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Há 50 anos, o Regime Militar elegia o seu segundo presidente e a “linha dura” ocupava o poder

Se a esperança é a última que morre e ela era Costa e Silva, podemos dizer que o Ato Institucional número 5 matou essa esperança [caption id="attachment_88801" align="aligncenter" width="620"] Generais Costa e Silva (à esquerda) e Castelo Branco (à direita) | foto: divulgação[/caption] Carlos César Higa Especial para o Jornal Opção Os militares costumam dizer que missão dada é missão cumprida. Qual era a missão daqueles que saíram dos quartéis em 31 de março de 1964 e tomaram o poder no Brasil? Não seria derrubar João Goulart, afastar o perigo comunista do território brasileiro e devolver o poder aos civis em janeiro de 1966? Pois é! Nem toda missão que é dada pode-se cumpri-la. Não tivemos eleições em outubro de 1965 que elegeria o civil que receberia a faixa presidencial do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. A primeira sucessão da ditadura civil-militar faz cinquenta anos este ano. Castelo Branco não cumpriu a missão que lhe foi confiada em 1964. O seu sucessor não seria um civil, mas sim outro militar. O Marechal Arthur da Costa e Silva fora eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Castelo disse naquele dia 15 de março de 1967 que entregava ao seu sucessor um país organizado e em ordem. O jornal O Globo publicou juntamente com a edição do dia 15 de março um suplemento louvando a tal da Revolução de 1964. De acordo com o editorial daquele dia, o movimento de 31 de março havia mudado os rumos do país. Costa e Silva despertava a esperança em boa parte da imprensa e dos políticos. O jornal carioca fez questão de destacar o local da posse do novo presidente: Teatro Municipal do Rio de Janeiro, local onde outros presidentes também tomaram posse. Ao recordar os vinte e três presidentes que adentraram naquele recinto cultural, O Globo afirmava que Costa e Silva representava a esperança. Disse o jornal: O sucessor de Castelo Branco, que hoje assume o poder, o Marechal Arthur da Costa e Silva, é velho amigo do Theatro Municipal. Tem comparecido às representações do Theatro. Por isso mesmo, representa, no Poder, uma esperança a mais nos múltiplos sonhos alimentados pelos que lutam pela difusão da Cultura Artística em nosso país. Pelo menos a gente fica sabendo, lendo este texto do Globo, que Costa e Silva não ficava apenas jogando palavras cruzadas nas horas vagas. Ele ia também ao teatro. A gente fica sabendo também que, quando o Rio de Janeiro ainda era capital federal, as posses presidenciais eram mais animadas. E a imprensa paulista? Será que tinha esperanças no governo Costa e Silva? O Estado de São Paulo de 15 de março de 1967, em seu editorial, não se dedicou ao governo que estava começando, mas sim ao que estava terminando. O Estadão não poupou tinta para criticar o governo Castelo Branco. Referindo-se ao presidente que deixava o poder, está escrito no editorial: considerou s. exa útil à realização da sua tarefa aliar-se com o que havia de mais apodrecido no regime passado. Entre os corruptos mais notórios é que s.exa foi buscar os seus principais assessores. Colocando lado a lado os editoriais dos dois principais jornais do país publicados no dia da primeira sucessão presidencial da ditadura, a gente percebe que, se havia alguma esperança no governo Costa e Silva era por conta dos inúmeros erros do governo Castelo Branco. Se o pior era o presidente que saía, por que não dar um crédito ao que entrava? Se Castelo não cumpriu a missão que lhe foi conferida pela tal da revolução, por que então não confiá-la ao novo presidente? Dando um spoiler nessa história: se a esperança é a última que morre e ela era Costa e Silva, podemos dizer que o Ato Institucional número 5 matou essa esperança. Para finalizar essa pílula, vale uma crônica de Brasília que o Estadão publicou semanas antes da posse presidencial. Se hoje nós criticamos as vantagens indevidas que nossos deputados recebem, saiba o nobre leitor que nem sempre foi assim. O deputado Carlos Leprevost (ARENA-PR) informava que os deputados eleitos em 15 de novembro de 1966 estavam sem apartamentos e não encontraram vaga nos hotéis de Brasília. Os que estavam hospedados foram despejados porque o Itamarati havia reservado todos os quartos dos hotéis para as delegações estrangeiras que participariam da posse de Costa e Silva. Disse Leprevost: Os deputados que deverão estar presentes à posse do novo presidente da República não deveriam ter prioridade na ocupação das referidas unidades dos hotéis? A tal da revolução de 1964 não tinha tempo para pensar em vagas de hotéis. Carlos César Higa é mestre em história pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e professor nas redes particular e pública de ensino na cidade de Goiânia.   

