Opção cultural
Livro - Quando dizem que o presidente é um marqueteiro, não duvidem. A fala é comum nas bocas dos oposicionistas do PT. Mas quem é João Santana? Eis uma resposta.
Música - Cee Lo Green causou alvoroço ao lançar seu novo álbum, que chegou a ser chamado de “estranho” pelos críticos. O CD está disponível, de graça, no Soundcloud.
Filme - Bastante comentado neste início de ano, Garota Exemplar entra em pré-venda, no dia 4, em DVD. O longa concorre uma estatueta do Oscar na caterogoria melhor atriz.
-- Pré-Grito Rock, que começa no dia 14 e vai até o dia 16, o Centro Cultural Martim Cererê recebe o Old School Rock Gyn, no dia 6. É sexta agora! Quem vamos? -- Já no Teatro Goiânia... na quinta-feira, 5, tem espetáculo de dança e no dia seguinte, além de uma peça de teatro ainda vai rolar lançamento de livro. -- "Res-Pública: Conclamação para uma alternativa global". Parece nome de filme, mas é o título da exposição do artista alemão Joseph Beuys, que termina no próximo dia 9, no Museu Nacional, em Brasília.
Brasília mantém sua forte agenda cultural. No dia 5 terá início a exposição com fotos inéditas de Bauhaus, escola alemã que exerceu uma alta influência na arquitetura e design ocidentais e foi fechada em 1933, com a ascenção do governo nazista. A fotografia só foi considerada uma matéria da escola a partir de 1929, porém as câmeras fotográficas e atividades áudio visuais já faziam parte de seu cotidiano. A exposição na capital federal acontece no Museu Nacional até o dia 16 de março. Entrada franca.

Por Duanny Gumesson
Era ela, a aspirante a escritora. A escritora dos momentos de desabafo. Sentava na dura cadeira de madeira, lia alguns textos diversos, esvaía aquela breve inspiração e desistia. Precisava de bem mais que inspiração. Precisava de fatos, de gente, de sentimento, vida pra transformar tudo em um misto de palavras. Era quase um diário da menina. Digo, da pseudoescritora. O que não permite que os críticos ferrenhos digam que não há vida, ou verdade. Porque ela é toda verdade, toda vida, toda movimento, encanto, marcação.
Precisava de um start pra iniciar a sessão de textos do novo ano. E a melhor forma de iniciar escrevendo em um novo ano é falando sobre ele, claro. Teste, início, formas... Chegaram! Um dos encantadores da menina aspirante à escritora forneceu a matéria-prima pra brincadeira de palavras que ela queria elaborar. Era um texto sobre 2015. Um ótimo texto. Ela, então, saiu da crise criativa em que estava e produziu algo que era mais ou menos assim:
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"Sem saber o que falar, não posso me dar ao luxo de não desejar um belíssimo ano aos meus companheiros fiéis. Andam dizendo por aí que 2015 será um bom ano. Concordo. Que será um ótimo ano. Concordo. Disseram que será o melhor ano. Discordo.
"O melhor ano da sua vida será 2015", ouviu de longe 2016, que contou para 2017, que repassou a informação pra 2018. Os três próximos anos ouviram e foram reclamar com as autoridades competentes (seriam os maias, talvez?). Chegaram, pegaram a senha e ficaram discutindo na sala de espera a pretensão de 2015. Se fosse 2015 o melhor ano de todos, era melhor que os próximos nem chegassem, porque 7 bilhões de pessoas iriam se lamentar pelo resto de suas vidas por não terem mais ótimos anos como aquele.
Chamaram a senha de número 15 e lá se foram os três anos revoltados, na ordem crescente. Chegaram à sala do Senhor Cronos –– coincidentemente (ou não), o mesmo nome do deus do tempo da mitologia grega. Explicaram a situação, Cronos os ouviu, atentamente, e silenciou. Os anos também calaram-se. O ruído calado incomodava aqueles elementos temporais todos.
Cronos levantou-se, acendeu um cigarro, olhou a vista da janela. Achou normal. Voltou-se para os três anos ali, revoltados. Apoiou seu cigarro no cinzeiro, desligou as luzes e ligou o datashow. Logo no começo apareceu o calendário maia. Perguntou aos presentes:
–– Sabem o que é isso?
–– Claro –– responderam em coro.
No próximo slide, os anos 2000 aparecem com a ilustração das panes nos sistemas informatizados. Cronos questiona:
–– Reconhecem? –– e eles responderam afirmativamente.
