Dilma Rousseff e Lula da Silva: a redenção do partido pode surgir da capacidade de articulação do segundo. Mas 2016 pode ser caso perdido | Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Dilma Rousseff e Lula da Silva: a redenção do partido pode surgir da capacidade de articulação do segundo. Mas 2016 pode ser caso perdido | Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

O Jornal Opção ouviu dez intelectuais de esquerda, a maioria petistas, e solicitou uma avaliação sobre o que a presidente Dilma Rousseff deve fazer para reorganizar o governo e a respeito de suas alianças complicadas com o PMDB e, agora, com o PDT. O que se lerá a seguir é uma síntese dos diálogos.

O governo petista tratou mal seus aliados — “com prepotência e arrogância”. Se a política dá “nojo”, como parecem acreditar a presidente Dilma e dilmistas, seria mais racional não disputar eleições. Dados o preconceito e a falta de maleabilidade política, o governo tem de pagar um preço muito alto para obter e manter apoio partidário. O PT poderia ter adquirido o apoio integral do PMDB por um “preço” bem menor. Agora, por falta de agilidade e compromisso, está pagando um preço bem alto e, sobretudo, a relação ficou desgastada, passando-se a imagem de que a presidente está ajoelhada no altar de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha.

A insatisfação do PDT de Carlos Lupi não teria sido “trabalhada” pelos articuladores políticos do governo Dilma. Agora, devido à fragilidade da presidente, o PDT vai ficar mais “caro”. Portanto, é preciso verificar se vale a pena pagar o preço.

Interpreta-se que Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, mantém-se vivo ao manter a corda esticada com o governo de Dilma. Senão a mídia, a partir da Operação Lava Jato, o “devora” imediatamente.

Acredita-se que, como Dilma terá mais três anos e seis meses — na prática, um governo inteiro —, nenhum partido vai mesmo romper. O que se quer é apropriar-se — e até expropriar — do governo. No último ano de seu governo, principalmente se continuar mal, a petista será olímpica e cruelmente abandonada.

Quem de fato articula a política do governo de Dilma Rousseff? Houve um momento no qual, como todos coordenavam, não havia, na prática, coordenação alguma. Agora, como ministro, Michel Temer articula, põe a mão na massa. Fora o vice-presidente, os principais articuladores são Ricardo Berzoini, Aloizio Mercadante, Jaques Wagner e Gilles Azevedo (do staff pessoal da presidente). Pela comunicação, articula, inclusive com “agenda” política, Edinho Silva. O que se pretende, a partir de agora, é reconstruir o sistema de inteligência do governo Dilma.

Os reds da intelligentsia petista avaliam que o governo do PT está com uma febre constante. Mas sugerem que a febre está cada vez mais baixa. Eles notam que a imprensa começa, até para provar certa imparcialidade, a investigar políticos do PSDB. O governador do Paraná, Beto Richa, admite que a polícia espanque professores e demorou a pedir desculpas, sugerindo que estava preparando uma “saída honrosa”. Na verdade, teria sido pressionado pela cúpula nacional do tucanato. O senador Aécio Neves, que viajou em avião do governo do Estado de Minas, apresentou uma explicação esfarrapada, mas não colou.

Os petistas admitem que, em 2016, o PT deve tomar uma “surra eleitoral”.

Porém, se fizer autocrítica e acertar a parte política e a gestão administrativa, pode se reinventar e eleger Lula da Silva para presidente da República em 2018. “O velho PT, acusado de corrupção, está morrendo. Está na hora de se tornar Fênix”, afirma um deputado.