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28 livros imperdíveis que são diamantes para o cérebro de crianças e adolescentes

Bons livros para crianças e adolescentes são eternos, e podem ser lidos por adultos com prazer. Muitos livros infanto-juvenis, mesmo de qualidade mediana, se tornaram clássicos. As obras de Alexandre Dumas, Monteiro Lobato, Ruth Rocha, Irmãos Grimm, Lygia Bojunga, H. C. Andersen e Ana Maria Machado não morrem jamais. “Meninos da Rua Paulo”, de Ferenc Mólnar, para ficar num exemplo, é um clássico universal e atemporal. São para sempre.

O que me diz Louise

“O que me diz, Louise?”, de Slade Morrison e Toni Morrison

Nobel de Literatura, a americana Toni Morrison é uma escritora notável. O livrinho “O Que Me Diz, Louise?” é uma celebração da leitura, da cultura, do aprendizado. Sobretudo, do prazer e não da obrigação de ler. Mesmo num dia chuvoso, Louise sai de casa em busca de um refúgio quase secreto: a biblioteca, espécie de porta aberta para todas as coisas do mundo. A biblioteca, com seus vários livros, transforma os seres humanos e, daí, o mundo. Ah, o livro nada tem de chato. (Glo­binho, 32 páginas, tradução de José Rubens Siqueira, ilustração de Shadra Strickland)

“O Pequeno Nicolau”, de Sempé-Goscinny

O Pequeno Nicolau

Com ilustrações de Jean-Jacques Sempé, o livrinho aparentemente despretensioso escrito pelo francês René Gos­cin­ny, criador de Asterix, que viveu em Buenos Aires durante a infância e parte da juventude, narra em primeira pessoa as aventuras do menino Nicolau. Contando suas experiências na escola, em casa com os pais e com os amigos, Nicolau diverte e ao mesmo tempo apresenta uma narrativa de como uma criança percebe o mundo ao seu redor. Para os interessados pela língua francesa, vale a pena ler o livro no original. A prosa da obra é fluente, precisa e acessível (Mar­tins Fontes, 136 páginas).

“20 mil léguas submarinas”, de Júlio Verne

20 mil leguas submarinas

A edição contém o tex­to integral e 30 ilustrações originais. Um dos criadores da ficção científica, Júlio (Jules) Verne é uma espécie de Nos­tradamus da literatura e, mesmo, da ciência. Invenções às quais não teve acesso, pois morreu em 1905, foram anunciadas em seus livros. Prisioneiro do capitão Nemo, o professor Aronnax e Ned Land vivem a bordo do submarino Náutilus. Sem o didatismo de alguns autores, privilegiando a imaginação, a sua e a dos leitores, Verne mostra a riqueza do mundo marinho. (Zahar, 472 páginas, tradução de André Telles)

“O Jardim Secreto”, de Frances Rodgson Burnett

O Jardim Secreto

O romance “O Jardim Secreto”, de Frances Rodgson Burnett, é sobre o encontro entre uma menina e um menino, sobretudo é uma celebração da amizade entre dois seres e a descoberta, por assim dizer, do mundo. O garoto vive numa cama, mais morto do que vivo, até a chegada de uma menina esperta que injeta vida em seu ser e o retira do quarto. Juntos, descobrem um jardim secreto e uma história, que, como o belo jardim, não pode mas é devassada. (Há duas traduções de qualidade pela Editora 34, de Marcos Maffei, e pela Companhia das Letras/Penguin, de Sônia Moreira. Há uma bela edição, em pop art, da Publifolha)

“4 Contos”, de e. e. cummings

4 Contos

Não estranhe: é assim mesmo — e. e. cummings. É como o poeta assinava seus livros, com minúsculas. Todos conhecem cummings como um poeta extra­or­dinário, traduzido no Brasil por Augusto de Campos. No seu único livro para crianças, o bardo mostra que tem a imaginação adequada. Os contos versam sobre nascimento, amor. Quem aprecia Tolkien não se espantará com o elfo criado pelo vate americano. Imagine um elefante que tem carinho por uma borboleta e uma casa, meio solitária, que se declara apaixonada por um passarinho. Há duas meninas, Eu e Você. Lúdico e inteligente. (Cosac Naify, 48 páginas, tradução de Cláudio Alves Marcondes, ilustrações de Eloar Guazzelli)