Cronos acelerou a velocidade de apresentação dos slides e mostrou, em sequência, o efeito Júpiter de 1974, a Ruptura de maio de 2011 e o Armagedon de 1914. Tragou mais uma vez seu cigarro, pousou-o no lugar apropriado, voltou-se para 2016, 2017 e 2018 e disse:
–– E então?
2015 disse, meio envergonhado, que achava não ter compreendido o que o responsável pelos tempos tentou transmitir.
Cronos sorriu e afirmou, conclusivamente, que estavam todos ali, discutindo acerca de um novo ano que iria acontecer de várias formas para várias pessoas. Podia ser que alguns aguardassem o fim, que outros alcançassem objetivos, que muitos iniciassem de forma otimista ou pessimista. Sonhos se realizariam em 2015, tragédias também. E assim seria em 2016, em 2017, em 2078. Porque não adiantaria os tempos se preocuparem, os personagens principais são humanos. Ou desumanos.
Os três anos subsequentes agradeceram a explicação de Cronos e deixaram a sala. Se olharam, sorriram. E perceberam que 2015 deixaria espaço e bons acontecimentos para todos os outros. Porque a vida é assim: expectativa, indecisão, decisão, sorte, amor, azar, companheirismo ou a falta dele, independentemente de quatro algarismos."
Assim sendo, a escritorazinha terminou. E esperou muito do 2015 dela, que, aliás, havia começado muitíssimo bem. E levava consigo muita esperança, amor, sonhos, alegrias pra viver aquele ano. E todos os outros. Queria tudo de bom pra quem amava, pra quem a fez se sentir bem nos anos anteriores e para quem ainda iria aparecer e colorir com diferentes motivos tudo aquilo.
Amazonense, Duanny Gumesson é escritora, formada em Letras, e pós-graduanda em Revisão de Texto e Educação a Distância

O Salão Santa Bárbara, em Pirenópolis, se enfeitará de guarda-chuvas e a culpa é toda de Conceição, uma senhorinha de 75 anos, que sobrevive na monotonia sem cor dos dias. Neste sábado, 31, ela descobre que “Quando se Abrem os Guarda-Chuvas”, a lembrança vem e lança aquelas perguntas todas sobre o amor, a vontade de viver, a esperança e, mais, lança aquela vontade de viver outra vez. Para clarear um pouco o céu ou, melhor, as coisas, “Quando se Abrem os Guarda-Chuvas” é um espetáculo do grupo teatral Farândola, que tem circulado Goiás, por meio do Fundo de Cultura do Estado. Às 20 horas, as portas do Salão se abrem a quem quiser ver os guarda-chuvas –– e, ó, vale dar um pulinho em Piri, se você vive aqui, em Goiânia e mais ainda se você vive em Anápolis ou próximo. “Basta estarmos vivos para suportar os obstáculos da vida”, diz Fernanda Pimenta, atriz que interpreta a Dona Conceição. É de graça, só entrar. E, para constar, Pirenópolis é a quarta das seis cidades escolhidas para a circulação –– o grupo já viajou com o espetáculo até para Portugal. No próximo mês, a galera do Farândola segue para Alto Paraíso e, depois, em abril, para Uruaçu.
Serviço
Espetáculo: "Quando se Abrem os Guarda-Chuvas" (Farândola Teatro)
Local: Salão Santa Bárbara, em Pirenópolis
Horário: 20h
Entrada: Franca

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O trailer da nova franquia de “Quarteto Fantástico” foi divulgado nesta terça-feira, 27. A Fox resolveu acabar com a espera e já mostrou muito do que será o reboot cinematográfico. E, olha, o tom é bem mais dramático. No novo elenco, Michael B. Jordan interpreta O Tocha, Miles Teller vive o Senhor Fantástico, Kate Mara é a Mulher Invisível e Jamie Bell dá vida a Ben Grimm, o Coisa. O diretor de “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”, Simon Kinberg, assina o roteiro do filme, que deve estar em cartaz em agosto.
https://www.youtube.com/watch?v=WdkzdYfnwlk

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A música "FourFiveSeconds" da cantora Rihanna, lançado no sábado, 24, já está em primeiro lugar no Top músicas do iTunes. O hit não só surpreendeu os fãs por trazer Kanye West nos vocais e sir Paul McCartney no teclado, como também surpreende por ser uma balada acústica –– diferente dos outros trabalhos da cantora pop. A faixa é o primeiro single do álbum de inéditas que deve chegar às prateleiras ainda este ano. A canção veio três semanas após o rapper Kanye West divulgar “Only One”, também em parceria com o sir McCartney.
