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Emilia Pérez, candidato francês ao Oscar deste ano, que teve doze indicações, não foi o filme mais indicado ao César, considerado o Oscar francês. O longa foi superado pela recente adaptação de O Conde de Monte Cristo, dos diretores Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière. Emilia Pérez também foi superado pelo filme e Beating Hearts, de Gilles Lellouche, uma adaptação moderna de Romeu e Julieta, com treze nomeações.
O Conde de Monte Cristo retrata um dilema ético do marinheiro Edmond Dantés que, preso injustamente no dia de seu casamento, escapa catorze anos depois e busca vingança sob a identidade do conde do título. A daptação é de um livro de mesmo nome de 1846.
O filme trouxe de volta a história para a França, acrescentendo a modernidade, com ambientação e cenas épicas. O protagonista é vivido por Pierre Niney. Já Emilia Pérez vem sendo criticado por ser ambientado no México e falado em espanhol, tendo poucos atores realmente mexicanos em seu leento.
Veja os indicados ao César.
Melhor filme
O Conde de Monte Cristo
Emilia Pérez
Le Panache
A História de Souleymane
Misericórdia
Melhor diretor
Gilles Lellouche, por Beating Hearts
Matthieu Delaporte, Alexandre de La Patellière, por O Conde de Monte Cristo
Jacques Audiard, por Emilia Pérez
Boris Lojkine, por A História de Souleymane
Alain Guiraudie, por Misericórdia
Melhor atriz
Adèle Exarchopoulos, em Beating Hearts
Karla Sofía Gascón, por Emilia Pérez
Hafsia Herzi, em Borgo
Zoe Saldaña, por Emilia Pérez
Hélène Vincent, por When Autumn Comes
Melhor ator
François Civil, por Beating Hearts
Benjamin Lavernhe, por Le Panache
Karim Leklou, por História de Jim
Pierre Niney, por O Conde de Monte Cristo
Tahar Rahim, por Monsieur Aznavour
Melhor atriz coadjuvante
Élodie Bouchez, por Beating Hearts
Anaïs Demoustier, por O Conde de Monte Cristo
Catherine Frot, por Misericórdia
Nina Meurisse, por A História de Souleymane
Sarah Suco, por Le Panache
Melhor ator coadjuvante
David Ayala, por Misericórdia
Bastien Bouillon, por O Conde de Monte Cristo
Alain Chabat, por Beating Hearts
Jacques Develay, por Misericórdia
Laurent Lafitte, por O Conde de Monte Cristo
Atriz revelação
Maïwenn Barthélémy, por Vingt Dieux
Malou Khebizi, por Diamant Brut
Megan Northam, por Rabia
Mallory Wanecque, por Beating Hearts
Souhela Yacoub, por Planet B
Ator revelação
Abou Sangare, por A História de Souleymane
Adam Bessa, por Les Fantômes
Malik Frikah, por Beating Hearts
Félix Kysyl, por Misericórdia
Pierre Lottin, por Le Panache
Melhor roteiro original
Borgo
Le panache
A História de Souleymane
Misericórdia
Vingt Dieux
Melhor roteiro adaptado
O Conde de Monte Cristo
Emilia Pérez
A Mais Preciosa das Cargas
Trilha sonora original
Beating Hearts
O Conde de Monte Cristo
Emilia Pérez
A Mais Preciosa das Cargas
Vingt Dieux
Melhor som
Beating Hearts
O Conde de Monte Cristo
Emilia Pérez
Le Panache
A História de Souleymane
Melhor fotografia
Beating Hearts
O Conde de Monte Cristo
Emilia Pérez
A História de Souleymane
Misericórdia
Melhor edição
Beating Hearts
O Conde de Monte Cristo
Emilia Pérez
Le panache
A História de Souleymane
Melhor figurino
Beating Hearts
O Conde de Monte Cristo
Emilia Pérez
Monsieur Aznavour
The Divine
Melhor design de produção
Beating Hearts
O Conde de Monte Cristo
Emilia Pérez
Monsieur Aznavour
The Divine
Melhores efeitos visuais
The Beast
O Conde de Monte Cristo
Emilia Pérez
Monsieur Aznavour
Melhor filme de estreia
Diamant Brut, de Agathe Riedinger
Les Fantômes, de Jonathan Millet
Le Royaume, de Julien Colonna
Un P’Tit Truc En Plus, de Artus
Vingt Dieux, de Louise Courvoisier
Melhor filme de animação
Flow
A Mais Preciosa das Cargas
Wild Ones
Melhor documentário
The Beauty of Gaza
Bye Bye Tiberias
Dahomey
Ernest Cole, Photographer
The Bertrand Farm
Madame Hofmann
Melhor filme internacional
Anora
A Semente do Fruto Sagrado
O Aprendiz
A Substância
Zona de Interesse
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Entenda a campanha de brasileiros e mexicanos contra o filme ‘Emilia Pérez’ no Oscar

