotes e unidades habitacionais em 4 anos, garantindo que pelo menos 5% seja para idosos e 5% para portadores de deficiências”. Já outra proposta especifica a criação do Programa Cuidar Juntos “para ofertar centros diários de cuidado” infantil e de idosos.

Esse último projeto foi batizado informalmente pelo próprio Mabel de “creche para idosos”. “Será um lugar onde as pessoas pegam seus entes queridos, levam pra lá de manhã, vão trabalhar e, quando voltam, buscam eles. E será um lugar com muitas atividades de lazer, físicas, psíquicas. Idoso luta pra não perder a cognição dele. Ele tem que ser estimulado para não perder isso, tem que ter estímulos”, disse, ao Jornal Opção, sobre a proposta.

O projeto gerou críticas de opositores políticos, que alegaram que a criação de uma “creche de idosos” invalidava a ideia (e a realidade) de que, sim, idosos podem ser ativos independente da idade. No entanto, quando nos deparamos com os dados do cotidiano, a proposta torna-se simplesmente prática e realista. A exemplo, uma pesquisa da empresa Ernst & Young e a agência Maturi de 2022, feita em quase 200 empresas no Brasil, mostrou a maioria das companhias tem somente de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro funcional. Ainda conforme o estudo, 78% das empresas consideram-se etaristas e têm barreiras para contratar trabalhadores nessa faixa de idade.

É válido que uma das faixas da população que mais carecem atenção finalmente esteja ganhando uma certa atenção do Poder Público e daqueles que tencionam ingressar nele. A consciência de que a velhice chega para todos os que estão vivos, sem exceção, parece finalmente ter vindo à tona. Contudo, a concepção do que precisa, e quer, um idoso em pleno 2024 precisa urgentemente ser atualizada – e não por parte de político A ou B, mas por parte de toda uma geração ainda considerada “ativa”.