E se você ainda não ouviu, clica aqui.

[caption id="attachment_27044" align="aligncenter" width="300"] Reprodução[/caption]
Já que não é segredo algum que uma boa música ajuda qualquer um a escrever, a equipe do Jornal Opção resolveu aumentar o volume e espalhar para quem quiser ouvir as músicas mais tocadas na redação.
FKA twigs – Two Weeks
Gnarls Barkley – Crazy
Nine Inch Nails – Every Day is Exactly the Same
P!nk – True Love ft. Lily Allen
Rodrigo Amarante – Tardei
Taiguara – Que as Crianças Cantem Livres
The Avener, Phoebe Killdeer – Fade Out Lines
Victor Rocha – Exiled
Vinicius de Moraes e Toquinho – Pot-Pourri N° 3: O velho e a Flor - Veja Você - Mais um Adeus
Warpaint – Hi
Livro
O Livro Das Criaturas
Com as especulações de um novo filme baseado no universo de Harry Potter, J.K. Rowling lança um livro trazendo detalhes das criaturas da famosa série cinematográfica.
Autor: J. K. Rowling
Preço: R$ 52,71
Editora: Galera
Música
The Pinkprint
A rapper americana Nicki Minaj está de volta. O já conhecido “Anaconda”, lançado em 2014, é o principal single do álbum, que traz mais 20 faixas para estourar em 2015.
Artista: Nicki Minaj
Gravadora: Universal
Preço: R$ 25,90
Filme
O Enigma Chinês
O diretor francês Cédric Klapisch chega acolchoando poltronas com seu novo longa. A comédia conta a vida do quarentão Xavier, que ainda não encontrou seu caminho.
Direção: Cédric Klapisch
Paris Filme
Preço: R$ 29,90
Nessa época do ano o que se ouve são marchinhas, samba, axé. E quem não gosta, fica de fora da festa? Que nada! O Grito do Rock vem aí para fazer nosso Carnaval. Em Goiânia, o evento ocorre há 9 anos. Este ano, 54 atrações de diversos estilos musicais irão dividir palco no Centro Cultural Martim Cererê nos dias 14, 15 e 16 de fevereiro. O Grito Rock ocorre entre fevereiro e março. Em 2014, foram mais de 200 cidades, em 40 países, sendo 16 da América Latina. As portas do Martim irão abrir às 16h e os ingressos custam R$ 15.
Está na hora de sacudir a preguiça e voltar para os ensaios, afinal, a Petrobrás e o Ministério da Cultura dão a você a chance de se apresentar nos palcos espalhados pelo País. E, ó, sacode bem e rápido, pois as inscrições estão quase fechando. O prazo vai até às 16h59 desta sexta-feira, 30. O programa contempla projetos teatrais profissionais, não inéditos, nas categorias adulto e infanto-juvenil, com o valor de R$ 15 milhões para o biênio 2015/2016. Está tudo no site www.br.com.br/cultura. Corre lá!
“Que Brasil é este?”, pergunta com trocadilho Marcelino Freire. O escritor de Sertânia, no Pernambuco, dá vida à Balada Literária da Vila Madalena, em São Paulo, cidade onde vive desde 2006. E com a oficina Quebras, realizada com o apoio do Rumos Itaú Cultural, o autor de “Angu de Sangue”, “Contos Negreiros” e “Nossos Ossos” propõe descobrir o espaço literário que temos ocupado e quais autores, agitadores, artistas estão conosco neste caminho. Acontece que Marcelino resolveu colocar todas essas suas perguntas na bagagem para perambular por quinze capitais brasileiras e a parada da vez é em Goiânia. Gratuita, a oficina acontecerá ali no Grande Hotel, aquele da Av. Goiás, nas noites dos próximos dias 27 e 28 de janeiro.

[caption id="attachment_26835" align="alignnone" width="620"] Foto: Divulgação[/caption]
Adaptações de grandes espetáculos são comuns. Raras são as apresentações com qualidade Broadway, caso de “Superboy e a menina invisível”, que estará no Teatro Sesi nos dias 30 e 31 de janeiro, em três apresentações.
