Como é um dia em Marte: sonda da Nasa grava 12h na cratera de Gale
01 janeiro 2024 às 18h31
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O rover de pesquisa da Nasa chamado Curiosity registrou em 25 de novembro 12h de imagens contínuas que mostram o passar de um dia em Marte. O robô está no quarto planeta de nosso sistema solar desde a madruga de 6 de agosto de 2012, e completa hoje seu 4.002º dia marciano no planeta vermelho. O destaque das imagens, que foram divulgadas recentemente pela Agência Espacial Americana Nasa, é o vale do Monte Sharp, que fica na cratera Gale, onde podemos assistir ao deslocamento da sombra à medida que o céu brilha durante o nascer do Sol.
Durante os períodos de conjuração solar de Marte, período em que o Sol fica entre a Terra e Marte, os rovers recebem e enviam menos sinais de volta para a base. Isso ocorre porque o plasma do Sol pode interferir nas comunicações de rádios. Ao longo de cerca de duas semanas, o Curiosity utiliza as câmeras de presenção de perigo, filmadas em preto e branco, chamadas de Hazcams. Durante esse período “trabalhando sozinha”, a máquina ainda manda relatórios de saúde.
A equipe de cientistas aproveitaram a redução das atividades e decidiram utilizar câmeras para gravar 12 horas ininterruptas “na esperança de capturar núvens ou redemoinhos que pudessem revelar mais sobre o clima do Planeta Vermelho”.
As informações coletadas pelo Curiosity são transmitidas para a Terra por meio de dois satélites na órbita marciana, o Odyssey e o Mars Reconnaissance Orbiter. Ele então envia os dados para dois satélites, que retransmitem sinais do Curiosity à Terra. Com os dados prontos para serem retransmitidos, o satélite seleciona a taxa de transferência para a base, que pode chegar a até 6 megabits por segundo. A partir daí, as informações viajam 225 milhões de quilômetros e levam 14 minutos, em média, para realizarem o percurso.
Time lapse
Estendendo-se das 5h30 às 17h30, horário local, os vídeos mostram a silhueta do Curiosity mudando à medida que o dia passa da manhã para a tarde e para a noite. O primeiro vídeo, com imagens da frente Hazcam, olha para o sudeste ao longo de Gediz Vallis, um vale encontrado no Monte Sharp. O Curiosity escala a base da montanha de 5 quilômetros de altura, na cratera Gale, desde 2014.
À medida que o céu brilha durante o nascer do sol, a sombra do braço robótico de 7 pés (2 metros) do rover se move para a esquerda, e as rodas dianteiras do Curiosity emergem da escuridão em ambos os lados do quadro.
Também é possível ver um ‘alvo de calibração circular’ montado no ombro do braço robótico. Essa é uma das ferramentas mais importantes da sonda, sendo utilizada para testar precisão do espectrômetro de raio-x de partículas alfas, formadas por 2 prótons e 2 nêutrons. Quando ele é colocado ao lado de uma rocha ou superfície do solo, ele usa dois tipos de radiação para medir as quantidades e tipos de elementos químicos que estão presentes.
Funciona assim: Quando raios X e partículas alfa interagem com átomos no material da superfície, eles derrubam elétrons de suas órbitas, produzindo uma liberação de energia emitindo raios-X que podem ser medidos com detectores. As energias dos raios X permitem que os cientistas identifiquem todos os elementos importantes formadores de rochas, desde sódio até elementos mais pesados.
Ao meio dia, o algoritmo da câmera frontal começa a fazer alguns ajustes na exposição para evitar que a foto fique ‘estourada’. O inverso desse processo é feito durante o cair da noite, o que provoca ‘ruído granulado’ nas imagens.
Traseira
O segundo vídeo mostra a visão do Hazcam traseiro enquanto olha para noroeste pelas encostas do Monte Sharp até o chão da cratera Gale. As imagens da camêra traseira são mais ‘granuladas’ devido ao acúmulo de 11 anos da poeira marciana se instalando nas lentes.
