Presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo em primeiro e segundo lugares nas pesquisas em Goiás, respectivamente, têm pouca influência de votos para candidatos ao Governo de Goiás. Enquanto Bolsonaro aparece com 45,1% das intenções de votos no Estado, de acordo com o último levantamento da Paraná Pesquisa, e o petista com 30,5%, os candidatos que poderão oferecer palanques a eles não contam com esses patamares de votação. Por outro lado, o governador Ronaldo Caiado (UB) crava 46,1% e o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (Patriota), tem 24,9%.

Candidato bolsonarista, o deputado federal Major Vitor Hugo (PL) conta com 9% das intenções de votos. Já pela esquerda, os lulistas, ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Wolmir Amado (PT), e Cíntia Dias (PSOL), somam apenas 2,4%, o primeiro tem 1,7% e a segundo apenas 0,7%. As campanhas deles garantem que irão fazer tudo para colar as imagens dos governadoriáveis aos candidatos ao Palácio do Planalto. Restar saber se isso irá surtir efeitos esperados. Alguns especialistas acreditam que sim e outros que isso é muito difícil, devido às particularidade de Goiás, como a tradicional polarização entre o MDB e o PSDB, e mais recente entre os tucanos e os caiadistas, e com a definição do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) para concorrer ao Senado, transferiu a disputa entre Caiado e Gustavo Mendanha.        

O cientista político Guilherme Carvalho analisa que a polarização entre Bolsonaro e Lula em Goiás deve resultar em “um grande comparecimento nas urnas”. Isso, segundo ele, pode impactar nas eleições. “Porque os eleitores são compelidos a comparecerem, senão para votar em candidatos, propriamente dito, em deputados federal e estadual, governador e senador, mas compelidos pela forte vontade de participar das eleições para presidente. Então, a gente deve ter uma disputa mais acirrada porque é esperado uma grande comparecimento nas urnas”, espera.  

O especialista entende que essa movimentação do eleitor goiano para votar para presidente, pode favorecer alguns candidatos. “Eu diria, que por causa da polarização, há uma tendência também de se colar os votos dos candidatos que são representantes do presidente da República, tanto a deputado, aqueles que tentam colar a imagem, quanto dos próprios candidatos que alinham ao presidente para o cargo de governador. Então, acho que esses são os dois grandes efeitos que tendem a acirrar a disputa aqui a nível local, também”.

No entanto, Carvalho considera ainda as particularidades de Goiás em relação ao Brasil. Além disso, há as questões do desconhecimento do eleitorado sobre quem são os candidatos ao governo e a quem eles estão para a presidência. “As questões regionais perpassam na cabeça do eleitor de uma forma diferente das questões nacionais. Primeiro, porque a nível nacional, o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula são figuras muito conhecidas, diferente dos dois candidatos que os representam, o Vitor Hugo e o Wolmir Amado, que não são conhecidos pelo eleitorado. Segunda coisa, o âmbito da disputa aqui é diferente, a polarização aqui se dá em outra esfera, por outros grupos políticos, por outras intenções e outras propostas de políticas públicas. Então, no final das contas, o eleitor não transpassa, necessariamente, o voto de presidente para governador, simplesmente, porque o presidente indicou. A gente tem mais elementos necessários para pensar nessa condição”, compara.

Nesse aspecto, Guilherme Carvalho aponta que a polarização atual entre o governador e os tucanos, que não lançaram candidato ao Palácio das Esmeraldas, teve esse contraponto ao Governo Estadual assumido pelo ex-prefeito de Aparecida. Diferente da disputa nacional que envolve Bolsonaro e Lula. “Sem dúvida nenhuma, a polarização posta é entre Caiado e Marconi, o Mendanha ainda é um jovem, um neófito base, próximo dos dois. O Marconi estruturou um grupo político, que foi reduzido, e o Mendanha ainda não. Ele tem um grupo em Aparecida, um grupo relevante, mas não suficiente para ser um polo”, comenta. O cientista político levanta a questão da falta de experiência mais ampla do ex-emedebista em relação a todo o Estado. “Ele nunca ocupou um cargo para além de prefeito e de vereador. Então, ele ainda tem um longo percurso para correr, para dizer que ele é um dos polos centrais de disputa no Estado de Goiás. Ele pode se cacifar como tal, após essa eleição, mas, no momento, o Marconi é o grande detentor do outro polo, apesar de não ser um competidor direto do governador Caiado para esta eleição”, pontua.

Em relação à um eventual segundo turno entre candidatos, se os governadoriáveis tende a ajudar os candidatos a presidente mais do que o contrário, o especialista acredita ser muito complexo que isso possa ocorrer. “Eu acho que essa questão de ajudar ela é muito complicada, enquanto se trata de transferência de votos de presidente para governador, porque normalmente, essa transferência de voto costuma ser feita por confiança, são sempre lideranças, pessoas mais próximas no dia a dia, que conhecem os seus problemas. As melhores transferências de votos são feitas de prefeitos para governadores e de vereadores, de lideranças que estão mais próximas da população no dia a dia, principalmente no interior”, indica.

Carvalho compara ainda as eleições deste ano com a onda que elegeu Bolsonaro e vários nomes ligados a ele em 2018, e que isso não deve se repetir neste ano. “A presença de presidentes para indicar votos em governadores importam quando o quesito ideológico é um quesito central, o que não me parece ser um indicador tão importante para esta eleição em Goiás. Eu acho que tanto o governador pedindo voto para presidente quanto presidente pedindo voto para governador em Goiás, especificamente, para esta eleição, é um dado da realidade um pouco menos relevante neste momento. A gente tem outras variáveis postas, que tem a ver com temas locais e outras são temas nacionais. Acho que nesta eleição, especificamente, essa correspondência não está se dando. Em 2018, isso fazia muito sentido, dado o grau de polarização e antipetismo imposto no cenário político brasileiro, o que agora não é a grande tônica do debate”, cita.

