Uma denúncia devastadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), revela os métodos brutais de tortura empregados pelo Comando Vermelho (CV) para punir aliados e moradores em comunidades dominadas pela facção. O documento, que embasou a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, expõe cenas de violência extrema, humilhação e crueldade, praticadas por integrantes do alto escalão do tráfico.

O relatório aponta Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, conhecido como BMW, como um dos principais articuladores dos chamados “tribunais do tráfico”. Com autonomia para ordenar punições e execuções, BMW é descrito como gerente do tráfico na Gardênia Azul e líder da Equipe Sombra, grupo de matadores da facção. Segundo o MPRJ, ele “goza de prestígio e atua em alta posição hierárquica dentro do Comando Vermelho”.

Entre os episódios descritos, está o de uma mulher submersa em uma banheira de gelo, com apenas a cabeça para fora. A imagem, anexada à denúncia, traz uma legenda que a identifica como “brigona que gosta de arrumar confusão no baile”, justificando a punição como “melhor forma” de correção, já que “não quer bater em morador”.

Outro caso chocante mostra um homem amordaçado e algemado sendo arrastado por um carro, enquanto implora por perdão. O vídeo, segundo o MP, registra o momento em que BMW debocha da vítima e só interrompe a tortura ao perceber que o homem pode ter desmaiado: “Ih, apagou”, diz ele.

Em uma chamada de vídeo, BMW mostra o homem arrastado a Carlos Costa Neves, o Gadernal, exigindo que a vítima se justifique diante do chefe. Para o MP, isso comprova a participação de Gadernal na cadeia de comando da violência.

BMW já havia sido citado em investigações anteriores, como no caso do assassinato de três médicos na orla da Barra da Tijuca, em 2023. Os profissionais, que participavam de um congresso, foram confundidos com integrantes de uma milícia rival. Embora não tenha participado diretamente da execução, BMW foi apontado como um dos responsáveis pela ação.

Outro nome citado na denúncia é Fagner Campos Marinho, o Bafo, acusado de torturar uma vítima não identificada nas imediações do Complexo da Penha. O relatório descreve que Bafo gravou um vídeo em que aparece agredindo violentamente uma pessoa amarrada e ensanguentada, referindo-se à tortura como “massagem”. Em determinado momento, ele pergunta à vítima se ela “quer morrer”, diante do sofrimento extremo.

“O denunciado causou intenso sofrimento físico como forma de aplicar castigo pessoal e medida de caráter preventivo”, afirma o MP. A crueldade, segundo o órgão, é tamanha que a vítima parece aceitar a morte como única forma de interromper a dor.

A denúncia reforça o poder paralelo exercido pelo Comando Vermelho em comunidades do Rio de Janeiro, onde punições são aplicadas com métodos medievais e exibidas como demonstração de força. A megaoperação que resultou da investigação busca desarticular essa estrutura violenta e levar os responsáveis à Justiça. Edgar Alves Andrade, o Doca, apontado como líder da facção, segue foragido.

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