Cientistas do Reino Unido descobriram que altas doses de um adoçante artificial comum, a sucralose, podem interferir na resposta do sistema imunológico. Embora isso pareça em princípio ser algo negativo, na verdade pode ser um caminho para novos tratamentos de doenças autoimunes, afirmam os pesquisadores responsáveis pelo estudo publicado na revista científica Nature.

Amplamente utilizada em bebidas e alimentos e com poder adoçante até 600 vezes maior que o açúcar tradicional, a sucralose têm demonstrado, nos experimentos, que pode afetar o microbioma e alterar a resposta do corpo à glicose, aspectos negativos da substância em excesso.

Recentemente, os cientistas britânicos decidiram testar o impacto do adoçante no sistema imunológico, algo até então pouco conhecido. Para isso, eles alimentaram camundongos com quantidades diferentes de sucralose entre as consideradas aceitáveis pelas autoridades de saúde dos EUA e da Europa – de 5 mg/kg e 15 mg/kg, respectivamente.

Os responsáveis pelo trabalho destacam que essa é uma ingestão diária do adoçante considerada alta e que dificilmente é alcançada pela população no dia a dia, embora seja possível. Após um período de cerca de 10 semanas, os pesquisadores observaram que a dieta entre os animais com doses mais altas de sucralose levou a uma diminuição na capacidade de ativar as células de defesa T CD8, que fazem parte do sistema imunológico, durante a resposta a um câncer ou a uma infecção.

Analisando os achados com mais profundidade, observaram que isso aconteceu devido a um impacto na liberação de cálcio dentro das células T pelas doses altas de sucralose, o que afetou sua funcionalidade.

Potencial para doenças autoimunes
Os cientistas ressaltam que o trabalho não deve provocar um alerta entre os consumidores da sucralose, uma vez que o impacto foi observado por enquanto em animais e com quantidades muito elevadas de consumo, que não são habituais entre pessoas.

“As doses que usamos em camundongos seriam muito difíceis de atingir sem intervenção médica”, explica um dos autores do estudo e estudante de pós-doutorado na Francis Crick, Fabio Zani, em comunicado.

Neil Mabbott, professor de Imunopatologia no Instituto Roslin, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, que não participou do trabalho, lembra ainda que “de forma tranquilizadora, o estudo sugeriu que esses efeitos podem ser reversíveis, pois os efeitos negativos nas respostas das células T começaram a se recuperar quando o tratamento com sucralose foi interrompido”.

Portanto, os pesquisadores encaram os achados como algo positivo, pois avaliam que esse efeito no sistema imunológico, embora indesejável para a população geral, “pode ser usado na terapia para mitigar distúrbios autoimunes”, como escrevem no estudo.