Talvez a figura pública mais controversa que tenha surgido nos últimos dez anos seja mesmo Sergio Moro. Talvez devesse ter como apelido “Mix”: Sergio “Mix” Moro.

Isso porque o hoje ainda senador da República – está na iminência de ser cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder econômico – é uma salada no imaginário político nacional: durante uma década, já foi de herói a vilão e de vilão a herói diversas vezes. No começo, era o juiz justiceiro admirado até por gente da esquerda radical que tinha ódio pela política (guarde bem essas três últimas palavras).

Depois, passou a ser o estandarte usado como abre-alas pela direita para derrubar o PT do governo. Fez, inclusive, declarações de apoio às manifestações “Fora Dilma” de 2015 e 2016. A Operação Lava Jato, da qual era a principal estrela, estava no auge.

Veio a eleição e Moro recebeu convite para ser ministro da Justiça daquele que fora diretamente beneficiado pela condenação de Luiz Inácio Lula da Silva, o líder das pesquisas de intenção de voto. Largou a toga e foi ser político, como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Como político ambicioso, quis demarcar seu espaço e acabou sendo defenestrado pelo “mito” que ajudou a construir. Ao se demitir e pretender rachar a direita, viu que seu potencial eleitorado próprio era muito menor do que o do então presidente. Não que não se pudesse ser as duas coisas, mas lavajatistas se mostravam nítida minoria em relação a bolsonaristas.

Depois de um ano “exilado” nos Estados Unidos, onde ironicamente atuava por uma das empresas afetadas pela Lava Jato, o ex-juiz e ex-ministro não sabia, mas se preparava para se tornar ex-pré-candidato à Presidência. Isso porque, a despeito de suas pretensões, não conseguiu fazer decolar sua postulação pelo Podemos, abusou da grana do partido e depois se tornou candidato e eleito ao Senado pelo União Brasil, o que gerou toda a celeuma em torno de sua crítica situação jurídico-eleitoral.

Acompanhou o ex-patrão e então ex-desafeto Bolsonaro aos debates finais do segundo turno das eleições contra o arquidesafeto de ambos, Lula. Tomou posse como senador e, em mais de dez meses de mandato, não fez nada consistente no cargo nem demonstrou qualquer liderança na oposição.

Agora, sua história na Casa fica marcada por poses amistosas em fotos tiradas com o ministro da Justiça, Flávio Dino, no dia de sua sabatina ao Supremo Tribunal Federal (STF) no Senado. Nada que não fosse civilizado numa democracia, mas que soa como insulto para quem se alimentou diariamente do ódio à política fornecido e fortalecido pelos anos de Lava Jato. Mas o flagra da tela de seu celular por uma lente impertinente em que praticamente confessava o voto no “comunista” Flávio Dino lhe caiu como uma pá de cal.

Se em quase nada agradou à esquerda em toda a trajetória pelos três Poderes, Moro foi um “mix” de personagens para essa direita antipolítica durante todo esse tempo: foi Batman, Superman, Nero, Coringa, Judas, Banana de Pijamas e, por fim, Judas de novo.

Sergio Moro terminou a última semana no purgatório: assim como é um ex-juiz e um ex-ministro, agora é um quase ex-senador. E pior: deverá ser cassado fora do Legislativo (pelo TSE), mas, se fosse um processo que corresse por lá, hoje certamente teria risco igual ou maior de ser “cancelado”, já que continua a ser desprezado pela esquerda e passou a ser novamente um “traidor” para a direita.

Quem muito muda – ou mesmo quem muito “parece mudar” –, pouco atrai para si da confiança alheia. Para os políticos em geral e especialmente para quem vá em Goiás disputar, no próximo ano, as eleições municipais, fica a lição: é preciso ser para o eleitor o que o eleitor de fato imagina que você seja. Porque na vida não dá para ficar de máscara o tempo todo. Dentre todas as “vestes” com que obrigam um político a desfilar, uma das piores, senão a pior, é a de “traíra”. Eleitor não gosta de votar em quem tenha perfil de traidor. E pregar a antipolítica atuando dentro da política foi o erro paradoxal de Sergio Moro. Um erro que caracteriza e alimenta alguns parlamentares goianos que querem ser eleitos prefeitos no próximo ano. Fica a dica: não repitam o enredo de Moro. (E.D.)