No carnaval brasileiro sempre “valeu tudo”?

O carnaval da virada do século XIX para o XX tinha que cumprir rigorosamente os  requisitos exigidos pela chefia de polícia, que publicava um edital impondo regras à folia [caption id="attachment_88311" align="aligncenter" width="620"] Cena de carnaval pintada por Jean-Baptiste Debret[/caption] Carlos César Higa Especial para o Jornal Opção O acervo do jornal O Estado de São Paulo é uma daquelas coisas que fazem qualquer pesquisador encher os olhos de lágrimas de emoção e não de poeira - até porque as páginas do jornal estão digitalizadas. Tem notícias de 1875 até os dias de hoje. É possível ver como era o carnaval no tempo em que era comum ter escravo no Brasil. O Estadão é tão antigo que, quando foi lançado, São Paulo nem estado era, mas sim província. Por isso, de 1875 até 1889, o jornal se chamava A Província de São Paulo. O nome só foi trocado para o atual logo após a Proclamação da República. Se hoje o carnaval é vale tudo, como dizia Tim Maia, nem sempre foi assim. O carnaval da virada do século XIX para o XX tinha que cumprir rigorosamente os requisitos exigidos pela chefia de polícia, que publicava um edital no jornal com as regras da folia. Não se podia vestir com trajes indecentes e nem alegorias ofensivas à religião. O Estadão de 17 de fevereiro de 1901 trazia a chamada do diretor da chefia de polícia de São Paulo, João Cândido de Carvalho, atentando para os foliões não descuidarem das fantasias. Caso contrário, ia para a delegacia. O carnaval que tivesse o diretor João Cândido em serviço poderia ter a certeza de que a lei e a ordem valeriam nos três dias de folia. Além do cuidado com as fantasias dos foliões, até mesmo brinquedos seriam fiscalizados pelo nobre diretor. Língua de sogra, bisnagas e carrapichos eram proibidos. Inocentes brinquedos que hoje usamos para comemorar o carnaval já foram casos de polícia. Em uma crônica sobre carnaval de 1915, o Estadão trazia o relato de um japonês que esteve em nosso país durante o carnaval. No Brasil, em certa época do ano, a população é acometida subitamente de loucura. Durante três dias ficam inteiramente mentecaptos. No quarto dia, pela manhã, vão ao templo onde o sacerdote lhe faz com cinza uma cruz na testa e eles recuperam a razão. Ao contrário do que diziam os pensadores iluministas, uma cruz na testa podia sim recuperar a razão de uma pessoa. Quem é religioso pode pular o carnaval? Na década de 1940, o Estadão tinha uma coluna chamada Movimento Religioso, na qual se reservava um espaço para que cada religião se manifestasse. A edição de 11 de fevereiro de 1945 do jornal, na parte católica do movimento, dizia que sim, o religioso poderia pular o carnaval e recordou São Paulo Apóstolo na carta aos Romanos: Sede alegre com os que estão alegres. Só que essa alegria durava pouco já que após os festejos do carnaval, o católico se resguardaria para a quaresma. Em passeio pelo acervo do Estadão percebe-se as mudanças que o carnaval brasileiro passou ao longo dos tempos. Vemos também que muita coisa continua como a alegria de se aproveitar este tão querido feriado. Que a memória do diretor João Cândido de Carvalho garanta a segurança de quem comemora nas ruas e a paz de quem quer descansar nos três dias de folia. Carlos César Higa é mestre em história pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e professor nas redes particular e pública de ensino na cidade de Goiânia. 

