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O escritor britânico Malcolm Lowry (1909-1957) é mais conhecido, no Brasil, por seu romance “À Sombra do Vulcão”. Em 1944, quando passava uma temporada no Canadá, a cabana de um pescador na qual havia se hospedado pegou fogo. O escritor britânico salvou o manuscrito de “À Sombra do Vulcão”, mas outro manuscrito, de mil páginas, queimou inteiramente. Malcolm Lowry estava escrevendo o romance “Rumo ao Mar Branco” (“In Ballast to the White Sea”) havia nove anos. Durante anos, não se falou mais no assunto. Porém, em 2000, revela José Riço Direitinho, no jornal “Público” (edição de 30 de maio), Jan Gabrial, primeira escritor do escritor, apresentou uma versão menor da obra. “O romance — uma espécie de ‘elo perdido’ entre ‘Ultramarina’ (1933), o seu primeiro livro, ‘À Sombra do Vulcão’ [publicado em Portugal como ‘Debaixo do Vulcão’, 1947] — viria a ser publicado em 2014”. O poeta Daniel Jonas traduziu e prefaciou “Rumo ao Mar Branco”, para a Editora Livros do Brasil, de Portugal. No prefácio, Daniel Jonas escreve: “É claro que este esqueleto de ‘In Ballast’, não sendo propriamente o cadáver do romance enfunado de Lowry, não deixa de se constituir como uma espécie de caveira sobre a qual espreitamos num afã anatomo-patológico de tentarmos imaginar como seria a sua carne, a sua pele e as suas feições”. O romance é uma obra inacabada. Malcolm Lowry cultivava a “estética do excesso”. O resenhista sublinha que o romance, que ficou menor do que o autor pretendia, “idealmente excessivo teve o fogo como grande editor. Na verdade, grande da enorme qualidade literária das obras do autor inglês deve-se exatamente a esse ‘excesso’, ao nível de profundidade a que por vezes chega com o excesso de efeitos aplicados na escrita, incluindo múltiplas intertextualidades e contínuos diálogos surdos com autores que são sempre convocados”.