Entenda por que Roberto Naves e Márcio Corrêa podem ser padrinhos da vitória de Gomide em Anápolis

14 maio 2023 às 00h05

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Ministro da Justiça de Getúlio Vargas, primeiro-ministro durante o governo de João Goulart, senador, governador de Minas Gerais e, finalmente, presidente da República eleito no Colégio Eleitoral. Esta é a biografia de Tancredo Neves, que ficou na história como uma das principais raposas políticas do país.
Tancredo Neves costumava dizer que político que quer vencer pleitos eleitorais não pode dispensar apoio. Pelo contrário, tem de lutar para obter todos os apoios possíveis. Porque, insistia, política não era (e não é) atividade de coroinhas. Política é ação que se faz com todos, e não apenas com os escolhidos, com os bons.
Veja-se o caso de Anápolis. Lá, na Suzhou goiana (antes era a Manchester) — cidade que tem o maior distrito industrial do Estado —, há um político operando com o máximo de profissionalismo. Trata-se do deputado estadual Antônio Gomide, do PT, mas se comportando como um hábil tucano.
Gomide não briga com ninguém, articula com todo mundo e, aos poucos, vai colocando seu bloco nas ruas. É candidatíssimo a prefeito. Se Lula da Silva estiver bem, em 2024, será um poderoso “general” eleitoral para o político goiano disputar a Prefeitura de Anápolis.

Hábil politicamente, Gomide sabe que, para ser eleito prefeito de Anápolis, não pode contar apenas com o eleitorado “do” PT. Como não tem o voto do eleitorado da direita e da centro-direita, precisa ao menos conquistar parte dos votos do centro, aquela parcela dos eleitores que, não sendo nem de direita nem de esquerda, aprecia votar num candidato moderado, ainda que seja filiado a um partido de esquerda.
Em 2020, dado certo isolamento político, além da fragilização nacional do PT, Gomide foi derrotado pelo prefeito Roberto Naves, do pP. Foi uma derrota inesperada. Venceu um postulante da direita. Ressalve-se, porém, que Anápolis percebe Gomide mais como gestor, dos mais eficientes, do que como um membro da esquerda radical. Ainda assim, o petista operou mal na sua campanha, brigou até com padre católica e foi ignorado pelo eleitorado evangélico.
No momento, Gomide opera para agregar uma frente política e atrair eleitores que não querem votar nem no candidato de Roberto Naves nem em Márcio Corrêa, o pré-candidato do MDB de Daniel Vilela.
Roberto Naves x Márcio Corrêa: guerra irracional
Pré-candidato a prefeito pelo MDB, Márcio Corrêa é apontado por muitos como o favorito. Porque criou-se uma expectativa de poder em torno dele. É jovem e é visto como bem-sucedido. Além disso, entusiasma os eleitores de direita — que são fortes em Anápolis.
Entretanto, Márcio Corrêa, para conquistar o eleitorado que rejeita Roberto Naves, está adotando uma tática que, eleitoralmente, pode não funcionar. Primeiro, o prefeito não será candidato, então polarizar com ele não é sinal de racionalismo político (enquanto isto, o verdadeiro adversário, Gomide, está leve, livre e solto — sem receber críticas). Segundo, como sugeriu Tancredo Neves, não se rejeita apoio político.
O governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, e o vice-governador Daniel Vilela, do MDB, têm uma missão em Anápolis: puxar as orelhas de Roberto Naves e Márcio Corrêa, convocá-los para uma conversa séria — sugerindo, inclusive, que a verdadeira articulação política não se faz nas páginas dos jornais e tampouco nas redes sociais com o objetivo de encontrar um denominador comum.
Numa campanha eleitoral, é preciso, antes de tudo, definir o próprio projeto e, em seguida, quem será o principal adversário. Em Anápolis, o grande rival de Márcio Corrêa — os dois estão tecnicamente empatados, de acordo com pesquisas de intenção de voto — é Gomide. Quem pode ajudá-lo a derrotar o postulante do PT? Roberto Naves. Então, seguindo a tese de que o inimigo de meu inimigo é meu amigo, que em política funciona, cabe a Márcio Corrêa adotar um discurso mais ameno em relação ao prefeito. Assim como cabe ao gestor municipal arrefecer, nos jornais e sites que o apoiam, as críticas ao jovem emedebista. Antes que as arestas criem uma crise incontornável.
Hoje, a impressão que se tem é que Roberto Naves quer “destruir” Márcio Corrêa e que este quer “destruir” aquele. Se os dois acertarem a mão, prejudicando a imagem de ambos, Gomide agradecerá penhoradamente. Os dois “meninos grandões” — birrentos —, se continuarem no octógono, terão de se comportar como padrinhos do “homem grandão” do PT, em 2024. Talvez, em 1º de janeiro de 2025, tenham de se unir, finalmente, para presentear o “apadrinhado” indireto com o terno da posse. Roberto Naves poderá doar a calça, as meias e a gravata vermelha e Márcio Corrêa poderá oferecer o paletó e a camisa. Aí ficarão quatro anos, de 2025 a 2028, remoendo a derrota e ouvindo o samba “Irracionalismo, meu amor”. Quem viver, se quiser, verá. (E.F.B.)