O filme 'Emilia Pérez', indicado a 13 categorias do Oscar, dividiu opiniões do público e da crítica e uniu entre nacionalidades. Mesmo por motivos distintos, brasileiros e mexicanos se uniram para fazer campanha contra o filme.
Para brasileiros, o filme francês é um obstáculo para que Ainda Estou Aqui vença pelo menos o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro neste ano. O filme brasileiro foi indicado para Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz para Fernanda Torres. Emilia Pérez compete diretamente nestas três categorias.
A enxurrada de comentários de brasileiros contra o filme fez com que a atriz Karla Sofía Gascón pedisse ajuda à Fernanda Torres para acalmar os brasileiros. "Fernanda, por favor. Um abraço, te amo muito. Me ajuda com essa galera", disse.
Antes mesmo de estrear no México, Emilia Pérez foi alvo de críticas por conta da falta de participação de mexicanos na equipe e elenco principal, bem como a representação que é feita do país.
Apenas uma das quatro atrizes principais, Adriana Paz, é mexicana. A atriz principal, Gascón, é espanhola. Além dela, Selena Gomez e Zoe Saldaña são americanas, mesmo tendo origem mexicana.
Outro ponto alvo de críticas é a interpretação em espanhol de Selena. O ator Eugenio Derbez disse, em um podcast, que a pronúncia de Selena Gomez foi "indefensável". A atriz afirmou que fez o melhor que pôde "com o tempo que me foi dado".
A obra é uma produção francesa, com atores americanos, gravada na França que fala sobre a cultura mexicana. Isso fez com que audiência estrangeira criticasse o filme.
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‘Ainda Estou Aqui’ e Fernanda Torres recebem indicações ao Oscar 2025

O engajamento massivo nas redes sociais tem gerado visibilidade para 'Ainda Estou Aqui' e Fernanda Torres, levantando dúvidas sobre seu peso na premiação

