O Partido dos Trabalhadores (PT) arranjou para si um grande problema na segunda cidade mais populosa do estado. Agora, 23 filiados – muitos dos quais planejavam ser candidatos – prometem deixar a sigla se nenhuma mudança acontecer. 

Em Aparecida de Goiânia, o partido deve receber em breve novos quadros que até recentemente pertenciam à direita (na verdade, são situacionistas). Muitos desses foram bolsonaristas até recentemente, o que irrita os petistas “raiz”, que estiveram no partido durante os anos difíceis do governo Bolsonaro (PL).

Alguns dos quadros que estão imigrando para o PT são: Mazinho Do Madre Germana (PP), atual secretário executivo do Meio Ambiente; Colatina (PP), que foi candidato a vereador mas não se elegeu; Chico Abreu (PSDB), ex-secretário municipal de Educação. 

Não é picuinha: um dos petistas ouvidos pelo Jornal Opção é um servidor público do município. Ele diz ter sido exonerado por apoiar a candidatura da deputada federal Adriana Accorsi (PT). “Pediram a minha cabeça”, ele explica. Esse servidor considera impossível dividir o palanque com pessoas que o perseguiram justamente por pertencer ao partido. 

Como o PT de Aparecida de Goiânia chegou ao ponto de aceitar bolsonaristas?

Quando estava no auge, Gustavo Mendanha (MDB) foi uma unanimidade que chegou a angariar 95,8% dos votos válidos na cidade. Atingir esse patamar significa unir esquerda e direita. Do PT ao PL, todos os partidos prometeram caminhar com Mendanha pelos idos de 2020, quando ninguém queria se opor a um dos prefeitos mais bem avaliados do país. 

Em 2022, Mendanha deixou a prefeitura para disputar o governo do estado e seu vice muito menos popular, Vilmar Mariano (Patriota), assumiu a chefia do município. Por isso, para partidos como o PT, acompanhar Mariano significa cumprir as promessas de campanha feitas a Gustavo Mendanha. 

Entretanto, nos anos de acirramento da polarização, antagonizar a esquerda esteva na moda. Os petistas sentiram-se perseguidos e excluídos do governo que ajudaram a eleger. O tempo passou e, em 2022, a esquerda teve bom desempenho. Além do governo federal, foram dois deputados federais e três deputados estaduais do PT eleitos com boa votação em Aparecida de Goiânia.

Os quadros tradicionais do partido sentem que aguentaram provações em vão, agora que os políticos da direita vêm colher frutos do bom momento da esquerda sem pagar o preço. 

O que o PT quer?

O líder da sigla no município é Adriano Mantovani, atual secretário de Relações Institucionais da cidade. Os políticos eleitos e os dirigentes do partido querem cumprir as promessas de campanha, apoiando o prefeito da cidade e integrando o governo, mesmo que para isso seja necessário filiar quadros incômodos. 

O “chão de fábrica” – membros do partido sem poder ou mandato – pedem ao presidente do partido que considere a ideologia e o passado de alguns dos políticos em migração. Eles julgam que foram traídos, trocados por cargos na reforma administrativa de Aparecida.

I.C.W