Estudo da USP identifica caso de sífilis mais antigo do mundo no Brasil
22 abril 2023 às 13h51
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Um estudo realizado por uma equipe multidisciplinar da Universidade de São Paulo (USP) encontrou sinais do caso mais antigo de sífilis do mundo no Brasil. A partir da análise de ossos e dentes do período Holocene, foi possível determinar um caso ocorrido há pelo menos 9,4 mil anos. Os resultados foram publicados no International Journal of Osteoarchaeology.
“É o caso mais antigo de sífilis encontrado no Homo sapiens em todo o mundo. Nós o identificamos em ossos e dentes de uma criança, de aproximadamente 4 anos de idade, que viveu na Lapa do Santo, região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, há, no mínimo, 9,4 mil anos. As alterações ósseas e dentárias observadas são típicas da sífilis congênita, uma das manifestações clínicas da sífilis venérea”, declarou Rodrigo Elias Oliveira, pesquisador do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e primeiro autor do artigo, em entrevista à Agência Fapesp.
A análise foi feita em indíviduos que apresentavam um número de cáries excessivo, em relação a populações observadas do mesmo período. “Os dentes da criança do sepultamento 20 chamaram minha atenção pela quantidade excessiva de cáries, muito acima da média da população da Lapa do Santo. Quando me deparei com isso, eu disse ao Walter Neves e ao Pedro da Glória, que conduziam os trabalhos na área, que devia ter acontecido alguma coisa além da simples doença de cárie nessa criança”, explicou.
A conversa aconteceu em 2016 e, desde então, o caso passou a investigado mais a fundo. Além das cáries, também foram verificadas alterações importantes no crânio, como a ausência dos ossos nasais e lesões nas faces externas e internas de ossos da calota craniana. As anomalias podiam ser observadas a olho nu, mas foram foram confirmadas por radiografias e tomografias. “Juntando todas as peças do quebra-cabeça, cheguei ao diagnóstico de sífilis congênita. Então, fui buscar na literatura estudos que pudessem confirmar ou desmentir minha hipótese”, relata o pesquisador.
Ao todo, foram pelo menos quatro anos trabalhando no caso, até conseguir publicar um artigo consistente. O trabalho contou com apoio da Fapesp, por meio de Auxílio a Jovens Pesquisadores concedido a André Strauss, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP) que também assina o texto. O artigo An Early Holocene case of congenital syphilis in South America pode ser acessado online.