Após pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o Padre Júlio Lancellotti, os internautas brasileiros começaram a cobrar a investigação das igrejas evangélicas. Na última quarta-feira, 10, o assunto “CPI das Igrejas Evangélicas Já” ficou entre os mais comentados nas redes sociais. “Já passou da hora de investigar o que acontece com o mar de dinheiro que as igrejas evangélicas arrecadam por todo o Brasil”, escreveu Jorge Rebelo (confira abaixo).

O pedido de CPI contra o Padre Júlio foi protocolado na Câmara dos Vereadores de São Paulo pelo parlamentar Rubinho Nunes (União Brasil). A atitude de Rubinho provocou uma série de reações negativas nas redes sociais e uma denúncia foi protocolada no Ministério Público por abuso de autoridade do vereador.

Rubinho diz que a comissão tem a “finalidade de investigar as ONGs que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a região da Cracolândia”. Segundo o vereador, a atuação das ONGs não está isenta de fiscalização, “sendo necessária a criação de uma CPI, até porque, algumas delas frequentemente recebem financiamento público para realizar suas atividades”.

Os internautas, no entanto, denunciam que quem recebe dinheiro público são as igrejas evangélicas, que recolhem milhões de reais em dízimo e, mesmo assim, são livres de impostos.”Algumas igrejas chegam a movimentar milhões de reais. Seus fiéis, mesmo diante de dificuldades financeiras, chegam a doar todos os seus bens, carros, casas, enquanto os líderes dessas igrejas vivem do bem e do melhor, viajam para Dubai, vivem em mansões”, argumentou o professor e político Thiago Bagatin.

Internauta comparou a aproximação do governo passado com a bancada evangélica. | Foto: Redes Sociais

Igreja de Malafaia entra na dívida ativa

As críticas miram, principalmente, o pastor Silas Malafaia. Fotografia do líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo em viagem a Dubai, nos Emirados Árabes, e detalhes sobre a mansão em que o religioso vive estão sendo compartilhadas junto ao pedido de instauração da CPI.

A Assembleia de Deus Vitória em Cristo, liderada pelo pastor Silas Malafaia, foi incluída na dívida ativa do Estado do Rio de Janeiro. A igreja aparece com uma dívida de R$ 2.895,54. A dívida ativa é um registro de débitos não pagos a órgãos governamentais levados à Procuradoria-Geral do Estado quando se esgota o prazo final para pagamento em processo administrativo regular.

O débito está relacionado ao não-pagamento da ”taxa de incêndio”. A dívida foi registrada no dia 9 de maio de 2023. A taxa de serviço é obrigatória e é referente à prevenção e extinção de incêndios. Os tributos recolhidos são direcionados ao Corpo de Bombeiros.

Os internautas ainda apontam a ligação de instituições religiosas com esquemas de corrupção e o uso de igrejas para lavagem de dinheiro. “Já passou da hora de termos uma CPI das igrejas evangélicas. Vamos lembrar que a do MEC, apesar de ter sido protocolada, não saiu uma CPI, que era para apurar as propinas em ouro e construção de igreja com dinheiro público, geridas por Gilmar Santos e Arilton Moura, ambos pastores”, destacou Henrique Palmiery.

Patrimônios de líderes evangélicos ultrapassam bilhões

Edir Macedo, por exemplo, possui um patrimônio estimado em R$ 5,6 bilhões. Atualmente, o líder da Igreja Universal enfrenta um escândalo relacionado à liderança da instituição em Angola, sendo investigado enquanto alguns pastores fugiram para o Brasil temendo represálias.

Valdemiro Santiago, também bilionário, superou um golpe de R$ 800 milhões do ex-genro e a má administração dos negócios por parte de sua filha. Apesar disso, o apóstolo mantém uma fortuna estimada em R$ 1,4 bilhões como líder da Igreja Mundial do Poder de Deus.

Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, também é próspero, acumulando cerca de R$ 885 milhões em patrimônio com a contribuição dos fiéis. Outro pastor rico é RR Soares, à frente da Igreja Internacional da Graça de Deus, com uma fortuna estimada em R$ 736 milhões.

Esteve na última semana entre os tópicos mais discutidos no meio gospel devido à sua internação por Covid-19, RR Soares é mais um milionário religioso. A fortuna do pastor é avaliada em R$ 736 milhões. Enquanto isso, Estevam Hernandes e a bispa Sônia, da Igreja Renascer, possuem cerca de R$ 383 milhões em suas contas.

Quem é Julio Lancellotti?

Padre Julio Renato Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo. | Foto: Instagram

Júlio Renato Lancellotti, de 75 anos, é um padre que coordena a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo – organização de amparo às pessoas em situação de rua.

Ele é pároco na Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, Zona Leste de São Paulo. Diariamente, distribui alimentos, peças de vestuário e itens de higiene pessoal para pessoas em situação de rua.

Nas redes sociais, apresenta-se como “defensor dos direitos humanos”. Em 2021, ele  quebrou a marretadas blocos de paralelepípedos instalados em viadutos em São Paulo, cujo objetivo era impedir pessoas em situação de rua de se instalarem nos locais.

Em 2023, virou nome de lei: o governo federal regulamentou a Lei Padre Júlio Lancelloti, que proíbe a aporofobia (medo e rejeição aos pobres) por meio da “arquitetura hostil”.

Quem é Rubinho Nunes?

Vereador Rubinho Nunes (União Brasil). | Foto: Reprodução

Advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), Rubinho Nunes tem 35 anos e é filho do vereador Rubens Nunes (Podemos) de Vinhedo. Conhecido por sua associação ao MBL (Movimento Brasil Livre), deixou o grupo em 2022 ao manifestar apoio a Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições, indo contra a posição do movimento que defendeu o voto nulo.

Eleito vereador pelo Patriota em 2020, com 33 mil votos, Rubinho, em 2022, tentou candidatura a deputado federal pelo União Brasil, mas desistiu. Recentemente, o vereador ganhou atenção ao protocolar uma CPI direcionada ao padre Júlio Lancellotti, perdendo o apoio de 22 vereadores que assinaram o pedido alegando desinformação sobre a inclusão do nome do líder religioso.