Com direção de Luciano Martins, um apaixonado por musicais, o espetáculo é uma adaptação de “Next to Normal”, o sucesso da Broadway que tem rodado o mundo desde 2008. O musical conta a história de uma família que luta para ser “normal”: uma mãe diagnosticada com esquizofrenia; um pai, incondicionalmente, dedicado à família; um filho que faz questão de estar presente; e uma filha à procura da perfeição e do anonimato.
Nas últimas semanas, o elenco tem feito demonstrações em vários locais da cidade. Quem já viu — e, sobretudo, ouviu — o que espera o público, já comprou os ingressos antecipados na Escola de Música Cultura ou nas franquias do Frans Café. E, para quem não comprou ainda: corre que vai acabar!

O goiano J.C. Guimarães bate um papo sobre seu novo livro, “Uma idade para ser eterno” –– obra em que dá um mergulho na crítica e nas facetas do labor literário
[caption id="attachment_26864" align="aligncenter" width="620"] J.C. Guimarães | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption]
Ademir Luiz
Especial para o Jornal Opção
José Carlos Guimarães (conhecido como J. C. Guimarães) é um dos melhores ensaístas que atuam em Goiás. Nascido em 1971 na cidade de Pires do Rio, interior de Goiás, é designer gráfico por profissão e, após publicar na imprensa diversos textos sobre política, literatura e artes plásticas, está lançando seu primeiro livro, dedicado ao exercício da crítica literária: “Uma idade para ser eterno”.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, J. C. Guimarães fala de sua antipatia pelas ortodoxias intelectuais, seu interesse pelas artes plásticas e sobre sua verdadeira vocação, a produção literária.
Nas páginas de apresentação de “Uma idade para ser eterno”, o sr. lamenta que “não se lê interpretação literária de primeira mão por¬que o gênero, condenado ao papel de coadjuvante da arte, serve ape¬nas de subsídio ao leitor”. Este desinteresse pela interpretação crítica é um fenômeno da era da internet ou figuras como Edmund Wilson e, no Brasil, Otto Maria Carpeaux, verdadeiras vedetes intelectuais festejadas na imprensa e muito lidos pelo chamado “leitor médio” de suas épocas, foram exceções?
Como deve ter notado, eu não associei esse desinteresse à época em que estamos vivendo. Apesar disso, o fenômeno tecnológico da internet tem um impacto cultural gigantesco, capaz de prejudicar nossos hábitos de leitura. Estou convencido de que ela estimula a preguiça mental porque é um instrumento adaptado ao ritmo desumano da vida contemporânea. Infelizmente, o interesse primário da engrenagem social é a produtividade, não o pensamento. A reflexão é perigosa e demanda um tempo imponderável para o capital.
Mas creio que o desinteresse alegado é geral e sempre existiu. Ensaio — em particular ensaios de interpretação literária, como os meus — interessa a quem deve mesmo interessar. Acho perfeitamente normal. Eu, por exemplo, nunca vou ler livros de medicina ou química, apesar de sua importância. A cultura é segmentada, os seres humanos têm interesses diversos — às vezes muito diferentes entre si — e é assim que funciona. Textos de interpretação literária só atingem muitos leitores quando o ensaísta em questão torna-se uma referência para a cultura. Posso citar Vargas Llosa e Octavio Paz.
Mesmo assim, normalmente, esses “muitos leitores” não significam leitores difusos: continuam sendo pessoas do círculo acadêmico, como professores e estudantes. Além, é claro, dos próprios escritores. O desinteresse de que falo não é de quem escreve, como Wilson e Carpeaux: é do público em geral.
O sr. parece não apreciar a figura do crítico, sobretudo o crítico acadêmico. Chega a classificá-los como “intermediá¬rios inconvenientes”. Procura se afastar o máximo possível dessa categoria intelectual, frisando que é basicamente um leitor. O sr. acha que a análise crítica com pretensões científicas é nociva, empobrece ou engessa a relação com a literatura?
Em a “Outra voz”, Octavio Paz defende que a crítica é um dos dínamos fundamentais da história moderna, desencadeando a Revolução Francesa, em 1789. Eu, portanto, seria estúpido, além de muito ingênuo, se desprezasse o papel da crítica como fenômeno basilar da consciência, nos últimos 200 anos.
