Após repercussão da imprensa e críticas de ambientalistas, a Marinha decidiu adiar o ‘bombardeio’ que faria no Arquipélago de Alcatrazes, no Litoral Norte de São Paulo. Segundo o Instituto Chico Mendes (ICMBio), o treino poderia ser prejudicial à fauna local. O exercício de tiro estava previsto para os dias 16 e 17 de agosto na Ilha da Sapata, região em Alcatrazes usada pela Defesa em treinamentos. No entanto, um acordo entre a Marinha e o ICMBio prevê que os ‘bombardeios’ acontecessem apenas entre novembro e abril.

Apesar de haver um acordo e restrições que mantém o exercício no local, o ICMBio aponta os problemas com a fauna local por causa dos disparos. “Há registro da destruição de ninhos de atobás e gaivotões na ilha da Sapata, pelo impacto dos projéteis. As fragatas perturbadas nos ninhos pelo efeito sonoro dos disparos podem abandoná-los, deixando ovos e filhotes sujeitos a queda e a predação”, citou o instituto no plano de manejo do local.

Em resposta à decisão da Marinha, uma petição virtual começou a circular nas redes sociais. Como resultado da mobilização popular, a operação militar foi adiada. O manifesto para a preservação da unidade de conservação conta com mais de 23 mil assinaturas.

De acordo com a petição, os exercícios só poderiam ocorrer no intervalo entre os meses de novembro e abril, conforme acordado em documento apresentado à Estação Ecológica Tupinambás, instituição responsável pela gestão deste território.

Além disso, o texto do manifesto alerta para os riscos que a operação pode trazer a espécies nativas, como baleias, vistas nessa época do ano por conta da migração de procriação, e pássaros fregatas, que reproduzem durante esse período.

“O descaso da Marinha do Brasil com a fauna marinha brasileira é plenamente conhecido e a insistência da manutenção destes exercícios estarrece a todos que se dedicam a preservação ambiental, não só no Litoral Norte paulista, como em todo o território brasileiro”, alega trecho do texto da petição.

Descaso histórico

Durante a ditadura militar, a Marinha do Brasil começou a usar o Arquipélago de Alcatrazes como área de treinamento. Em 2004, um disparo efetuado contra o arquipélago durante um exercício militar deu origem a um incêndio que destruiu 20 hectares de mata nativa, resultando na morte de milhares de animais.

Os exercícios militares no arquipélago foram banidos em 2013. Posteriormente, o local recebeu proteção legal ao ser decretado como Refúgio de Vida Silvestre, convertendo-se na segunda maior unidade de conservação integral da Marinha. Em novembro de 2021, ignorando os repetidos apelos de ambientalistas e conservacionistas e até mesmo as recomendações de órgãos governamentais como o ICMBio, a Marinha do Brasil decretou que irá reiniciar exercícios militares no arquipélago.