Back to the USSR? Só se for a música dos Beatles

Hitler e Stálin, os dois maiores assassinos da história, se mereciam, mas, em se tratando de assassinato em massa, o bigodão soviético ganha de 7 a 1 do bigodinho nazista [caption id="attachment_87139" align="alignnone" width="620"] Vladimir Lenin, principal líder da Revolução Bolchevique de 1917[/caption] Carlos César Higa Especial para o Jornal Opção Este ano lembramos os cem anos da Revolução Russa, aquela que acabaria com a opressão dos czares e daria uma vida nova para os trabalhadores. Porém, o resultado foi a criação da União Soviética, um estado totalitário que tocou o terror na Europa Oriental e fez as cabeças de muitos ocidentais até 1991. Vladmir Lênin, líder da revolução, disse que o futuro pertence a Jovem Guarda porque a velha está ultrapassada. No centenário da revolução, a gente percebe que o único futuro da Jovem Guarda foi o Roberto Carlos Especial. Interessante que, no Brasil, a Jovem Guarda, que seria a avalanche revolucionária juvenil, tenha sido usada como nome de um grupo de cantores que tocavam guitarras elétricas, ou seja, símbolo maior do imperialismo ianque nos anos 1960. Provavelmente nem Lênin, nem Stálin e muitos menos Trotsky cantariam iê-iê-iê. Eles jogariam as guitarras no chão e brigariam com foice e martelo na mão. O Brasil sempre acolhe de braços abertos as ideias feitas lá fora e que não deram muito certo. Os soviéticos baniram a religião da Rússia pós-revolucionária. Mas por aqui, os camaradas conseguem misturar cristianismo com marxismo e o resultado é Leonardo Boff e Frei Betto, dois ex - religiosos que são mais fiéis ao Partido do que ao Criador. Josef Stálin, outro líder soviético, fez uma aliança com Adolf Hitler pouco antes do começo da Segunda Guerra Mundial. Os dois maiores assassinos da história deram as mãos. Eles se mereciam, mas, em se tratando de assassinato em massa, o bigodão soviético ganha de 7 a 1 do bigodinho nazista. Intelectuais do Ocidente simpatizantes das ideias revolucionárias visitaram a União Soviética com o intuito de mostrar que as notícias negativas contra Moscou eram coisas feitas pela CIA ou por alguma alma pessimamente informada, alienada, comprometida com o capital internacional e que queria desfazer as maravilhas ocorridas na Rússia pós-1917. Ao escreverem sobre o mundo soviético, nenhuma palavra sobre os Gulags construídos por Stálin para prender, torturar e matar seus inimigos. [relacionadas artigos="86066"] Jean Paul Sartre foi um dos intelectuais que visitaram a URSS. Ele não é Caetano Veloso, mas disse que estava tudo lindo, tudo maravilhoso. Para o pai do Existencialismo, não existia nenhum pecado na União Soviética. O inferno são os outros e não a URSS. Muitos intelectuais vão a Cuba, outro paraíso comunista depois da URSS, mostrar que tudo está lindo, tudo está maravilhoso também. Eles odeiam as ditaduras que barbarizaram a América Latina no século passado, mas louvam a ditadura do proletariado. 2017 não é apenas o centenário da Revolução Russa, mas também os quarenta anos de morte de Elvis Presley. O Pravda, jornal oficial do Partido Comunista Soviético, escreveu que o Rei do Rock morreu vítima da exploração do capitalismo. Tudo o que sai no jornal oficial de qualquer partido comunista deve ser lido com Suspicious Mind, ou seja, mentes desconfiadas, clássico de Elvis do comecinho dos anos 1970. E já que falamos de música, vamos concluir dizendo que Back to the USSR só se for a música dos Beatles.  Carlos César Higa é mestre em história e professor das redes estadual e particular de ensino, em Goiânia.