Ela foi um dos instrumentos usados pelos escritores iluministas — Voltaire, Diderot, Rousseau etc. — para derrubar o Estado absolutista. Resguarda, portanto, um sentido político da maior relevância. Estritamente, nosso querido Gilberto Mendonça Teles — um dos melhores críticos desse país, além de poeta — deve ficar com a pulga atrás da orelha diante de opiniões contrárias à crítica, enquanto intermediária entre livros e leitores.
Menciono Gilberto porque ele é um dos que defendem que a Poética (a arte de interpretar textos literários) é uma ciência, conferindo-lhe um status altamente discutível. Essa certeza não é unânime entre os próprios críticos, e citei exemplos desse desacordo em meu livro. Quanto a ser nociva, empobrecer ou engessar, isso é relativo. Para mim, a questão é menos ideológica que gnosiológica.
De fato, não acredito que a crítica possa se apropriar do significado das obras literárias, sugerindo que o leitor que vai às livrarias não tem competência para ler e entender o que lê, ainda que à sua maneira e de acordo com a própria sensibilidade. Essa apropriação intelectualista do sentido me incomoda. A ciência tornou-se capaz de explicar tudo, e isso evidentemente é outra mistificação.
O sr. se coloca frontalmente contra qualquer tipo de ortodoxia no trato com a obra literária. Ao mesmo tempo, no ensaio “Harold Bloom contra os ‘lemmings’”, mostra-se bastante simpático aos métodos e concepções de Bloom, autor do polêmico “O Cânone Ocidental”, conhecido justamente por sua defesa dos clássicos. É um paradoxo em sua perspectiva crítica ou o sr. acredita que encontrou um meio termo?
Disse bem quando fala que me coloco contra qualquer tipo de ortodoxia. Portanto, também não faria muito sentido ungir Harold Bloom.
Pode soar paradoxal confrontar os críticos e, ao mesmo tempo, eleger alguns deles como referência de qualidade: o próprio Bloom, Carpeaux e George Steiner. É uma questão de perspectiva. Primeiro, eu me simpatizo com tais nomes porque acho os textos deles particularmente agradáveis. Ou seja, escrevem bem; não são chatos.
A segunda coisa que na minha avaliação é possível conciliar pontos de vistas diferentes sem a obrigação de filiar-se a uma corrente interpretativa. Aí, é importante dizer por que me identifico com Carpeaux e com Bloom. Em minha opinião, Carpeaux é bem mais complexo que Bloom, porque seu arcabouço teórico, apesar da base historicista, abrange até conceitos do “New Criticism”, que é formalista.
Então, ele transige com a história ao mesmo tempo em que afirma a supremacia da estética, conciliando os extremos, [Wilhelm] Dilthey com [Benedetto] Croce. A respeito de Bloom, eu posso ter reservas quanto ao seu culto por Shakespeare ou restrições ao seu radicalismo estético. Mas, fundamentalmente, reverencio sua defesa intransigente dos clássicos, em particular nas instituições de ensino, escolas e universidades.
Tanto ele quanto Carpeaux, neste aspecto, escrevem como paladinos e traduzem um elevado padrão de cultura, oposto à superficialidade dominante. Quanto aos paradoxos, eu não os temo, porque seria negar a tessitura da realidade. E, se eu confrontasse o universo, eu estaria perdido, não é mesmo?
O sr. dividiu o livro em três partes: autores Brasileiros, Estrangeiros e, por último, Conterrâneos. Note que não é uma escalada espacial, Goiás, Brasil, mundo. Ou mesmo uma panorâmica do macro para o micro, mundo, Brasil, Goiás. Temos primeiro a literatura brasileira, depois a “universal” e em seguida a produção local. Certamente, é uma forma legitima de ordenar seu trabalho. Mas, não pode gerar a impressão de que o sr. deliberadamente, ou inconscientemente, diminuiu, ou mesmo auto-sabotou, o alcance de sua obra, estabelecendo-a como um livro de crítica feita por um goiano para goianos que, obviamente, sofrem influência da literatura universal, mas que não possuem fôlego estético para se identificarem como tal, estando relegados ao status de “escritores goianos”?
Para mim, a ideia de “escritor goiano” é uma ficção. A solução que dei foi estritamente prática; uma maneira de estruturar o livro. Todos os ensaios reunidos já haviam sido publicados na imprensa, então, eu percebi que era possível combiná-los dessa forma. Foi um critério exclusivo de organização. Aliás, eu não utilizei o termo “universal”, que você cita. Não fui eu quem inventou que “universais” são os autores clássicos, normalmente estrangeiros, europeus, brancos e cristãos.
