Crônica
Não vi na ave um velhinho abandonado na rua como a poeta Cecília Meireles viu no cachorro e a este amou, segundo ela, “apenas com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta”
O sauntering de Thoreau e o andar de Robin MacGregor se encontram na mesma trilha: a que leva da arte à natureza e da natureza à eternidade
O Saci não é manco. Tem duas pernas. É inteiro. É deus da mata. Sopra vida nas folhas. Segura o vento quando ele quer virar fúria. Não é traquinagem, é cuidado. Os Guarani são donos do mito do Saci
Comia com tanta entrega que nem notou a minha passagem. Percebi que, naquele instante, o mundo para ele se resumisse ao ato de matar a sua fome
Para escritor e filósofo Rousseau, as leis, para serem legítimas, precisam brotar da vontade coletiva do povo. A manifestação popular do dia 21 de setembro é a prova explícita de que não há validação coletiva do povo em relação à aprovação da PEC da Blindagem
Temos andado na contramão do Salmo 1:1, e assim andado segundo o conselho dos ímpios, nos detido no caminho dos pecadores e assentados na roda dos escarnecedores. Enfim, sendo os que outros querem que sejamos. Essa tortuosidade não nos larga
A frase de Verissimo ganha nova luz: as perguntas que a vida nos propõe não são armadilhas, mas degraus para que a alma cresça
Mariinha, entre o café coado pela manhã e o olhar perdido na varanda, às vezes sentia que ele estava ali, na lembrança de um quase amor que a vida não deixou florescer
Em 18 de dezembro de 2024, nos instantes finais da gestão de Rogério (que foi pregado na cruz por não ter sido “temido”, como recomendou Nicolau Maquiavel em “O Príncipe”), o Legislativo Municipal aprovou a taxa do lixo. O vento agora mudou de direção: a Casa, em 29 de agosto deste ano, votou com a aprovação de 20 edis pela revogação da tal taxa
Acomodado numa mesa do restaurante, vivi uma das cenas mais lindas da minha vida; ao se pôr, o Sol “abraçava” o Rio Madeira e exibia um festival de cores rosadas e alaranjadas
No último sábado eu fiz uma aula de jazz depois de 11 anos sem dançar. Já se passou quase uma semana, meu corpo ainda tá doendo, mas eu gostei tanto que transbordei. Eu tinha me esquecido a delícia de fazer alguma coisa só por mim mesma e velho, é bom demais.
Parei de dançar há quase 11 anos. Fui bailarina desde a infância e depois de mais de 20 anos experimentando palcos por aí eu encerrei tudo com um discurso claro demais: vou engravidar e fazer uma pós-graduação. O ano era 2014 e eu dançava em uma companhia que se chamava Das Los.
Nessa última década, fiz a pós. Veio Cecília, Matheus, muito trabalho, uma casa cada vez mais difícil de manter limpa e tantas tarefas. Eu tentei academia tantas vezes. Mudei pra um prédio com academia. Fiz hidroginástica, natação, pilates, musculação, corrida. O diagnóstico: a bailarina não gosta de nada disso.
Minha rotina é tão insana que se eu compartilhar, metade me julga, metade não acredita que é possível. Não cabe, ainda, uma atividade física noturna e não há tempo ao longo do dia pra dançar, muito menos grana, mas eis que surgiram umas meninas com uma ideia maravilhosa. Uma aula por mês, sábado, de manhã. E eu topei.
Dancei no Sesi em 2005, 2006. Nem lembro exatamente, mas foram anos bons demais. E foi essa turma que se reencontrou. Eu dançava em 4 lugares diferentes. Ballet, jazz, contemporâneo e ainda participava do grupo de dança da igreja. O corpo tava no auge, a dança sempre tocou minha alma, eu era boa aluna na escola então ocupar 90% do meu tempo com arte era possível.
No sábado passado, enquanto vestia uma meia calça e um colan da Cecília eu fiquei me perguntando: como eu arrumo a vida pra existir um pouco além da maternidade, da jornalista e da esposa? Não é só uma questão de ter rede de apoio, de ter em casa alguém que divide demandas ou de priorizar a si mesmo. É um misto de tantos sentimentos e prioridades que, infelizmente, a gente muda, nem sempre dá.
Outro dia eu tão cansada pra fazer um almoço, num dia caótico, esquentei o que tinha na geladeira e deixei Cecília e Matheus almoçarem porque eu percebi que a comida não dava pra três. Não dava tempo de fazer, não tinha grana pra comprar pronta, eu só precisava dessas duas crianças de barriga cheia e tomei meu leite, comi um pão e fui revisar meus textos. "Na janta eu capricho", prometi pra mim mesma.
Pra quem não tem um filho parece tão simples dizer pra gente se cuidar, pra gente não esquecer de quem é. Na prática, meu irmão, é outro rolê. O bom é que eu já passei por isso uma vez. A gente sabe que passa, que as coisas aos poucos vão retomando seu lugar. A caipirinha me espera depois da amamentação e os hobbies voltarão a ter espaço.
Aprendi há um tempo que devagar também se chega. Voltei a ouvir músicas altas no carro e agora Matheus aprendeu a dormir enquanto eu grito e não apenas ao som de xote da alegria. A dança vai ocupar um pedacinho de espaço na minha vida de novo. Quero voltar a estudar e ter pelo menos uma hora minha, só minha, por semana. Mas eu não tenho uma pressa maluca, não. Eu sei que daqui a pouco aquele bebê fica mais independente e se tudo correr conforme o planejado, eu não terei outro bebê nunca mais.
A maternidade faz o tempo passar depressa, acelera o relógio, aumenta boleto, leva o cansaço a um patamar antes desconhecido. É a versão que eu mais me orgulho de mim mesma. Mas eu sei que não é (e não pode ser) a única.
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“Sinésio, os veículos de comunicação só sabem fazer matéria sobre a florada de ipês; há quem me chame de ipê-roxo, até as flores do jacarandá-mimoso também são chamadas de ipês”
A Praça Cívica cresceu em mim de modo tão especial que sempre sinto uma revoada de pássaros em meu peito. Em segundos acalmo a alma, sinto-me em casa, e, se pudesse, abraçaria Goiânia inteira
Quando a Estátua da Liberdade (presente da França aos EUA) voltar ao seu estado normal desde sua inauguração, ocorrida em 1886, em comemoração aos 100 anos de independência dos Estados Unidos, quero retornar ao país para visitar a poeta do lirismo depurado
Senti, no relato do meu amigo, que sua Marcela tinha um quê da Marcela de “Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; a do meu amigo amou-o durante seis meses e muitos reais gastos com presentes, restaurantes, motéis