Uma pequena mancha preta que aparece no meio do vídeo à esquerda, é resultado de um raio cósmico que atingiu o sensor da câmera. Da mesma forma, o piscar brilhante e outros ruídos no final do vídeo são o resultado do calor do sistema de energia da espaçonave que afeta o sensor de imagem.
Condições adequadas para a vida e água
Com quatro objetivos em foco — determinar se alguma vez surgiu vida em Marte, caracterizar o clima e a geologia do planeta e preparar uma missão de exploração humana —, as missões já alcançaram resultados tão surpreendentes quanto desanimadiores. Até agora, nenhuma evidência do surgimento de vida foi encontrado, mas o planeta vermelho reserva condições adequadas para ela emergir. Um esperado contato com os extra-terrestres, também não veio.
O Curiosity encontrou evidências de sedimentos antigos transportados por água em Marte em alguns locais, incluindo o afloramento rochoso retratado aqui, chamado “Hottah”. Pode parecer uma calçada quebrada, mas essa característica geológica em Marte é, na verdade, rocha exposta composta por fragmentos menores cimentados juntos, ou o que os geólogos chamam de conglomerado sedimentar. Os cientistas teorizam que o leito rochoso foi rompido no passado, dando-lhe o ângulo inclinado, provavelmente por meio de impactos de meteoritos.
Moleculas celulares são os blocos de construção da vida, e foram descobertas em Marte após uma longa pesquisa pelo instrumento Sample Analysis at Mars (SAM) em várias amostras perfuradas do Monte Sharp e das planícies circundantes. A descoberta não significa necessariamente que há vida passada ou presente em Marte, mas mostra que os ingredientes brutos existiram para que a vida começasse lá ao mesmo tempo. Isso também significa que materiais orgânicos antigos podem ser preservados para que possamos reconhecer e estudar hoje.
Para abrigar a vida, o planeta deveria ter enxofre, nitrogênio, oxigênio, fósforo e carbono. Todos os ‘ingrediente’ foram encontardos pela sonda. Os dados coletados em uma rocha que estava num antigo sistema fluvia indicam que Marte poderia ter fornecido energia química e outras condições favoráveis para micróbios
Risco para a saúde humana
Durante as primeiras leituras da radiação na superfície o rover identificou raios cósmicos de fora do nosso sistema solar e partículas energéticas do Sol que bombardearam a superfície da cratera Gale com uma média de 0,67 milisieverts por dia.
Estudos populacionais de longo prazo mostraram que a exposição à radiação aumenta o risco de câncer ao longo da vida de uma pessoa. A exposição a uma dose de 1.000 milisieverts está associada a um aumento de 5% no risco de desenvolver câncer fatal. O limite atual da Nasa para aumentar o risco para seus astronautas que operam atualmente na órbita baixa da Terra é de 3%
Missão e os rovers
O objetivo do Programa de Exploração de Marte, lançado em 1994, é explorar o planeta vermelho e fornecer um fluxo contínuo de informações e descobertas científicas por meio de uma série cuidadosamente selecionada de orbitadores robóticos, landers e laboratórios móveis interconectados por uma rede de comunicações Marte/Terra de alta largura de banda.
O Mars Science Laboratory chegou a Marte através de inovações tecnológicas que testaram um método de pouso completamente novo. A espaçonave desceu de paraquedas e, durante os segundos finais antes do pouso, o sistema de pouso disparou foguetes para permitir que ela pairasse enquanto uma corda baixava o Curiosity para a superfície. O rover pousou em suas rodas, a corda foi cortada e o sistema de pouso voou para pousar a uma distância segura.
O Curiosity explora a cratera Gale e adquire amostras de rocha, solo e ar para análise a bordo. Devido a seu tamanho, ele carrega um kit avançado de 10 instrumentos científicos. Ele tem ferramentas, incluindo 17 câmeras, um laser para vaporizar e estudar pequenos pontos de rochas à distância e uma broca para coletar amostras de rochas em pó.
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