Sou avesso a essa ideia e provo isso ao dedicar um estudo sobre a “História da literatura ocidental”, de Otto Maria Carpeaux –– talvez o melhor ensaio contido no meu livro. Carpeaux demonstra que fazemos parte do mesmo mundo que os estrangeiros e bebemos todos na mesma fonte. Então, porque acharia que não temos competência para ser universais? Seria, no mínimo, contraditório.
A única vantagem que, de fato, conta em favor dos escritores europeus é a longevidade da cultura do Velho Mundo. No entanto, os norte-americanos são mais novos do que os brasileiros em cem anos (os primeiros colonos fundaram Jamestown em 1607) e, mesmo assim, há entre eles autores da eminência de Emily Dickinson e William Faulkner.
Por outro lado, temos Machado de Assis. Portanto, o que determina a qualidade é, em último caso, o talento. Se em Goiás existem escritores de talento, podem perfeitamente se tornar universais, por que não?
O ensaio que dá nome ao livro, “Uma idade para ser eterno”, trata de talentos que afloraram na juventude em paralelo com outros que tiveram que esperar a maturidade. O sr. é conhecido por ser exigente com sua produção escrita em geral e com a literária em particular. Reescreve o mesmo texto muitas vezes. Em sua falta de pressa, na busca pela palavra exata, qual sua idade para ser eterno?
Eu sou um autor bissexto, pouco imaginativo e reescrevo muito. Nada disso ajuda. Mas qualquer artista gostaria de já ter sido reconhecido e feito sucesso entre os vinte e os trinta anos de idade. Essa é a tendência.
Sendo assim, eu já estou atrasado em pelo menos uma década e meia. Para meu consolo, um dos maiores escritores do século XX, José Saramago, só foi reconhecido depois dos cinquenta, quando também intensificou sua produção.
Cito ele porque, sem titubear, penso como Newton: precisamos ter como referência os gigantes. Mesmo assim, me contento se publicar mais uns dois ou três livros, desta vez de ficção (lembro que dois já estão quase prontos). Vou trabalhar para isto acontecer daqui até o final de 2016. Portanto, se eu tiver que ser eterno, deve ser na casa dos quarenta.
Em quais projetos literários o sr. está trabalhando?
Há um ano eu comecei a escrever um romance, cujo título provisório é “Dois passos, apenas”. Estou na fase de reescrita e pretendo publicá-lo ainda este ano. Trata de amor e de desilusão política, misturando os dramas dos personagens com a história recente do país.
Faz referência às jornadas de junho de 2013. Tenho ainda um livro de contos, que deve se chamar “Vida ordinária”. É uma coletânea que eu venho reescrevendo há vários anos. Já poesia e teatro não são gêneros do meu interesse direto.
Aliás, poesia é a mais livre e, ao mesmo tempo, a mais exigente forma de expressão literária: criar metáforas memoráveis é dificílimo. É muito fácil escrever bobagem e acreditar que é o suprassumo.
O sr. é militante do PT. Como avalia a atual situação do partido, já há mais de uma década no poder e envolvido em muitos escândalos de corrupção?
O PT foi o partido mais consistente criado no Brasil, desde o império. Não há saquaremas, republicanos ou peessedebistas que o ombreie. Foi o único projeto que nasceu de baixo e se projetou nacionalmente, com condições de assumir o poder de Estado.
Tem ligações orgânicas com a classe trabalhadora e por esse motivo distribuiu renda de forma inédita no país. Mas o PT se degenerou, nesse processo. Os “companheiros” gostam apenas de fazer elogios, mas ignorar as críticas é altamente prejudicial.
É preciso virar para a sociedade e ter a humildade de reconhecer os erros, também. Importante lembrar que há o PT da cúpula e o PT da base. Na base, ainda há pessoas idealistas e talvez ingênuas.
Na cúpula, a maioria é de pragmáticos convertidos ao sistema. Têm status, altos salários e acúmulo de gratificações que permitem levar uma vida financeira tranquila. Tornaram-se excessivamente pragmáticos e conservadores, por isso.
O escândalo da Petrobrás sugere, até agora, o envolvimento de oito parlamentares do PT, além de dirigentes importantes, que tinham cargos chave na administração federal. Isso é péssimo.
