Com seus 11 jogos, a Caixa Econômica Federal é o maior cassino do Brasil. Governo vai investigá-la?
29 setembro 2024 às 00h00
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No mesmo período em que se anuncia um crédito de mais de 300 milhões para a Volkswagen — bilionária empresa alemã —, o governo de Lula da Silva prepara medidas para que beneficiários da Bolsa Família parem de gastar dinheiro repassado pelo setor público em jogos de azar — as populares apostas.
Há duas questões. Primeiro, é mais uma vez o Estado interferindo na vida dos indivíduos — que apenas tentam escapar da miséria que recebem por mês. Segundo, os beneficiários da Bolsa Família, como os demais brasileiros, gastam dinheiro tão-somente com os jogos de azar dos grupos privados? Claro que não.
Se quer evitar a jogatina, por que o governo Lula da Silva não investiga quanto os beneficiários do Bolsa Família gastam com os 11 jogos da Caixa Econômica Federal por mês? Numa visita rápida numa lotérica, é possível ver dezenas de pessoas jogando na Mega-Sena, Lotofácil, Quina, Lotomania, Dupla Sena, Dia de Sorte, Super Sete, +Milionária, Loteca, Timemania e Loteria Federal.
Os 11 jogos configuram, de alguma maneira — ainda que não seja o termo preciso —, que a Caixa Econômica Federal é, se não o maior, um dos maiores “cassinos” do país, movimentando milhões de reais todas as semanas. Quais são os jogadores? A maioria certamente é pobre, que faz uma fezinha pensando em comprar uma casa própria, um carro novo e viajar para a praia.
A batalha do governo contra as bets — as apostas — pode até ser válida, para forçá-las a pagar impostos. Mas a ação da gestão de Lula da Silva, se incluir uma investigação da jogatina da Caixa Econômica Federal, mostrará mais seriedade. Porque não se pode jogar duro apenas com as apostas privadas. O “imposto” sobre os jogos do cassino da CEF é muito alto. Mas quem paga é, claro, o “jogador” — não a Caixa Econômica Federal.
De resto, o combate aos jogos é de uma hipocrisia ímpar. Primeiro, as pessoas jogam no mundo inteiro (Europa, Japão, Estados Unidos etc.). Segundo, se os indivíduos querem jogar, por variados motivos (inclusive vício ou de maneira recreativa), o que o Estado tem a ver com isto? Terceiro, e repetindo o que já disse, quer dizer que jogar pode, desde que seja nos cassinos da Caixa — nas lotéricas? (E.F.B.)