No início de agosto de 2017, o assunto no Brasil era se o presidente Michel Temer deveria passar também por impeachment, à semelhança do que ocorrera um ano antes com Dilma Rousseff (PT). O emedebista se via envolvido em causa de denúncias de corrupção e áudios comprometedores e o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a abertura do processo (a Câmara dos Deputados negou o prosseguimento da denúncia, como faria também dois meses depois, em outra tentativa do PGR).

De repente, outro assunto tomou o País de sobressalto: o craque Neymar estava trocando o Barcelona. O time catalão era considerado então o maior time do mundo por conta de seu trio sul-americano MSN – sigla para Messi, Suárez e Neymar –, que causa terror às defesas adversárias. Os companheiros do brasileiro ainda estavam no auge e o argentino dividia títulos de melhor jogador do ano com o português Cristiano Ronaldo.

Neymar era claramente o sucessor de Messi. Cinco anos mais novo, o caminho para ele no próprio Barcelona estava bem traçado, mas ele achou que não era o bastante. Foi quando uma oferta em forma de fortuna lhe veio do Paris Saint-Germain. Mas o garoto revelado pelo Santos queria mais do que sua parte naqueles 222 milhões de euros da transação: seu desejo era encurtar o tempo para ser também o melhor do mundo. No Barça, por mais que fosse considerado uma estrela, continuaria “apenas” coadjuvante de luxo de Lionel Messi.

Ao decidir trocar o “time” MDB por um voo solo em uma sigla qualquer, Gustavo Mendanha ousou como Neymar. No partido, teria de dividir o palco com Daniel Vilela, mais do que um correligionário, um amigo quase irmão – cresceram juntos na política como consequência natural da amizade e militância conjunta de seus pais, Maguito Vilela e Léo Mendanha.

Foi Maguito, o maior prefeito da história de Aparecida de Goiânia, quem acelerou os passos de Gustavo na política, alçando-o de mero vereador a secretário municipal em Aparecida e, depois, mais do que o avalizando, carregando-o nos braços para ser seu sucessor.

E então, em 2017, Gustavo Mendanha herdou uma Aparecida que nada tinha a ver com o caos de oito anos antes: uma cidade reorganizada, saneada financeiramente, repleta de equipamentos públicos que não existiam e com um polo industrial em desenvolvimento. Era como colocar qualquer um para jogar no célebre gramado do Serra Dourada. Um tapete em forma de cidade para administrar.

O jogo ficou fácil e Gustavo seguiu o caminho aberto e pavimentado em Aparecida pelo legendário emedebista, mas, não se pode negar, deu conta do recado. Só que chegou um momento em que a mosca azul do poder caiu na sopa do jovem prefeito. Ele achou que concluir um segundo mandato – como Maguito fizera, aliás – à frente da segunda maior cidade de Goiás era pouco para ele. Queria o governo e nada menos do que isso.

A partir de então, como o jogador que quer deixar seu clube, fez “corpo mole” para as articulações partidárias visando uma aliança efetiva e contratada com o governador Ronaldo Caiado. Talvez porque soubesse que o beneficiário natural da parceria seria Daniel Vilela, e não ele, “ciscou para fora”, buscou subterfúgios e argumentos que acabaram por ser uma justificativa para algo bem simples: Gustavo Mendanha queria ser o protagonista, não apenas um a mais, ainda que fundamental – principalmente após a morte de Iris Rezende e Maguito Viela – na equipe MDB.

E, certamente incentivado pela corte sabuja que todo político constrói em seu redor, se viu maior do que era. Sentia-se preparado para se aventurar como oponente de um político no governo do Estado que tem, de vida pública, o que Gustavo tem de idade.

Ao contrário de Neymar, no entanto, não foi procurado por outra agremiação para deixar a sua. Como filho pródigo, saiu do MDB em busca do partido perfeito. No fim da caçada insana, sobrou-lhe o nanico Patriota. Conseguiu fechar uma coalizão com outras seis siglas para disputar o governo, mas ainda não conseguiu mostrar a que veio.

Desde o início do ano, o ex-prefeito buscou, de toda forma, colar seu nome ao de Jair Bolsonaro (PL). O que conseguiu foi o menosprezo do presidente, que decidiu apoiar em Goiás o deputado Vitor Hugo como candidato de seu partido.

Em entrevistas ao vivo – como ocorreu à Jovem Pan News, durante quase uma hora, no mês passado –, o desempenho de Gustavo Mendanha não deve estar agradando nem a ele mesmo: mostra-se nervoso, reticente e despreparado, como ocorreu ao ser confrontado pelos sabatinadores com os números da receita estadual para o exercício de 2022.

O prefeito, como o craque do PSG e da seleção, parece ter querido dar o pulo do gato e encurtar seu caminho rumo à consagração pessoal. Mas se esqueceu de que política, como o futebol, funciona coletivamente. Detalhe que fica: a trajetória errática se assemelha, mas Gustavo Mendanha não parece ter, na política, a mesma habilidade inegável do “Menino Ney” nos gramados.