Confirmaria o fato de que o critério de alianças, que era programático, tornou-se eleitoreiro desde a vitória de Lula em 2000, e que este critério se submete à nefasta lógica do poder econômica sobre as campanhas. A essa concepção poderemos atribuir a derrota do partido amanhã. A alternativa? Defender a reforma eleitoral e dialogar com os movimentos sociais, sem retirar-lhes a autonomia e independência.
Como avalia a atuação do PT na área da cultura, tanto na esfera federal quanto na municipal? É possível traçar uma comparação com o Estado, sob o comando do PSDB?
Não acompanho de perto as políticas culturais em qualquer nível da federação, mas acho que somos carentes de gestores nessa área.
Costuma-se colocar à frente dessas pastas quadros com trânsito político, mas não pessoas que realmente sabem o que é a arte. Cultura abrange muitos aspectos e creio que o aspecto “arte” é o mais ignorado. Por outro lado, você pode ter um gestor com bagagem, mas não um prefeito ou governador interessado em cultura.
Sem essa combinação, aliada a recursos financeiros, ficamos sem condições de pensar, planejar e executar. O resultado é a mediocridade. Uma coisa que eu gostaria de ver em Goiânia, e que a Secretaria de Cultura deveria priorizar, é a restauração do nosso acervo em Art Déco. Já se falou muito nisso, mas quase nada saiu do papel, à exceção da Avenida Goiás, durante a gestão do prefeito Pedro Wilson [PT].
Mas os prédios permanecem esquecidos e escondidos. A perspectiva não é boa, tendo em vista a evolução urbana da capital, cujo aspecto mais visível é justamente a pauperização do Centro Histórico. É um fenômeno sociocultural importante.
No que se refere ao Estado, o governo Marconi deixará um legado: o FICA, que se tornou política de Estado, ampliou e assegurou o Fundo Estadual de Cultura e construiu o Centro Cultural Oscar Niemeyer. A meu ver, Goiás deveria ambicionar exposições e apresentações de porte nacional e, eventualmente, até internacional, o que requer um planejamento rigoroso, poder de articulação e conhecimento. Mas, aí, precisamos de gestores locais de visão, como Gilberto Gil e Juca Ferreira.
“Minha primeira vocação é o desenho”
Durante algum tempo o sr. atuou como artista plástico e publicou na imprensa alguns excelentes ensaios sobre arte. Aparentemente, essa faceta de sua produção foi desacelerada ou mesmo abandonada. É isso mesmo? Minha primeira vocação é o desenho. Manifestei esse dom quando ainda morava no interior, aos sete ou oito anos de idade. Sem falsa modéstia, considero-me um excelente desenhista. Mesmo Pedro Jr., o maior desenhista publicitário que temos no Estado, elogia meu traço. Mas, como tal, atuei apenas sob encomenda, para o mercado de comunicação: sou um desenhista segmentado. Acabei me tornando designer gráfico, trabalhando profissionalmente na criação de identidades visuais e em campanhas políticas, de forma que não me tornei, de fato, artista plástico, pois não cheguei a ter uma produção. Até 1992, eu pintava telas. Cheguei a ser premiado num salão da Universidade Católica e me classificar para a Bienal de Santos, que ocorreu naquele ano, em São Paulo. Depois, parei e nunca mais retomei; minha vida tomou outro rumo. Independente disso, tenho uma noção razoável da história da arte, já que li muito a respeito. Meu olho foi educado para a pintura da mesma forma que um compositor educa o ouvido para a música. Enquanto designer gráfico, quero registrar que o mercado goiano é horrível para os profissionais do ramo. Pode até haver demanda, sempre há, mas paga-se mal, o que é desestimulante. A razão disso é que os clientes ainda possuem uma mentalidade muito provinciana e não sabem promover o próprio negócio, desconhecendo uma de suas facetas estratégicas. É uma limitação cultural. Acham que a agência de publicidade resolverá um problema específico, de identidade corporativa, apenas investindo em marketing. Só que a cara da empresa é trabalho para o designer, quase inexplorado. As artes plásticas tiveram um período áureo entre as décadas de 1970 e 1980 em Goiás, angariando muito interesse do público, da mídia e do mercado. Mais recentemente, apesar do prestígio de artistas como Marcelo Solá e Pitágoras, a visibilidade parece ser menor. Como o sr. interpreta esse cenário na atualidade? A resposta a essa pergunta tem a ver com o papel histórico e com a qualidade desses artistas. Você se refere a uma época em que estavam em atividade Cleber Gouvêa, Antônio Poteiro, D.J. Oliveira e Siron Franco. Esses nomes se caracterizam pelo arrojo formal, especialmente da pintura, que foi o gênero dominante mais ou menos até meados do século XX (Marcel Duchamp mudou isso, com a invenção do ready-made). Siron e companhia representam seguramente uma evolução de nossa sensibilidade artística. Mas, depois deles, veio essa geração que aí está, de Divino Sobral, Carlos Sena, Enauro de Castro, Luiz Mauro, Edney Antunes e o próprio Marcelo Solá. Esse pessoal dá continuidade àquele papel histórico, sem dever nada no que diz respeito à qualidade de suas obras. Coube a eles compreender o seu momento e expandir nosso conceito de arte, adotando formas de expressão ainda pouco exploradas no contexto local, como a performance, a vídeo-arte e a instalação, sem abdicar da pintura. Não acho, portanto, que mereçam um tratamento pior do público, da mídia e do mercado, em relação à geração que você cita. Mas não sei, francamente, se a visibilidade das artes plásticas em Goiás hoje é maior ou menor, pois não acompanho mais o certame tão de perto assim. Realmente decidi priorizar a literatura.
