O rover de pesquisa da Nasa chamado Curiosity registrou em 25 de novembro 12h de imagens contínuas que mostram o passar de um dia em Marte. O robô está no quarto planeta de nosso sistema solar desde a madruga de 6 de agosto de 2012, e completa hoje seu 4.002º dia marciano no planeta vermelho. O destaque das imagens, que foram divulgadas recentemente pela Agência Espacial Americana Nasa, é o vale do Monte Sharp, que fica na cratera Gale, onde podemos assistir ao deslocamento da sombra à medida que o céu brilha durante o nascer do Sol.

Durante os períodos de conjuração solar de Marte, período em que o Sol fica entre a Terra e Marte, os rovers recebem e enviam menos sinais de volta para a base. Isso ocorre porque o plasma do Sol pode interferir nas comunicações de rádios. Ao longo de cerca de duas semanas, o Curiosity utiliza as câmeras de presenção de perigo, filmadas em preto e branco, chamadas de Hazcams. Durante esse período “trabalhando sozinha”, a máquina ainda manda relatórios de saúde.

O rover Curiosity pousou no sopé de uma montanha em camadas dentro desta enorme cratera | Foto: Reprodução/Nasa

A equipe de cientistas aproveitaram a redução das atividades e decidiram utilizar câmeras para gravar 12 horas ininterruptas “na esperança de capturar núvens ou redemoinhos que pudessem revelar mais sobre o clima do Planeta Vermelho”.

As informações coletadas pelo Curiosity são transmitidas para a Terra por meio de dois satélites na órbita marciana, o Odyssey e o Mars Reconnaissance Orbiter. Ele então envia os dados para dois satélites, que retransmitem sinais do Curiosity à Terra. Com os dados prontos para serem retransmitidos, o satélite seleciona a taxa de transferência para a base, que pode chegar a até 6 megabits por segundo. A partir daí, as informações viajam 225 milhões de quilômetros e levam 14 minutos, em média, para realizarem o percurso.

Depois de pousar em Marte, sonda tirou uma selfie | Foto: Reprodução/Nasa

Time lapse

Estendendo-se das 5h30 às 17h30, horário local, os vídeos mostram a silhueta do Curiosity mudando à medida que o dia passa da manhã para a tarde e para a noite. O primeiro vídeo, com imagens da frente Hazcam, olha para o sudeste ao longo de Gediz Vallis, um vale encontrado no Monte Sharp. O Curiosity escala a base da montanha de 5 quilômetros de altura, na cratera Gale, desde 2014.

À medida que o céu brilha durante o nascer do sol, a sombra do braço robótico de 7 pés (2 metros) do rover se move para a esquerda, e as rodas dianteiras do Curiosity emergem da escuridão em ambos os lados do quadro.

Também é possível ver um ‘alvo de calibração circular’ montado no ombro do braço robótico. Essa é uma das ferramentas mais importantes da sonda, sendo utilizada para testar precisão do espectrômetro de raio-x de partículas alfas, formadas por 2 prótons e 2 nêutrons. Quando ele é colocado ao lado de uma rocha ou superfície do solo, ele usa dois tipos de radiação para medir as quantidades e tipos de elementos químicos que estão presentes.

Funciona assim: Quando raios X e partículas alfa interagem com átomos no material da superfície, eles derrubam elétrons de suas órbitas, produzindo uma liberação de energia emitindo raios-X que podem ser medidos com detectores. As energias dos raios X permitem que os cientistas identifiquem todos os elementos importantes formadores de rochas, desde sódio até elementos mais pesados.

APXS é a abreviação (em inglês) da ferramenta vista no vídeo | Foto: Reprodução/Nasa

Ao meio dia, o algoritmo da câmera frontal começa a fazer alguns ajustes na exposição para evitar que a foto fique ‘estourada’. O inverso desse processo é feito durante o cair da noite, o que provoca ‘ruído granulado’ nas imagens.

Traseira

O segundo vídeo mostra a visão do Hazcam traseiro enquanto olha para noroeste pelas encostas do Monte Sharp até o chão da cratera Gale. As imagens da camêra traseira são mais ‘granuladas’ devido ao acúmulo de 11 anos da poeira marciana se instalando nas lentes.

