Eleição em Goiânia passa pelo divã

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PMDB/PT tem relação desgastada, mas o rompimento não é simples. Já a base aliada é, desde 1996, um “balaio de gatos”
Está aí um enorme problema para o PMDB em Goiânia nas eleições do ano que vem: romper ou não romper com a administração do PT de Paulo Garcia. Boca miúda, o que se ouve aqui e ali, e de forma muitíssimo sigilosa, é que enfrentar a guerra eleitoral de 2016 defendendo o governo de Paulo Garcia vai ser um negócio muitíssimo complicado. Então, o melhor seria romper e navegar livremente como oposição durante a campanha. No papel muito mais confortável do “contra tudo o que aí está”.
Os deputados do PMDB não acreditam que o prefeito Paulo Garcia vai conseguir se recuperar ao ponto de se tornar uma referência positiva na eleição, que some votos. No máximo, ele vai se livrar da pecha atual, de administração confusa, cheia de problemas e sem soluções para as questões do dia a dia, como os serviços de recolhimento de lixo e tapa-buracos. Ou seja, os peemedebistas mais otimistas acham que Paulo vai terminar o governo bem melhor do que está, mas sem força eleitoral suficiente para se tornar influente na sucessão dele.
Mas um rompimento com Paulo não é algo assim tão simples. Se o melhor nome do PMDB topar disputar novamente, Iris Rezende, um rompimento teria que ser duramente explicado, principalmente porque o prefeito jamais cometeu qualquer ato de deslealdade para com o ex-prefeito. Então, como romper sem gerar uma imagem negativa, de traidor. Além disso, e pessoalmente, Iris nunca demonstrou qualquer disposição contra Paulo Garcia. Ao contrário, são amigos e confidentes.
Resta saber, então, se Iris será ou não candidato novamente. Ninguém sabe. Talvez nem ele próprio tenha se definido. Há quem garanta que sim, que Iris vai mesmo para a disputa goianiense de novo. Como o deputado José Nelto, hoje uma das vozes influentes no partido. E a verdade é quem sem Iris Rezende, o PMDB, e o governo todo no âmbito municipal, não tem mais ninguém que se destaque. Iris, mais uma vez, é a única peça do jogo que pode fazer diferença num plantel de “japoneses”.
E aí que se percebe a dimensão da encrenca que o PMDB terá que resolver daqui até junho do ano que vem. Com Iris, a campanha terá que dedicar boa parte de seu tempo para defender a administração de Paulo Garcia, de quem foi antecessor. Sem ele, o PMDB poderá até romper e buscar voo próprio, mas não vai poder contar nem mesmo com a máquina administrativa a seu favor. Sem falar na segunda parte do problema, que é não contar com ninguém realmente competitivo para disputar a Prefeitura da capital.
Tudo isso mostra um conjunto de fatores ruins, que precisam ser solucionados, um a um, pelo maior partido de oposição ao grupo de Marconi Perillo. A grande vantagem é que as coisas não estão nada agradáveis dentro da base aliada estadual. O ideal seria encaminhar logo um nome para ser trabalhado ao longo do tempo até que se torne realmente competitivo. Mas a base é quase sempre um balaio de gatos na eleição goianiense. Pra se ter uma melhor ideia do que é isso, basta lembrar que jamais, desde 1996, a base aliada marchou unida nas eleições de Goiânia, e também jamais venceu eleições desde 1996. Uma coisa está atrelada à outra.
Esse fator, o eterno não entendimento dentro da base aliada estadual, que teoricamente, unida, é muito mais numerosa e poderosa não só no Estado, mas também em Goiânia, tem sido a tábua de salvação dos grupos oposicionistas. Em 2000, o PT venceu, com Pedro Wilson. Em 2004, deu PMDB com Iris Rezende. Em 2008, PMDB/PT, com Iris e Paulo. Em 2012, PT/PMDB, com Paulo e Agenor Mariano. E pelo toque de bola inicial dentro da base aliada para 2016, pode salvar a rapadura oposicionista mais uma vez. Os times nem entraram em campo e já está um balaio de gatos novamente.
Vide o caso de Jayme Rincón. Durante todos estes anos, ele foi o único que chamou para si a responsabilidade de defender incansavelmente o governo e o governador Marconi Perillo, além de atacar também de forma sistemática o grupamento inimigo. Pois bastou dizer que pretendia trabalhar sua candidatura a prefeito que meio mundo desabou sobre a cabeça dele.
E a pancadaria não veio da trincheira adversária, mas da trincheira que ao longo destes anos pouco fez para agredir o lado contrário. Quantas vezes se ouviu, além da voz de Rincón, um outro líder de grupo da base aliada fustigar Paulo Garcia ou Iris Rezende? Ou atacar qualquer outro líder oposicionista? Pois é, mas bastou Rincón dizer que estava arregaçando as mangas da camisa para trabalhar a sua candidatura que uma turma saiu da toca.
Rincón é o melhor candidato? Hoje, sem dúvida, não. Ninguém é. Principalmente se do lado de lá, no PMDB, estiver ninguém menos que Iris Rezende. O “velho” é fera, e perto dele só Marconi não vira caititu. E como em Goiânia, desde 1996, repita-se, são todos caititus sem bando, a fera pastoreia nas eleições.
Em resumo, o PMDB tem enormes dramas pela frente, mas a base aliada também precisa procurar um divã.