O presidente nem sempre tomou posse quando ainda está de ressaca do réveillon. Saiba por quê

Os presidentes brasileiros no período entre 1946 e 1961 tomaram posse no 31 de janeiro [caption id="attachment_86067" align="alignnone" width="620"] Marechal Eurico Gaspar Dutra, eleito pelo voto popular, foi o primeiro presidente do Brasil a tomar posse em 31 de janeiro | Foto: Planalto Federal[/caption] Carlos César Higa Especial para o Opção Cultural Atualmente, a posse dos presidentes da República acontece no primeiro dia do ano seguinte ao das eleições, mas nem sempre foi assim. De 1946 até 1961, os presidentes eleitos tomavam posse em 31 de janeiro. O primeiro presidente a tomar posse no dia 31 de janeiro dentro do período citado acima foi o Marechal Eurico Gaspar Dutra. Ele foi ministro da Guerra durante a ditadura do Estado Novo e foi eleito democraticamente pelo voto popular. Nota-se que nem todo militar na Presidência foi eleito indiretamente. Getúlio Vargas voltou à Presidência pelo voto direto em 31 de janeiro de 1951, mas não cumpriu o mandato, pois suicidou em 24 de agosto de 1954. A posse de Juscelino Kubitschek, ocorrida em 31 de janeiro de 1956, foi marcada pela crise político-militar que quase impediu a sua chegada ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro (Sede do Poder Executivo antes da inauguração de Brasília em 1960). A primeira sucessão presidencial ocorrida na nova capital federal foi em 31 de janeiro de 1961. Juscelino Kubitschek, eleito diretamente, transmitiu a faixa presidencial para Jânio Quadros, também eleito diretamente. A próxima vez que Brasília assistiria um presidente eleito democraticamente passar a faixa para outro presidente eleito democraticamente não foi num 31 de janeiro e sim no dia 1º de janeiro de 2003, quando Fernando Henrique Cardoso, eleito e reeleito pelo voto direto, passou a faixa para Luiz Inácio Lula da Silva eleito diretamente. O mandato presidencial de acordo com a Constituição de 1946 era de cinco anos. Isso permitiu Juscelino Kubitschek (ou melhor, o poeta Augusto Frederico Schmidt) criar o slogan 50 anos em 5. Se Jânio Quadros não tivesse visto as forças ocultas no fundo do copo de uísque, entregaria a faixa presidencial para o presidente eleito pelo povo em 31 de janeiro de 1966. Juscelino era um dos que desejavam voltar ao Palácio do Planalto. O slogan já estava pronto: JK-65: 5 de anos agricultura para 50 anos de fartura. De novo, slogan do poeta Augusto Schmidt. A posse no dia 31 de janeiro foi rompida pelos militares após o golpe de 1964. Não custa lembrar que o primeiro presidente da ditadura, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, havia prometido devolver a faixa presidencial para um civil eleito democraticamente no dia 31 de janeiro de 1966. Não só descumpriu a promessa como quebrou uma sucessão de datas que vinha desde 1946. Durante a ditadura, os presidentes militares eleitos indiretamente pelo Congresso Nacional tomavam posse em 15 de março. O mandato dos presidentes fardados tinha cinco anos. Um presidente sem farda, com mandato de cinco anos e tomando posse em 31 de janeiro não faz mal a ninguém. Não precisa bater continência para ninguém, tem tempo para fazer algo edificante para o país e com prazo para enviar os convites para a posse. A posse hoje é no dia 1º de janeiro, quando os convidados nem curaram a ressaca do réveillon. Carlos César Higa é mestre em história e professor na rede particular de ensino, em Goiânia