A roda traseira direita do rover é visível, juntamente com a sombra do sistema de energia do Curiosity

Uma pequena mancha preta que aparece no meio do vídeo à esquerda, é resultado de um raio cósmico que atingiu o sensor da câmera. Da mesma forma, o piscar brilhante e outros ruídos no final do vídeo são o resultado do calor do sistema de energia da espaçonave que afeta o sensor de imagem.

Condições adequadas para a vida e água

Com quatro objetivos em foco — determinar se alguma vez surgiu vida em Marte, caracterizar o clima e a geologia do planeta e preparar uma missão de exploração humana —, as missões já alcançaram resultados tão surpreendentes quanto desanimadiores. Até agora, nenhuma evidência do surgimento de vida foi encontrado, mas o planeta vermelho reserva condições adequadas para ela emergir. Um esperado contato com os extra-terrestres, também não veio.

O Curiosity encontrou evidências de sedimentos antigos transportados por água em Marte em alguns locais, incluindo o afloramento rochoso retratado aqui, chamado “Hottah”. Pode parecer uma calçada quebrada, mas essa característica geológica em Marte é, na verdade, rocha exposta composta por fragmentos menores cimentados juntos, ou o que os geólogos chamam de conglomerado sedimentar. Os cientistas teorizam que o leito rochoso foi rompido no passado, dando-lhe o ângulo inclinado, provavelmente por meio de impactos de meteoritos.

Moleculas celulares são os blocos de construção da vida, e foram descobertas em Marte após uma longa pesquisa pelo instrumento Sample Analysis at Mars (SAM) em várias amostras perfuradas do Monte Sharp e das planícies circundantes. A descoberta não significa necessariamente que há vida passada ou presente em Marte, mas mostra que os ingredientes brutos existiram para que a vida começasse lá ao mesmo tempo. Isso também significa que materiais orgânicos antigos podem ser preservados para que possamos reconhecer e estudar hoje.

Para abrigar a vida, o planeta deveria ter enxofre, nitrogênio, oxigênio, fósforo e carbono. Todos os ‘ingrediente’ foram encontardos pela sonda. Os dados coletados em uma rocha que estava num antigo sistema fluvia indicam que Marte poderia ter fornecido energia química e outras condições favoráveis para micróbios

Risco para a saúde humana

Durante as primeiras leituras da radiação na superfície o rover identificou raios cósmicos de fora do nosso sistema solar e partículas energéticas do Sol que bombardearam a superfície da cratera Gale com uma média de 0,67 milisieverts por dia.

Estudos populacionais de longo prazo mostraram que a exposição à radiação aumenta o risco de câncer ao longo da vida de uma pessoa. A exposição a uma dose de 1.000 milisieverts está associada a um aumento de 5% no risco de desenvolver câncer fatal. O limite atual da Nasa para aumentar o risco para seus astronautas que operam atualmente na órbita baixa da Terra é de 3%

Missão e os rovers

O objetivo do Programa de Exploração de Marte, lançado em 1994, é explorar o planeta vermelho e fornecer um fluxo contínuo de informações e descobertas científicas por meio de uma série cuidadosamente selecionada de orbitadores robóticos, landers e laboratórios móveis interconectados por uma rede de comunicações Marte/Terra de alta largura de banda.

O Mars Science Laboratory chegou a Marte através de inovações tecnológicas que testaram um método de pouso completamente novo. A espaçonave desceu de paraquedas e, durante os segundos finais antes do pouso, o sistema de pouso disparou foguetes para permitir que ela pairasse enquanto uma corda baixava o Curiosity para a superfície. O rover pousou em suas rodas, a corda foi cortada e o sistema de pouso voou para pousar a uma distância segura.

O Curiosity explora a cratera Gale e adquire amostras de rocha, solo e ar para análise a bordo. Devido a seu tamanho, ele carrega um kit avançado de 10 instrumentos científicos. Ele tem ferramentas, incluindo 17 câmeras, um laser para vaporizar e estudar pequenos pontos de rochas à distância e uma broca para coletar amostras de rochas em pó.

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