Na entrevista-sabatina ao Jornal Nacional, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, falou muito sobre futebol com William Bonner, mas o que ele fez ali, diante de dezenas de milhões de espectadores, na bancada do telejornal mais assistido do País, foi dar uma aula de boxe.

A metáfora não é complicada, mas quem acompanha pugilismo certamente a entenderá melhor: quando o boxeador consegue se posicionar no centro do ringue, ele passa a ter o controle das ações da luta, fazendo seu adversário ter de girar ao seu redor e gastar mais energia.

A expectativa sobre a entrevista do petista ao JN era alta por uma série de motivos, mas dois principais: a comparação à de Jair Bolsonaro (PL), ocorrida na segunda-feira, 22, e o “revival” do confronto particular que ele e seu partido têm com a TV Globo pelo menos desde a antiética edição do debate com Fernando Collor, no segundo turno de 1989 – situação agravada com a militante cobertura de cada fase da Operação Lava Jato.

Diante de William Bonner e Renata Vasconcellos, e do alto de seus quase 77 anos, Lula se saiu muito bem, porque absorveu bem os “golpes” que lhe foram desferidos. “Golpes” em forma de questionamentos, tais como: sobre a corrupção (leia-se mensalão e petrolão) nos governos do PT; sobre o fracasso da política econômica na gestão da sucessora que bancou, Dilma Rousseff; sobre a suposta resistência petista ao ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB); e sobre como seria a participação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em um futuro mandato.

Ao término dos 40 minutos de “luta”, em round único, o julgamento geral, tanto das militâncias favoráveis e contrárias como dos analistas do jogo, era de que o ex-presidente esteve muito bem.

No entender de todos, o desempenho no desafio do JN era muito importante para determinar a motivação para este início de campanha e para se posicionar em relação aos adversários. O que se viu foram integrantes do bloco bolsonarista, os principais opositores, acuados, sem ter como criticar a performance de Lula e recorrendo ao expediente de atacar a Rede Globo, que teria feito o jogo do PT. Um pouquinho de isenção mostra exatamente o contrário, já que Bonner e Renata não entraram nas melindrosas questões de que a família Bolsonaro é suspeita, como rachadinhas e funcionários fantasmas em gabinetes.

Mais do que tudo, Lula está no centro do jogo porque é um fenômeno da retórica e da política. Pode ser derrotado, porque em eleições, como no boxe, nem sempre o favorito vence. Basta um movimento errado e tudo pode acabar. Mas que ele está totalmente em forma para o embate, não resta mais nenhuma dúvida.