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Lúcio Flávio ganhou comando da OAB porque não tinha um legado. A próxima disputa permitirá comparação

[caption id="attachment_46502" align="aligncenter" width="620"]Fotos: Fernando Leite/ Jornal Opção Fotos: Fernando Leite/ Jornal Opção[/caption] O antropólogo Darcy Ribeiro dizia que às vezes é preciso começar pelo óbvio: Lúcio Flávio de Paiva foi eleito presidente da OAB-Goiás por ter sido considerado o melhor nome pelos advogados. As razões de sua vitória são várias, é claro. Mas as explicações devem começar não pelos problemas dos outros candidatos, e sim por seus méritos pessoais e de sua campanha (incluído o marketing inteligente criado pelo publicitário Marcus Vinicius, um dos mais perspicazes do país). Ficou claro que o indivíduo faz a diferença. Outro candidato, com estampa mais agressiva e com discurso menos afinado, poderia não ter sido bem-sucedido. Se a principal explicação para a vitória de Lúcio Flávio deve ser buscada no próprio Lúcio Flávio — que se tornou confiável para a maioria dos advogados e, por isso, conquistou quase 60% dos votos —, pois Leon Deniz dificilmente seria eleito (nunca conseguiu ser o nome de consenso dentro de seu próprio grupo), não dá para ignorar as outras chapas e, ao mesmo tempo, é preciso enfrentar os mitos. Primeiro, a união entre Enil Henrique, o presidente da OAB, e Flávio Buonaduce, da OAB Forte, possivelmente não teria resultado em nada, ao contrário do que se pensa. Leigos avaliam resultados “eleitorais” unicamente pelos votos, às vezes desconsiderando as variáveis. De fato, ao ficar em segundo lugar, Enil Henrique mostrou alguma força e, mesmo, certa habilidade. Mas isto é enganoso. Na verdade, sua força pessoal é mínima. A máquina da OAB é, na verdade, a única responsável por sua segunda colocação. Se não estivesse no comando da Ordem dificilmente teria sido candidato, não por falta de estatura como advogado, e sim porque não é um profissional que, sem estrutura poderosa, consegue agregar. Falta-lhe carisma e, também, o charme dos que seduzem — o que independe de poder, dinheiro e, quiçá, marketing. Segundo, devido à larga frente de Lúcio Flávio, vestiram em Flávio Buonaduce — um candidato para tempos mais amenos, porque se trata de um homem de diálogo, civilizado e ameno no trato — um figurino de postulante agressivo, batedor. Flávio Buonaduce deveria ter vestido um figurino similar ao de Lúcio Flávio, ainda que não fosse o esperado, e não o de Leon Deniz, por assim dizer. Ainda assim, com todos os problemas, fez uma campanha vigorosa, com forte apelo propositivo. Muitos advogados, não fosse o premente desejo de renovação, teriam hipotecado seu apoio ao jovem candidato — tais a sua simpatia pessoal e a sua competência como advogado e professor universitário. Então, embora fosse um candidato apontado como “excelente” — pesquisas confirmaram isso com o máximo de clareza —, Flávio Buonaduce perdeu devido à celebrada fadiga de material, ao fato de o grupo chamado OAB Forte ter ficado longos anos no poder. Há também o fato de Henrique Tibúrcio ter deixado o comando da Ordem para aceitar um cargo político no governo de Marconi Perillo. Tudo soma para se encontrar uma explicação para a vitória de Lúcio Flávio e para a derrota de Flávio Buonaduce (a rigor, pouquíssimo responsável pela derrota). Mas, como se sugeriu no início do texto, é muito difícil ganhar de um candidato que cai nas graças dos eleitores. O candidato do ideal, ou daquilo que se acredita ser a renovação. Disputar contra o “candidato do ideal e do sonho” é uma das missões mais complicadas. Argumentos realistas realçaram as qualidades de Flávio Buonaduce — e são tantas —, mas poucos advogados estavam prestando atenção neles e nelas. Porque estavam de olho nas virtudes de Lúcio Flávio, que, embora existam, foram maquiadas e exacerbadas pelo marketing de maneira excepcional. Marcus Vinicius investiu numa combinação perfeita entre realidade e sonho — produzindo, de algum modo, o “candidato ideal” ou “do ideal”. Candidato à reeleição, daqui a alguns anos, Lúcio Flávio por certo enfrentará uma campanha mais dura. Porque sua gestão poderá ser comparada com o legado deixado pela OAB Forte. Em 2015, a comparação entre o sonho e a crueza da realidade — que se chama, na prática, de “o possível” — deu a vitória a Lúcio Flávio. Na próxima eleição, o presidente agora eleito terá um legado que, embora pequeno, deverá ser comparado ao legado da OAB Forte, que então será visto, provavelmente, como mais amplo e positivo do que foi visto em 2015. Na eleição seguinte, sem meias palavras, será realidade contra realidade. Os eleitores terão parâmetros para comparar candidatos — para além das ideias e dos sonhos. A OAB Forte, se avaliar com descortino a campanha de 2015 e sem preocupar-se com a produção de um culpado (ou bode expiatório) — como Henrique Tibúrcio —, terá a chance de retomar o controle da Ordem. Há nomes de excelente qualidade — como Dyogo Crosara e o próprio Buonaduce. Entre outros.