Um acidente vascular cerebral (AVC) causou a morte do professor Arquidones Bites Leão, na quinta-feira, 30. É uma perda de grande impacto para a militância histórica de esquerda em Goiás e que merece o devido registro.

Licenciado em História, Arquidones tinha 60 anos e foi o último brasileiro a ser preso e ameaçado de processo pela Lei de Segurança Nacional (LSN), segundo o advogado Edilberto Dias, o “Didi”, ex-presidente da Comurg e ex-controlador-geral de Goiânia, que lembrou, nas redes sociais, que a última manifestação do amigo na imprensa foi uma carta em apoio a que ele assumisse a superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em Goiás.

Arquidones foi algemado e levado à delegacia após se recusar a retirar a faixa de protesto | Foto: Reprodução

O caso da prisão de Arquidones ficou conhecido nacionalmente. Depois de uma manifestação em Goiânia, em maio de 2021, contra o governo do então presidente Jair Bolsonaro, ele foi abordado por policiais militares em Trindade, sua cidade natal e onde fora vereador por dois mandatos (de 1989 a 1992 e de 1997 a 2000). Ao se recusar a tirar uma faixa com a frase “Fora Bolsonaro genocida”, que estava fixada no capô de seu carro, ele recebeu voz de prisão de um dos policiais, que então citou o artigo 26 da Lei 7.170, a LSN, de 1983, acrescentando que o professor cometia “calúnia” contra o presidente da República.

Foi levado à delegacia local, cujo plantonista resolveu passar o caso adiante. Arquidones foi encaminhado para a capital, prestou depoimento na sede da Polícia Federal e depois foi liberado sob aplausos de companheiros de militância, que, naquele momento, já se juntavam na entrada do prédio.

Meses depois, em setembro do mesmo ano, a lei, considerada um “entulho” da ditadura militar, foi revogada com sanção do próprio Bolsonaro, o que não deixa de dar à história uma boa dose de ironia.

Nas redes sociais, todos os deputados petistas, estaduais (Mauro Rubem, Antônio Gomide e Bia de Lima) e federais (Adriana Accorsi e Rubens Otoni), além da presidente do partido em Goiás, a vereadora por Goiânia Kátia Maria, lamentaram a perda de Arquidones. O perfil do diretório estadual do partido, entretanto, não lembrou a perda de seu filiado histórico – o que não deixa de ser uma gafe.