Igrejas e candidatos ganham com parceria entre si, mas isso é bom para a coletividade?
21 agosto 2022 às 00h07
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Não é à toa que a Constituição preveja que o Estado seja laico: durante séculos, a mistura entre religião e Estado – no caso do Brasil e de toda a América Latina, com a Igreja Católica – mostrou que a experiência não é muito conveniente para o desenvolvimento de políticas públicas e até mesmo de uma melhoria das condições e da qualidade de vida da população em geral.
Porém, ainda que a Carta Magna reforce a necessidade da separação entre as coisas dos homens e as coisas de Deus, a miscelânea tem sido cada vez mais a tônica no País, principalmente com o crescimento do número de evangélicos de denominações mais fundamentalistas.
O discurso de pastores e outros religiosos se escora em pautas de costumes como forma de aglutinar e influenciar seus rebanhos em torno da política, mas as igrejas sabem que ter alguém de “confiança” nas casas legislativas – e, da mesma forma, ocupando postos no Executivo – também significa benesses e concessões/isenções tributário-financeiras.
Por outro lado, os integrantes da “bancada da bíblia”, na maioria das vezes, também integram outras frentes parlamentares, como a do agronegócio e a da segurança. Alguns são menos experientes na função, mas todos sabem que o jogo vai além das questões meramente fundamentalistas.
Em tempo: não há nada fora do jogo democrático em uma entidade religiosa prestar apoio a determinado candidato ou candidata. O ponto que deve ser questionado, e que atinge a coletividade como um todo, é a desproporcionalidade: enquanto alguns estão empoderados com seus blocos no Congresso e nas Assembleias, um grande contingente padece de igual representatividade. Quantos defensores das pautas evangélicas são, também, representantes de indígenas ou de pequenos agricultores? Ou quantos deles estão no Congresso por melhorias de condições de vida e de salário dos trabalhadores?