Eleitores de Lula em Goiânia fazem opção por não adesivar carros. Motivo? Medo
16 outubro 2022 às 00h07
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De uma das lideranças mais influentes do PT em Goiás: “Está realmente difícil convencer até mesmo militantes a se mostrar nas ruas em Goiânia com o material de Lula. As pessoas do nosso lado estão com medo.”
E é verdade. Se tudo se desse proporcionalmente ao que visualmente se apresenta na capital goiana, Jair Bolsonaro (PL) teria no mínimo 15 vezes mais votos do que Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para tirar a prova, basta ver o número de carros adesivados (ou com a bandeira nacional, que foi, de certa forma, “confiscada” pela candidatura do presidente à reeleição) em circulação, ou estendidas nas janelas de apartamentos.
Na quarta-feira, 12, a reportagem do Jornal Opção saiu por algumas das principais avenidas da cidade para fazer o teste: em um percurso de 40 quilômetros por bairros centrais e também da periferia, foi avistado apenas um veículo com propaganda para o petista, no Setor Perim, região de Campinas. Mesmo assim, era um adesivo (no para-brisas traseiro) ainda do primeiro turno, com a foto do presidenciável junto a outros dois candidatos a deputado do PT em Goiás. Automóveis com Bolsonaro? Entre bandeiras expostas em antenas ou esticadas no capô dos carros, nada menos que 25 veículos.
Obviamente, não existem 25 vezes mais eleitores bolsonaristas do que petistas em Goiânia, apesar de que, se dependesse da capital, o presidente seria reeleito com quase 60% dos válidos no primeiro turno, de acordo com o resultado da apuração. Lula teria em torno de 35%.
Ou seja, Goiânia é sim, “bolsonarista”, mas visualmente aparenta ser muito mais do que realmente é. Para os petistas, isso se deve ao fator medo. Apoiadores de Lula têm receio cada vez maior de expor sua opção política, principalmente em seus automóveis. A questão é evitar discussões e outros tipos de intimidação nas ruas, haja vista que o próprio trânsito já é um fator estressante por si mesmo.
Na verdade, não há “opção” pela discrição: o que está havendo, na verdade, é um tipo de coação. Na visão dos apoiadores da candidatura de Lula, bolsonaristas são violentos – ou, pelo menos, “estão” muito violentos – e é melhor não dar motivo para qualquer confronto. Teme-se encontrar sujeitos agressivos, truculentos e, não raro, portadores de armas de fogo.
Não usar bandeiras, adesivos ou propagandas no carro por falta de material sempre foi algo que a militância petista enfrentou em Goiânia, já que os diretórios estadual e municipal do partido não são nem nunca foram exatamente os preferidos pela cúpula nacional. O dado novo que essas eleições trazem é triste: muita gente vai votar em seu candidato sem ter coragem, mesmo tendo vontade, de se apresentar como eleitor.
É mais uma prova que deixa muito claro – e talvez fique mais claro ainda nas próximas duas semanas – de que estas eleições presidenciais passam longe da normalidade. Só não vê quem não quer.