Quem descobriu a América? Se você concluiu o ensino médio até a década de 2000, provavelmente respondeu que foi Cristóvão Colombo, navegante genovês que em 1492 comandou três embarcações financiadas pela Espanha até uma ilha que hoje pertence às Bahamas. Se você deixou a escola recentemente, talvez tenha argumentado que o termo “descobriu” não é adequado, pois humanos já vivem no continente há 12 mil anos. Entretanto, os estudantes de hoje podem aprender um fato localizado entre os dois eventos no tempo e que é ignorado pela maioria dos brasileiros.

Há mais de 60 anos os arqueólogos têm indícios de que os primeiros europeus a ancorar na América foram os vikings, liderados por Leif Eriksson. O explorador islandês comandou uma expedição com 35 homens, no final do século X, e chegou à região de Terra Nova (Newfoundland), atual Canadá. Mas os nórdicos, diferentemente dos espanhóis e nativo americanos, não tiveram sucesso na tentativa de estabelecer um assentamento permanente na América. Recentemente, foram encontradas evidências robustas que reforçam o pioneirismo dos vikings entre os europeus, e que fornecem inclusive uma data: o ano 1021 da era comum, exatamente um milênio atrás!

Cientistas já conheciam o local onde os vikings construíram seu assentamento: um vilarejo litorâneo em Terra Nova conhecido como L’Anse aux Meadows. O sítio arqueológico foi descoberto em 1960 e nele arqueólogos encontraram os restos de edifícios em estilo nórdico, um alfinete de bronze, pregos de ferro e madeira cortada por machados de metal (os índios norte americanos nunca desenvolveram a metalurgia para forjar o ferro). Os artefatos foram datados com radiocarbono.

A técnica da datação com radiocarbono mede a decomposição do isótopo radioativo carbono-14 em material orgânico, fornecendo datas possíveis em uma janela de algumas centenas de anos. Os exames dos artefatos encontrados em L’Anse aux Meadows apontaram para um ponto na história entre 793 e 1066 da era comum — o que não ajudou muito os historiadores que procuram uma linha do tempo precisa da chegada dos vikings na América do Norte.

Novo estudo determina ano com exatidão

Você já pode ter ouvido falar que é possível determinar a idade de uma árvore observando anéis de crescimento em seu tronco cortado. Os anéis de crescimento são círculos visíveis no tronco de plantas vasculares, formados quando a quantidade de recursos e energia disponível aumenta, geralmente na primavera e verão. Em regiões onde as estações do ano são bem definidas, a alteração na atividade da planta com mais formação de xilema secundário forma um contraste que corresponde ao maior crescimento em diâmetro da planta. 

Círculos concêntricos no tronco indicam a vida da árvore através dos anos | Foto: Reprodução/EBC

Os pesquisadores já sabiam que no ano 993 da era comum, a terra foi atingida por uma tempestade de radiação cósmica (provavelmente causada por erupções solares). Como as plantas utilizam a radiação solar para realizar a fotossíntese, as  árvores que estavam vivas no ano 993 possuem traços da atividade elevada. A ideia foi procurar um anel de crescimento nas árvores cortadas de L’Anse com conteúdo de carbono-14 mais alto do que o normal, que corresponde ao ano com flutuação aguda de energia, e contar a partir daí os anos que se decorreram até o corte da árvore pelos Vikings. 

Trabalhando com três pedaços de madeira com bordas reconhecíveis, pesquisadores liderados pelo cientista de radiocarbono Michael Dee, da Universidade de Groningen, dataram por radiocarbono os anéis em cada peça. Os cientistas encontraram o pico revelador no carbono-14 em todas as três peças no 29º anel de crescimento contado a partir da borda. Isso significa que que as árvores pararam de crescer 28 anos após a explosão solar do ano 993, o que corresponde ao ano de 1021 da era comum – exatos mil anos atrás!

Os pesquisadores publicaram seus achados na revista Nature nesta quarta-feira, 20 de outubro. Michael Dee fez a ressalva no trabalho publicado: “Claro, isso apenas confirma que os vikings estavam presentes na América do Norte naquele ano, e é possível que eles tenham chegado ainda mais cedo”.

Estátua do explorador viking Leif Eriksson em Reykjavik, capital da Islândia, seu país natal | Foto: Reprodução/Wikicommons