Nomeações políticas em Goiânia não contribuem para qualidade da gestão
16 abril 2023 às 13h10
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Aparentemente a Comissão Especial de Inquérito (CEI) em curso na Câmara de Goiânia se encarregaria de depurar a situação da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) na atual gestão, procurando investigar eventuais irregularidades.
Infelizmente, não é com finalidades tão republicanas assim – a fiscalização do Executivo pelo Legislativo é um dos pilares da democracia e do sistema de pesos e contrapesos da teoria clássica de Montesquieu sobre os três Poderes – que o processo acontece de fato.
É claro que é necessário apurar o que ocorre na Comurg, assim como em todas as empresas e pastas do poder público municipal. É dever do Legislativo. O que não poderia é que a investigação seja usada como uma forma de pressão nada aceitável sobre o Executivo.
Tudo começa com a morte de Maguito Vilela (MDB), o prefeito eleito, em janeiro de 2021, vítima da Covid-19, no início do que seria seu primeiro mandato à frente de Goiânia. O desempenho de Maguito gerindo a capital era algo aguardado com bastante expectativa, especialmente por conta de seu brilhante período de oito anos (2009 a 2016) à frente de Aparecida de Goiânia – o que o elevou, sem dúvida, ao posto de melhor prefeito da história da cidade.
O prefeito agora era Rogério Cruz (Republicanos). Sem vice. Num primeiro momento de seu mandato, ele parecia nem ter oposição na Câmara de Goiânia: a exceção de Mauro Rubem (PT), ninguém estava francamente nessa trincheira.
Com o passar do tempo, tudo mudou. Hoje, com os olhos de hoje, é mais fácil entender: o prefeito nunca “teve” a Câmara, era a Câmara quem “tinha” o prefeito.
Todos os que estão nos bastidores sabem que o desenrolar da CEI da Comurg se condiciona à negociação do Paço com os vereadores. A política pura é feita disto: conversa, diálogo, acordo. O problema é quando o acerto passa dos limites – e exemplos não faltam, na política nacional ou local, do mais baixo “toma lá dá cá”.
E então, em meio ao desenrolar da CEI, começam a surgir demissões estranhas na Prefeitura. Para citar um exemplo, na segunda-feira, 10, o diretor de Gestão Ambiental da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) foi exonerado: Pedro Baima, servidor de carreira da agência com altíssima qualificação – está concluindo doutorado na Universidade Federal de Goiás (UFG) – saiu para dar lugar a Leopoldo Fontana Witeck, de quem pouco se sabe, a não ser que foi indicado pelo vereador Igor Franco (Solidariedade) para o cargo, depois de uma passagem relâmpago pelo Jardim Botânico.
Witeck é de Xingara (PA) e não tem muitas publicações em suas redes sociais – nas poucas que possui, mostra apoio a Jair Bolsonaro (PL). Quais as qualificações dele para o cargo de direção num órgão essencial como a Amma? Pouco se sabe, também.
A exoneração seguida de nomeação, trocando técnicos qualificados por indicações políticas, é só um de inúmeros exemplos do que vem ocorrendo na gestão, segundo se pode observar no próprio Diário Oficial do Município.
É fato que o Paço precisa ganhar governabilidade e que opositores tentam desgastar o prefeito já pensando em 2024. Mas é mais fato ainda que mudanças que tiram qualidade de cargos importantes para atender a politicagem depõem contra a própria administração.