Nas redes sociais, a interação de políticos com seus seguidores – muitos deles, seus eleitores – produz situações interessantes. Uma delas ocorreu recentemente em uma postagem do deputado federal Ismael Alexandrino (PSD) no Instagram.

O parlamentar goiano registrava sua presença na solenidade de assinatura do novo decreto de regulamentação das armas, ocorrida no Palácio do Planalto e, como ele mesmo ressaltou, a convite do ministro da Justiça, Flávio Dino. Na Câmara dos Deputados, Ismael é presidente da Subcomissão de Tiro Esportivo, esporte que pratica e cujos aficionados compõem parte de sua base eleitoral.

Foi para essa base que ele escreveu, no texto da postagem: “Vamos manter o diálogo com o governo federal, por meio do ministro Flávio Dino e sua equipe, para garantir as condições para a prática desta modalidade esportiva. A publicação do documento gerou muita ansiedade em todos praticantes e precisamos urgentemente ampliar o debate sobre esse assunto e para isso faremos audiência pública após o recesso com todos os segmentos do Tiro Esportivo. Com diálogo, respeito (bases da democracia) e muito trabalho, vamos avançar em conquistas para o esporte brasileiro, de forma responsável e equilibrada. Esporte é saúde.”

Seria uma informação proveitosa e ótima prestação de contas de seu trabalho. Mas dizer que esteve em um evento do atual governo federal já causaria um torcer de narizes para os mais radicais de direita que o acompanhassem. Mais havia um agravante em um detalhe importante na foto postada: Ismael se sentara ao lado de Gleisi Hoffmann, a presidente nacional do PT.

A partir daí, explicam-se alguns dos comentários recebidos, com alguma edição para adequação à norma culta: “Não acredito em diálogo com esse pessoal, ou é como eles querem ou é como eles querem, só esperando Deus voltar porque já deu”; “Quando será que veremos ações de oposição? Esse governo está implantando sua agenda socialista na nossa cara…”; “Vai passando pano pra este governo. Quando acordar já é ditadura, se é que já não é”.

Outros comentários, porém, eram críticos ao decreto em si e à forma com que o Planalto tem conduzido a política pública sobre armas de fogo: “Bom trabalho, deputado, mas o senhor, como um bom articulador, veja o que pode ser melhorado nesse decreto, pois existem algumas lacunas, nos ajude. O senhor é conhecedor, intervenha nisso, por favor”. Ou: “Agradecimento especial ao deputado por ser interlocutor com o governo, renovar Craf [Certificado de Registro de Arma de Fogo] a cada três anos é inviável, Ismael. Temos que solicitar a mudança dessa validade.”

A diferença entre os depoimentos dos parágrafos anteriores é o entendimento, por parte do eleitor, do que seja o papel do parlamentar/legislador, bem como da forma com que deve se dar a política.

É uma diferença básica entre a militância de direita – ainda em processo de amadurecimento – e a de esquerda, já “treinada” em assembleias sindicais, estudantis e movimentos sociais: enquanto os primeiros simplesmente se fecham ao diálogo e dão a causa como perdida, quem está acostumado com as batalhas em votações sabem que há horas em que o melhor é guardar os dedos, ainda que se percam os anéis. O tudo ou nada não funciona.

Ex-secretário estadual de Saúde durante a pandemia, Ismael Alexandrino está mais afastado de Ronaldo Caiado. Ao mesmo tempo, tem tido posições que o levam a se aproximar das pautas governistas – é o parlamentar de Goiás, exceto os petistas Adriana Accorsi e Rubens Otoni, que mais vota com o governo (88% das matérias no primeiro semestre).