[caption id="attachment_26835" align="aligncenter" width="620"] Foto: divulgação[/caption]
Yago Alvim Rodrigues Alvim e Marcos Nunes Carreiro
Adaptações de grandes espetáculos são comuns. Raras são as apresentações com qualidade Broadway, caso de “Superboy e a menina invisível”, que estará no Teatro Sesi nos dias 30 e 31 de janeiro, em três apresentações.
Com direção de Luciano Martins, um apaixonado por musicais, o espetáculo é uma adaptação de “Next to Normal”, o sucesso da Broadway que tem rodado o mundo desde 2008. O musical conta a história de uma família que luta para ser “normal”: uma mãe diagnosticada com esquizofrenia; um pai, incondicionalmente, dedicado à família; um filho que faz questão de estar presente; e uma filha à procura da perfeição e do anonimato.
Nas últimas semanas, o elenco tem feito demonstrações em vários locais da cidade. Quem já viu — e, sobretudo, ouviu — o que espera o público, já comprou os ingressos antecipados na Escola de Música Cultura ou nas franquias do Frans Café. E, para quem não comprou ainda: corre que vai acabar!
Quebras literárias no Grande Hotel
“Que Brasil é este?”, pergunta com trocadilho Marcelino Freire. O escritor de Sertânia, no Pernambuco, dá vida à Balada Literária da Vila Madalena, em São Paulo, cidade onde vive desde 2006. E com a oficina Quebras, realizada com o apoio do Rumos Itaú Cultural, o autor de “Angu de Sangue”, “Contos Negreiros” e “Nossos Ossos” propõe descobrir o espaço literário que temos ocupado e quais autores, agitadores, artistas estão conosco neste caminho. Acontece que Marcelino resolveu colocar todas essas suas perguntas na bagagem para perambular por quinze capitais brasileiras e a parada da vez é em Goiânia. Gratuita, a oficina acontecerá ali no Grande Hotel, aquele da Av. Goiás, nas noites dos próximos dias 27 e 28 de janeiro.Ah, Petrobrás!
Está na hora de sacudir a preguiça e voltar para os ensaios, afinal, a Petrobrás e o Ministério da Cultura dão a você a chance de se apresentar nos palcos espalhados pelo País. E, ó, sacode bem e rápido, pois as inscrições estão quase fechando. O prazo vai até às 16h59 desta sexta-feira, 30. O programa contempla projetos teatrais profissionais, não inéditos, nas categorias adulto e infanto-juvenil, com o valor de R$ 15 milhões para o biênio 2015/2016. Está tudo no site www.br.com.br/cultura. Corre lá! - Nessa época do ano o que se ouve são marchinhas, samba, axé. E quem não gosta, fica de fora da festa? Que nada! O Grito do Rock vem aí para fazer nosso Carnaval. - Em Goiânia, o evento ocorre há 9 anos. Este ano, 54 atrações de diversos estilos musicais irão dividir palco no Centro Cultural Martim Cererê nos dias 14, 15 e 16 de fevereiro. - O Grito Rock ocorre entre fevereiro e março. Em 2014, foram mais de 200 cidades, em 40 países, sendo 16 da América Latina. As portas do Martim irão abrir às 16h e os ingressos custam R$ 15. Livro O Livro Das Criaturas