A 97ª edição do Oscar, marcada para acontecer no dia 2 de março de 2025, contará com a participação de 52 brasileiros entre os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a instituição responsável pela votação nas diversas categorias da premiação. A presença desses profissionais no processo de escolha dos vencedores é um reflexo da crescente contribuição do Brasil à indústria cinematográfica mundial.
Entre os nomes mais conhecidos estão a atriz Fernanda Montenegro, o diretor Fernando Meirelles, o ator e diretor Wagner Moura, a atriz Sonia Braga, o cineasta Kleber Mendonça Filho e o compositor Carlinhos Brown. Todos eles, juntamente com outros profissionais do cinema, possuem o direito de votar nas categorias do prêmio, desde que sejam membros ativos da Academia.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que organiza o Oscar, atualmente conta com cerca de 10,9 mil membros, dos quais aproximadamente 9,9 mil estão habilitados a votar nas 23 categorias da premiação. A composição dos votantes é diversa, com representantes de diferentes nacionalidades e áreas do cinema, incluindo diretores, atores, roteiristas, produtores e técnicos.
A entrada na Academia ocorre por meio de um processo que envolve recomendações feitas por dois membros já estabelecidos na instituição, que são responsáveis por indicar profissionais que consideram qualificados para a adesão. Após a indicação, os nomes passam por uma avaliação de um comitê.
Em alguns casos, como o de Fernanda Torres, que foi indicada à categoria de Melhor Atriz, a nomeação ao Oscar pode ser suficiente para que o artista seja automaticamente aceito como membro da Academia, sem a necessidade de passar por esse processo formal de apadrinhamento.
O processo de votação para o Oscar de 2025 começou em 11 de fevereiro e se encerrará em 18 de fevereiro. Durante esse período, os membros da Academia escolhem os indicados e, posteriormente, os vencedores. A maior parte das categorias é decidida por votações internas entre membros de áreas específicas da indústria cinematográfica — por exemplo, atores votam em atores e diretores votam em diretores.
No entanto, existem exceções: as categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Longa-Metragem de Animação permitem que todos os membros da Academia votem, independentemente de sua área de atuação. Isso garante uma maior diversidade na escolha dos vencedores nessas categorias.
O processo de votação e apuração é rigoroso. A PricewaterhouseCoopers (PwC) é responsável por auditar os votos, assegurando a transparência e a precisão do processo. Os resultados, como sempre, serão mantidos em segredo até a cerimônia, quando os envelopes com os nomes dos vencedores serão abertos ao vivo. Assim, os membros da Academia desempenham um papel fundamental na definição dos premiados do Oscar, influenciando diretamente o reconhecimento das produções cinematográficas do ano.
Aqui está a lista completa dos 52 brasileiros que participam da votação do Oscar 2025:
- Adriano Goldman (diretor de fotografia)
- Affonso Beato (diretor de fotografia)
- Alê Abreu (diretor e animador)
- Alice Braga (atriz)
- Andrea Barata Ribeiro (produtora)
- Anita Rocha da Silveira (diretora)
- Anna Muylaert (diretora)
- Anna Van Steen (maquiadora)
- Antonio Pinto (compositor)
- Bruno Barreto (diretor)
- Cacá Diegues (diretor)
- Carlinhos Brown (compositor)
- Carlos Saldanha (diretor e animador)
- Carolina Markowicz (diretora)
- Daniel Rezende (diretor e montador)
- Emilio Domingos (documentarista)
- Fabiano Gullane (produtor)
- Felipe Lacerda (montador)
- Fernanda Montenegro (atriz)
- Fernando de Goes (cientista de computação)
- Fernando Meirelles (diretor)
- Helena Solberg (diretora)
- Heloísa Passos (diretora)
- Ilda Santiago (curadora)
- Jefferson De (diretor)
- João Atala (documentarista)
- João Moreira Salles (documentarista)
- José Padilha (diretor)
- Karen Akerman (editora e produtora)
- Karen Harley (montadora)
- Karim Aïnouz (diretor)
- Kleber Mendonça Filho (diretor)
- Laís Bodanzky (diretora)
- Lula Carvalho (diretor de fotografia)
- Marcelo Zarvos (compositor)
- Maria Augusta Ramos (documentarista)
- Mauricio Osaki (diretor)
- Mauricio Zacharia (roteirista)
- Paula Barreto (produtora)
- Pedro Kos (documentarista)
- Petra Costa (documentarista)
- Renato dos Anjos (supervisor de animação)
- Rodrigo Santoro (ator)
- Rodrigo Teixeira (produtor)
- Sara Silveira (produtora)
- Selton Mello (ator e diretor)
- Sonia Braga (atriz)
- Vânia Catani (produtora)
- Vera Blasi (roteirista)
- Wagner Moura (ator e diretor)
- Waldir Xavier (engenheiro de som)
- Walter Salles (diretor)
A transmissão da cerimônia será feita ao vivo pelo serviço de streaming Hulu e também pela emissora ABC, que cobre mais de 200 territórios ao redor do mundo, garantindo que o evento alcance uma audiência global.
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Atípico com a forma de expressar sua visão, Lynch presentou o cinema com tudo que ele precisava:

O momento é do cinema brasileiro e de todos os profissionais envolvidos com a Arte. O filme de Walter Salles é uma homenagem às famílias destruídas pela ditadura. Não dá pra esquecer. Não podemos esquecer.

