PCdoB, PDT, PSB, Psol e PT têm sete dias até o final do prazo das convenções para se entender e poder duelar em pé de igualdade com PSDB, DEM, PP, PR, PRB e SD

Se quiserem ter força, partidos de Lula da Silva, Manuela D’Ávila, Ciro Gomes e Guilherme Boulos precisam se unir no primeiro turno | Fotos: Ricardo Stuckert, Marcelo Camargo/Agência Brasil e Rovena Rosa/Agência Brasil

Na reta final das convenções que definirão o futuro dos partidos que ainda não confirmaram seus pré-candidatos, e até aqueles que já anunciaram seus nomes oficialmente, grande parte das legendas de esquerda se reunirá para tentar pela última vez discutir uma possível união de forças na corrida presidencial. O grande fato político que preocupa PT, PSB, PDT, PCdoB e Psol é a conquista de Geraldo Alckmin (PSDB), ex-governador de São Paulo, que conseguiu atrair os partidos do centrão.

Na quinta-feira, 26, mesmo com a negativa de Josué Alencar (PR) em aceitar a vice na chapa do tucano, DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade confirmaram que a decisão da semana anterior será mantida e as cinco siglas estarão com Alckmin. Do outro lado, na tentativa de contrapor a aliança do centrão com o PSDB na corrida presidencial, os partidos de esquerda querem mostrar uma alternativa à coligação fisiológica do ex-governador de São Paulo.

A alternativa é retomar as abandonadas negociações para que as quatro pré-candidaturas se tornem apenas uma com apoio de ao menos quatro dos cinco partidos envolvidos na conversa.

O ideal seria que as postulações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e do presidente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (Psol), além do PSB do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa – primeiro a desistir da disputa presidencial -, conseguissem deixar as diferenças de lado e ganhassem força como um bloco único nas urnas.

A formação da chapa tratada como necessária por parte dos eleitores desses políticos e partidos seria a que tivesse, no caso de confirmada a provável inelegibilidade de Lula, Ciro para presidente e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), na vice.

O primeiro entrave a essa aliança vem do PSB, que tende a ficar neutro ou, no máximo, apoiar as pretensões de Ciro Gomes, sem qualquer acordo que envolva o PT. Manuela D’Ávila é o menor dos problemas do grupo, pois ela estaria disposta a abrir mão da pré-candidatura para favorecer uma aliança benéfica à esquerda. Seu partido, o PCdoB, tem interesse em colocar a deputada na vice do pré-candidato do PT, seja ele Lula ou outro nome, e poderia até topar abrir mão do protagonismo caso os cinco partidos se entendam e caminhem juntos.

Aliás, é o PCdoB o maior defensor da união eleitoral do partido com PT, PDT, PSB e Psol. Boulos, que tenta se colocar na pré-campanha como herdeiro político de Lula, inclusive pelo perfil de ascensão política parecido com o do ex-presidente na liderança sindical que exerce, já foi confirmado pelo Psol como candidato.

Mas tudo mudaria se a legenda aceitasse se aliar a PT e PDT, o que parece bem complicado. Parte dos fundadores da sigla prefere manter as ideias originárias do Psol, que foi criado como uma dissidência do que teria se tornado o Partido dos Trabalhadores.

Depois que o magistrado desistiu da pré-candidatura a presidente da República, o PSB não apresentou outro nome para substituir o ex-membro do STF. Houve uma tentativa de negociar com Marina Silva (Rede), até para ver quem topava ser vice de quem. Depois, a tratativa, de forma bem tímida, envolveu a retomada da postulação por Barbosa, que não topou.

Ciro Gomes dá sinais que de pretende voltar a atrair setores da esquerda depois que viu suas negociações com o centrão, principalmente DEM e PP, serem descartadas com o anúncio de apoio do bloco a Geraldo Alckmin. Restou a Ciro retomar a agenda de centro-esquerda e flertar com Lula, Manuela e os eleitores do lado oposto aos predispostos a optar pela centro-direita ou direita no dia 7 de outubro.

O maior problema da tentativa de retomada das conversações entre PT, PDT, PCdoB, Psol e PSB nesta semana poderá ser a insistência de protagonismo do Partido dos Trabalhadores. Mesmo que Lula não possa ser candidato, dificilmente o PT deixará de lançar Haddad ou o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, no lugar do ex-presidente.

Por mais que ter uma mulher na chapa tenha se mostrado ponto importante nesta eleição, tanto Manuela quanto o PCdoB não tentarão atrapalhar uma possível reunião do PT com o ex-ministro dos governos petistas Ciro Gomes. Mesmo que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) esteja logo atrás de Lula nas intenções de voto em todas as pesquisas, a dificuldade do capitão reformado do Exército em formar alianças, até mesmo dentro de seu partido, daria espaço para que uma improvável coligação entre os quatro ou cinco partidos citados da esquerda ganhasse força e tivesse chance de disputar o segundo turno com Alckmin e o centrão.

Se isso viesse a ocorrer, a força da união de PT, PCdoB, Psol e PDT juntos seria a aliança mais lucrativa para as quatro legendas, e aos olhos do eleitor que pretende votar, na tentativa de derrotar o chapão do fisiologismo. Nada garante que a tática daria certo, mas evitaria a cisão que hoje atrapalha as pretensões dos cinco partidos em liderar as ações do governo federal a partir de janeiro de 2019.

Mas como milagre não existe, nem para resolver a falta de entendimento da esquerda quanto para encerrar as brigas internas no PSL, o mais provável é que tenhamos uma disputa entre Alckmin com o apoio do centrão, que tenta ganhar o espaço conquistado por Bolsonaro, contra as candidaturas separadas de PT, PDT e Psol. A tendência é que, mesmo sem o acordo das cinco legendas que se reunirão nesta semana, o PCdoB opte pela vice de Lula ou se una a Ciro, o menos provável dos cenários.