Para o cientista político Khelson Cruz, a campanha eleitoral para presidente não influência necessariamente nas candidaturas locais. Ele também relembra o fenômeno da última eleição presidencial. “Em 2018, foi uma exceção, onde nós tivemos algumas candidaturas alavancadas pela onda Bolsonaro. Tivemos aquela votação do delegado Waldir, que foi na onda do Bolsonaro. Nós vemos Wilde Morais que também foi na onda Bolsonaro. Tivemos alguns candidatos a deputado federal da área de segurança pública, alguns nomes que era bolsonaristas foram bem votados também, mas tradicionalmente essa transferência (de votos) não acontece em Goiás. A campanha nacional não interfere na campanha estadual, isso tem sido recorrente em Goiás. A campanha nacional é uma e a estadual é outra totalmente diferente”, salienta.

Nesse mesmo sentido, o especialista em eleições Josimar Gonçalves nota que a polarização entre os candidatos melhores posicionados na disputa presidencial não inspira diretamente na eleição para o cargo de governador em Goiás. “O alinhamento partidário estadual não possui significativos impactos na disputa ao executivo estadual. As eleições para os governos estaduais têm lógicas regionais e nem sempre conseguem reproduzir as forças nacionais”, concorda. Ele apontam ainda as preferências dos próprios eleitores dos principais candidatos, que não fazem relação com os candidatos locais. “Os eleitores fieis dos candidatos favoritos na disputa para presidente nem sempre conseguem reproduzir suas forças nas lógicas estaduais. Esses eleitores fieis nem sempre tem a preferência pelos candidatos dos partidos que lançam candidato a presidente. Esse cenário se reproduz em Goiás com o deputado federal Vitor Hugo e o petista Wolmir Amado”, interpreta.

O cientista político constata também a polarização entre o governador e Mendanha. “As pesquisas eleitorais sempre estimulam disputas polarizadas, principalmente, em cenários de segundo turno. Então, é lógico prever uma análise com uma polarização dos principais candidatos a governador. Após o registro de candidatura foi confirmado a polarização entre Caiado e Mendanha. Esse realinhamento configurou a nova polarização das forças partidárias da eleição de 2022”. Já em eventuais segundo turno, Gonçalves vê a possibilidade dos candidatos ao governo do Estado auxiliar melhor os candidatos a presidente que também estiverem disputando o segundo turno. “Os candidatos ao executivo estadual tornam-se verdadeiros cabos eleitorais após o primeiro turno e com a construção de alianças em apoio a um eventual segundo turno”, deduz.

Já o cientista político Pedro Araújo relaciona o peso de forças entre o presidente e o petista no estado. Para ele, a força bolsonarista tende a favorecer os candidatos mais competitivos, mas neste caso, não seria o candidato oficial do presidente, Vitor Hugo, mas sim o governador Caiado, que lidera as pesquisas. “Aqui é Goiás, o presidente Bolsonaro tem uma força política maior do que o ex-presidente Lula, então, os candidatos mais competitivos aqui no Estado, como o próprio Caiado. Vitor Hugo não é um candidato muito competitivo, mas ele está junto com Bolsonaro para ele vai fazer uma diferença grande ao se atrelar ao presidente da República”, assinala.

Sobre a esquerda, que não possui tanta penetração em Goiás, quanto o conservadorismo bolsonarista, é mais complicado para uma candidatura. “No que se refere a um palanque para o ex-presidente Lula e o candidato ao governo no Estado mais próximo do Lula, a força do Lula não vai ter um impacto tão grande. Lula vai ter uma boa porcentagem de votos, 30%, muitos votos aqui, mas isso não reverberar, por exemplo, para o Wolmir Amado. Não há uma transferência imediato ao Wolmir Amado, se ele chegasse a uma patamar desse, ele conseguiria chegar ao segundo turno, mas não vai ser o caso. Então, com certeza, teremos pessoas, que vão votar no Caiado e no ex-presidente Lula”, específica.

Nesse sentido, Pedro Araújo ratifica que não há uma transferência de votos imediata de Lula para um candidato a governador em Goiás. “O que tem sido visto nas últimas eleições, não só a de 2018, e outras também, a força do ex-presidente Lula é menor no Estado de Goiás, se formos comparar com outras unidades da federação”, menciona. Ele conclui como os demais especialistas que no Estado há uma polarização própria de grupos políticos. “Por muito tempo, foi o MDB e PSDB, e agora nós temos uma nova força política (Mendanha). O PSDB teve uma perda muito grande em 2018. Então, aqui neste ano, será o Caiado com Mendanha, Marconi Perillo foi para o Senado, então ele terá uma impacto menor na disputa”, deduz.

Acerca de prováveis rivalidades no segundo turno de candidaturas tanto para presidente quanto para governador, Araújo aponta que a disputa pode favorecer o postulante ao Palácio do Planalto “Para o segundo turno, é importante que os candidatos a presidente tenha um palanque”, o especialista cita como exemplo a campanha bolsonarista que espera um segundo turno do candidato Romeu Zema (NOVO) em Minas Gerais, para ter um palanque forte naquele estado. Nesse contexto, ele percebe como mais importantes os palanques nos estados com campanha mais nacionalizada, como exemplo de São Paulo.