A informação foi divulgada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas americana nesta terça-feira, 17

Produção brasileira arrecada R$ 8,9 milhões em apenas um final de semana nos cinemas

Com filmes marcantes, o Brasil já teve diversas indicações à categoria de Melhor Filme Internacional, refletindo sua diversidade cultural

Filme é estrelado por Fernanda Torres, Selton Mello e conta com participação de Fernanda Montenegro

A atuação da atriz em "Ainda Estou Aqui" rendeu elogios em vários veículos, entre eles: The Guardian, Variety e Deadline

Um dos mais básicos pilares do pensamento filosófico é a existência de dimensões éticas e morais referentes à existência em sociedade. Enquanto a moral representa hábitos e costumes coletivos, ética diz respeito à adaptabilidade reflexiva da consciência diante da moral, podendo ir ao encontro ou de encontro a ela a depender da situação. Ao longo de todo o cotidiano histórico, ética e moral se digladiam, muito por conta de que, na majoritária parcela das situações, os defensores da moral são as pessoas mais antiéticas presentes em todo o globo. E como o cinema é uma das formas de pensamento filosófico, os domínios da Sétima Arte não estão alheios a esse debate.
Desde pavorosos debates morais cinco séculos atrasados sobre a necessidade do uso da nudez no cinema em pleno século XXI (ora, caro leitor, se o artista se deixar levar pelo teor de utilidade em sua produção, nenhum filme, livro, série ou pintura jamais será feito) até a linguagem cinematográfica como um campo sedutor para a antiética, discute-se sobre o papel do diretor não somente como artista, mas também como pensador. Como esquecer que não somente Jean-Luc Godard dizia que um traveling é uma escolha ética, mas também que Jacques Rivette condenou efusivamente Gillo Pontecorvo pelo uso desse mesmo movimento de câmera em Kapò, filme sobre uma mulher judia enviada a um campo de concentração? Dirigir um filme é inevitavelmente direcionar e enviesar o olhar de milhares de pessoas para um tema de uma forma específica e, logo, requer ética e responsabilidade.
Ética e lucro, entretanto, podem caminhar juntos? O cinema, arte inerentemente industrial, e seus produtores estão mais preocupados com seus bolsos enchendo ou com serem histórico e eticamente responsáveis ao retratarem uma catástrofe monstruosa e humana? Creio que a existência e ampla premiação a filmes abomináveis como A Vida é Bela, o Menino do Pijama Listrado, entre outros, já é prova o suficiente que, quando se quer ganhar dinheiro, mais vale cuspir na história de um genocídio através de um olhar divertido e redutivo (quase negacionista) e desumanizador do que algo propriamente desconfortante. Melhor ainda quando é puramente um uso espetacularizado do sofrimento. Choro vende, ainda mais quando dele brotam a borbotões lágrimas europeias e brancas.
Dessa forma, quando busca-se retratar artisticamente um acontecimento tão triste, lamentável e feito pela faceta mais cruel do ser humano, há de se ter o mínimo de consciência de como olhar para isso. Nesse ponto, em especial nessa escolha em específico, reside o melhor de A Zona de Interesse. Premiado em Cannes, indicado ao Oscar 2024 e dirigido pelo ótimo Jonathan Glazer, a obra não faz qualquer questão de relembrar o espectador sobre as generalidades de que o filme se trata. Espera-se que aquele que aceite o desafio de assistir à obra tenha plena consciência do que foi o Holocausto, o que era Auschwitz, o contexto histórico da Segunda Guerra Mundial e tenha consciência acerca da bestialidade dos nazistas.
