Programas de governo de cidades do agro não abordam políticas sustentáveis
29 setembro 2024 às 15h26
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A crise climática pode prejudicar as safras e aumentar a fome no Brasil, mas candidatos a prefeitos de polos agrícolas não parecem preocupados com o tema. Segundo análise feita pelo The Intercept Brasil, os programas de governo em cinco dos municípios mais ricos do agronegócio, incluindo Rio Verde, nenhum candidato aborda políticas para mitigar a crise climática. Seja para restringir monocultivos, criar zonas livres de agrotóxicos ou promover assentamentos de agricultores familiares.
Mesmo com termos como “sustentabilidade” e “meio ambiente” sendo mencionados em alguns planos, na prática, as propostas favorecem apenas o atual modelo. Uma situação que, segundo especialistas, é perigosa. A soja, principal cultura de Rio Verde e do agronegócio goiano, é uma das mais vulneráveis às mudanças climáticas, com previsões de perda de até 39% da área plantada legalmente até 2040.
Outro fator crucial apontado foram as mudanças no regime de chuvas, o principal fator de risco, e a dependência da agricultura não irrigada tornam a situação do agro ainda mais crítica.
Além de Rio Verde, o levantamento ainda analisou as cidades de Sorriso, Campo Novo dos Parecis e Sapezal, no Mato Grosso; além de São Desidério, na Bahia. A somatória dos municípios rendeu R$ 43 bilhões em 2022, o que resulta em 5% da produção agrícola brasileira no ano.
Anteriormente, o professor Nilson Clementino Ferreira, da Universidade Federal de Goiás (UFG) para o Jornal Opção sobre o risco das mudanças climáticas na agricultura. O docente da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (EECA) destaca a importância de condições climáticas para o sucesso das safras, alertando que fenômenos como secas e chuvas prolongadas podem comprometer a produção.
“Para o agricultor, isso pode se tornar uma loteria. Períodos de seca ou chuvas intensas afetam não apenas as safras, mas também o acesso ao crédito e financiamento”, afirma Ferreira.
Ele também chama atenção para o aumento das temperaturas, algo que considera como um dos maiores desafios para o setor. “O aumento da temperatura é um verdadeiro desastre. Em Goiás, por exemplo, isso pode reduzir a área viável para o plantio de soja para menos da metade da atual, já que a planta precisa de uma faixa de temperatura específica para crescer”, explica.
Em julho, um relatório elaborado por especialistas brasileiros destacou a contribuição crucial do setor agrícola para o Produto Interno Bruto (PIB). Os valores chegam a representar mais de um quarto da economia nacional. O estudo foi coordenado pelo professor Gerhard Ernst Overbeck, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS),
No entanto, o documento alerta para os impactos ambientais significativos decorrentes das práticas intensivas.
O estudo aponta os desafios críticos da agricultura, incluindo mudanças climáticas e à conservação da biodiversidade.
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