Aava Santiago (PSDB) é uma “tucana de penas avermelhadas”, dirão alguns mais críticos. Na verdade, porém, ela honra as raízes do próprio partido, que, com o tempo e o poder, foi se endireitando, no sentido ideológico, depois de nascer como bendito fruto da redemocratização, fundado por dissidentes mais à esquerda do então PMDB, como Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Franco Montoro e José Paulo Bisol.

Hoje, a própria vereadora sabe: é preciso colar os caquinhos do partido, que entrou em parafuso após as eleições de 2014 e o ato nada democrático do candidato a presidente – e então manda-chuva do partido –, Aécio Neves, de não reconhecer a derrota eleitoral para Dilma Rousseff (PT).

Além de ser um grande quadro formado no PSDB – se fosse no futebol, diria-se que Aava veio das categorias de base dos tucanos, pois já era filiada muitos anos antes de se candidatar –, ela tornou-se também uma referência do campo progressista no Estado, enfraquecido nas últimas décadas e “vivendo” basicamente de poucos gatos pingados do PT e partidos satélites, enquanto se enfileiram governos e parlamentos em que pautas conservadoras mandam e mandam mandar.

Nascida em família de pastores evangélicos, a vereadora ganhou voz nacional no segundo turno das eleições deste ano, ao se contrapor ao bolsonarismo das igrejas cristãs depois que uma visita a Goiânia da ex-ministra (e eleita senadora pelo Republicanos-DF) Damares Alves e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, fazendo campanha dentro de uma igreja, envolveu até mesmo críticas pesadas a sua família, especialmente ao pastoreio de sua mãe, pastora e autoridade em teologia. Defendeu arduamente a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência e foi chamada para compor a equipe de transição do governo eleito, atuando no grupo de trabalho voltado às mulheres, à família e aos direitos humanos.

É nesse contexto que Aava Santiago, em entrevista ao Jornal Opção, deu um puxão de orelhas na esquerda. Segundo ela, os progressistas, PT incluso, ainda não aprenderam a lidar – e, mais do que isso, parecem demonstrar má vontade em aprender – com o povo evangélico. Não basta dar o básico, ou mais do que o básico, como mostraram os últimos anos, mesmo depois da ascensão dos “crentes pobres”, como Aava chama, durante o governo Lula. “O PT melhorou a vida do crente pobre, mas não se interessou pelo que o crente pobre tinha a dizer”, afirma.

A vereadora acredita que em dez anos o Brasil será um país majoritariamente evangélico, o que tornaria ainda mais urgente uma mudança de rumo no discurso e no trato com o eleitorado cristão. “A pauta moral estava ali adormecida, na gaveta. Bolsonaro chegou e disse que ‘essa galera (a esquerda) nunca gostou de vocês’ (evangélicos). E então disse ‘eu quero’. Ele mexeu com o sentido de pertencimento de nosso povo”, argumenta a tucana.

O PT sempre pareceu pouco disposto a assimilar críticas externas, ainda que construtivas – como é o caso do que relata Aava. Não existe melhor momento para mudar isso do que o atual.