Mais do que isso, trata-se de um filme sobre especificidades, pequenos gestos e persistências que permitiram com que seres humanos vivessem bucólica e comumente impunes diante de uma das maiores e mais sádicas tragédias dos tempos recentes. A inserção do conflito como sendo a forçada saída da família nazista de Auschwitz para que o pai pudesse escalar ainda mais no exército do reich também é de uma precisa crueldade que só nos demonstra o quão fútil é o valor da vida humana a depender da nacionalidade, etnia, sexualidade, credo religioso, entre outros. A depender de alguns desses fatores, sequer se merece o nobre título de intitular-se ser humano. Acompanhar imageticamente não os agredidos, mas sim os agressores, é uma fenomenal escolha para nos mostrar que não somente eram pessoas reais (monstruosas, abomináveis, inefavelmente condenáveis, e ainda assim seres humanos), mas também para nos colocar na posição de agressores que vivem normalmente enquanto, ao nosso redor, seres humanos são massacrados.
Digo imageticamente pois, em termos sonoros, a obra é completamente diferente. Robert Bresson, em suas Notas para o Cinematógrafo, dizia que enquanto a imagem é o domínio do surreal, do onírico abstrato, é o som quem retoma o teor de real para o filme. Enquanto a fotografia aqui se utiliza de um esquema imagético quase de câmera de segurança, com a simultaneidade gravada das ações, alta profundidade de campo, lentes grande-angulares e a luz estritamente natural gerando imagens que remetem a uma performance artística museográfica e asséptica, a humanização presente na construção sonora sempre se certifica de nos relembrar que aquele distanciamento bucólico e chapado da imagem possui uma razão profundamente sombria e dolorosa.
Não há qualquer espaço para fuga desse simulacro demasiadamente real, e qualquer sinal de humanidade ou está nos sons do outro lado dos muros e dos arames farpados, ou então é fotografado em negativo, em uma escolha visual primorosa. Não há espaço para bondade lá, e quando ela existe, deve ser representada como a antítese da imagem convencional. Trata-se de um cotidiano abominável justamente por ser profundamente simples, e por nos lembrar que catástrofes como essas, onde assassinos escolhem roupas das vítimas para suas esposas e brinquedos para seus filhos, não só podem voltar a acontecer como já, nesse exato momento, acontecem diante de nossos próprios olhos. A cena do casaco de pele sendo escolhido pela abominável personagem de Sandra Hüller é um tapa na cara e um soco no estômago quando vemos um exército genocida, atualmente, posando para fotos com lingeries de mulheres estupradas, brinquedos de crianças assassinadas e bengalas de idosos chacinados por um povo eleito. A História infelizmente está condenada a repetir-se, e a violência é demasiadamente banal e espetacularizada em nosso dia a dia para que algo possa ser feito.
Por mais que o filme seja primoroso em suas escolhas basilares, é justamente no fortalecimento de sua dinâmica cotidiana que os problemas passam a se tornar mais presentes. As escolhas da decupagem mostram-se muito repetitivas mesmo se tratando de um filme sobre cotidiano (quase toda cena é resolvida em plano geral, contraplano também mais aberto e um plano mais próximo), e o teor repetitivo das ótimas atuações, que acabam, na mesma forma que funcionando para mostrar-nos aqueles personagens como personas que poderiam facilmente ser qualquer outra pessoa, tornam-se também elementos dissonantes do meio para o final e abraçam um sadismo que vai totalmente de encontro a toda a ética representativa básica que o filme nos mostrava.
E o que dizer da cena final e das “metáforas”, então? Glazer é um ótimo diretor justamente por como, desde o início de sua carreira, estabelece obras com uma consciência estética muito pessoal e sem torná-las cosméticas, tratando sempre sobre tabus e personagens em situações sensíveis de forma muito humana, como nos mais “convencionais” Sexy Beast e Birth, ainda que sua abordagem seja muitas vezes, como no extraordinário Sob a Pele, a mais performática, antinaturalista e distante possível. O que passa na cabeça de alguém como ele achar de bom gosto colocar metáforas com porcos e o forno da bruxa de João e Maria em um filme sobre o Holocausto? Um dos grandes méritos da obra é justamente não ser didática, mas justamente em suas buscas por uma transcendência moralista (o que por si só já é um absurdo) que as coisas se tornam um beabá e sádicas em um nível quase tão ruim como as obras que citei anteriormente.
Li alguns comentários e críticas que acusavam o filme de ser uma negação do Holocausto e acho isso de uma falta de noção e analfabetismo cinematográfico abissais, especialmente ao compararmos A Zona de Interesse com outras obras sobre o genocídio. Ainda mais por ser um filme sobre especificidades e pequenos gestos, e não sobre closes em rostos e lágrimas. Trata-se, inclusive, de um olhar muito mais desconfortável sobre um tema que precisa ser retratado de forma desconfortável, ainda mais quando nós somos colocados no lugar dos agressores, visto que somos contemporâneos a inúmeros genocídios e fazemos muito pouco ou rigorosamente nada (isso quando algumas pessoas não prestam solidariedade aos genocidas, saem com suas bandeiras nas ruas, etc.).
É inacreditável, entretanto, como as imagens reais e atuais de Auschwitz são usadas não como uma forma de relembrar-nos da tragédia e da banalidade do mal, mas sim de dar uma certa moral redentora a um personagem abominável e literalmente um dos comandantes das forças de Hitler. Um vômito cinematográfico não era tão falso quanto o de um dos chefes de esquadrões de morte na Indonésia em O Ato de Matar, de Joshua Oppenheimer. Por mais que possa ser a reação de alguém percebendo que todo esse simulacro frio e asséptico é, na verdade, algo demasiadamente real, nada justifica um uso tacanhamente mesquinho de uma montagem alternada. O Código Hays, mesmo em um filme de “fora de Hollywood” e quase seis décadas após seu fim, ainda vive.
Dessa forma, Zona de Interesse é um dos filmes recentes mais bem sucedidos moralmente falando sobre a tragédia que foi o Holocausto, justamente por como subverte nossa noção básica de protagonismo e coloca-nos na mais desconfortável das posições. Quase a totalidade daqueles que se intitulam cidadãos de bem na atualidade estariam do lado de fora dos muros, vivendo normalmente em meio aos gritos e à fumaça no céu. É na dimensão ética, todavia, que residem as problemáticas da obra, justamente por conta de muitas das decisões amarradas de seu realizador, também pela forma como se limitou a alguns dos conceitos mais ficcionais e estadunidenses do cinema.
Na vida real genocidas raramente são punidos, não tem catarses espirituais e muito menos vomitam quando percebem as consequências de suas ações. Por mais amoral que pareça, manter um personagem abominável impune em uma obra de arte pode ser, a depender das circunstâncias, a coisa mais ética a se fazer. A banalidade do mal reside justamente no quão cúmplice um artista se propõe a ser, e o fato da arte ser o domínio das reflexões humanas faz com que, enquanto artistas, o lema de jamais perdoar para jamais esquecer deva ser bem compreendido. Lamentavelmente, enquanto sociedade, esse lema foi abandonado há muito, tanto que tal tragédia se repete diante de nossos próprios olhos, e escolhemos direcionar nossa vista para as flores de nosso jardim e não para as vidas ceifadas fora dos muros e arames farpados de nossos confortabilíssimos simulacros.

O tempo que os jogadores jogam entre si na Seleção facilita muito. Quanto mais tempo você fica junto, mais facilita o desempenho e entendimento entre todos os atletas", defende

Registro que gerou repercussão foi feito após a premiação, que rendeu a Lady Gaga a estatueta de melhor canção original

Lista de vencedores representa cada vez mais a diversidade, mudando a característica da premiação, que sempre se preocupou mais com a promoção de seus blockbusters