“Vozes no Parque”, de Anthony Browne

Vozes no Parque

Anthony Browne ganhou o prê­mio Hans Chris­­­tian An­dersen, o No­­bel da literatura infanto-juvenil. O li­vro convida o leitor para pensar sobre a diversidade do mundo, sobre a interpretação dos fatos. Um passeio, feito num parque, é relatado por quatro vozes diferentes, com suas nuances. Resulta que um passeio pode ser muitos passeios, ao incorporar vozes diversas. “Um convite para nos colocarmos no lugar do outro, para ampliarmos nosso horizonte e para pensarmos sobre algumas questões como o isolamento, a amizade e as coisas estranhas em meio ao familiar”, segundo a editora. Atente-se para as ilustrações. (Zahar, 32 páginas, tradução de Clarice Duque-Estrada)

“Huckleberry Finn”, de Mark Twain

Huckleberry Finn

Pense em Mark Twain como o Mon­teiro Lobato dos Estados Uni­dos, com uma pitada a mais de humor. O menino Huck Finn é esperto, inteligente e até malandrinho. Suas histórias divertidas sempre levam o leitor a sorrir. É quase um romance de formação, preciso e enxuto. O menino amadurece durante suas peripécias. Fica-se com a impressão, às vezes, de que Huck Finn é um menino-adulto ou um adulto-menino. É o mais importante livro da literatura juvenil (ou infanto-juvenil) dos Estados Unidos, inclusive adaptado para o cinema. (L&PM, 320 páginas, tradução de Rosaura Eichenberg. Há outra edição. A leitura em inglês talvez seja mais proveitosa)

“As aventuras de Robin Hood”, de Alexandre Dumas

As aventuras de Robin Hood

Robin Hood é um clássico da literatura universal (poucas pessoas não sabem quem é). As histórias estabelecidas por Alexandre Dumas são as mais bem cuidadas e são ambientadas nos séculos 12 e 13, sob o reinado de Ricardo Coração de Leão. O criminoso que rouba dos ricos para doar aos pobres é admirador do rei Ricardo e batalha para que volte ao trono. Nas matas de Sherwood e Barnsdale, Robin Hood e seus aliados, como João Pequeno, lutam contra o xerife de Nottingham e os soldados do rei usurpador. Há também a bela Lady Marian, paixão de Robin Hood, e o frei Tuck, seu aliado. (Zahar, 472 páginas, tradução de Jorge Bastos)

“Os Meninos da Rua Paulo”, de Ferenc Molnár

os Meninos da Rua Paulo

O húngaro Ferenc Molnár escreveu um dos mais belos livros juvenis (que todo adulto lê com prazer). Paulo Rónai, húngaro que veio para o Brasil fugindo do nazismo, é o exímio tradutor desta obra-prima. Ele escreveu o prefácio e o poeta e tradutor Nelson Ascher é autor do posfácio e das notas. Brigas de meninos, nas ruas de Budapeste, no século 19, poderiam render uma reportagem de jornal. Nas mãos de Ferenc Molnár resultaram num romance delicioso, escrito com graça e grande compreensão do universo dos garotos. (Cosac Naify, 70 páginas)

“Os três mosqueteiros”, de Alexandre Dumas

Os três mosqueteiros

Uma das graças do livro do escritor francês Alexandre Dumas é saber que os três mosqueteiros são, na verdade, quatro — Athos, Por­thos, Aramis e D’Artagnan. O romance de capa e espada se tornou universal. A versão brasileira, integral, contém mais de 100 ilustrações originais. A editora disponibiliza duas edições — uma mais barata e outra mais sofisticada. Os quatro heróis permanecem encantando os leitores. Não só. A história, levada ao cinema, encanta os espectadores. (Zahar, 688 páginas, tradução de André Telles e Rodrigo Lacerda)

“O Pequeno Príncipe”, Saint-Exupéry

O Pequeno Principe

Há um preconceito intelectual contra este belo livro, so­bretudo no Bra­sil. Crianças e adolescentes (se não tiverem ab­sorvido a ranzinzice dos adultos) podem lê-lo com proveito. As mensagens podem soar piegas, num mundo feito de racionalismo consumista e sempre apressado, mas a história, com suas frases (dizem que moralistas), é bonita. Vale ler a tradução, mais madura e precisa, de Ferreira Gullar. O livro, na pena do maior poeta brasileiro vivo, ficou mais adulto. (Agir, 96 páginas)

“Grande Sertão: Veredas”/graphic novel, de Guimarães Rosa

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“Grande Sertão: Veredas, dirão, não é romance para crianças e adolescentes. De fato, não é. Porém, “Grande Sertão: Ve­redas”/graphic novel, de tão bem adaptado e, até, facilitado, pode ser lido por jovens atentos. O roteiro é de Eloar Guazzelli e a arte, de Rodrigo Rosa. O livro de Guimarães Rosa é uma das obras realmente imperdíveis da literatura brasileira. (Globo Livros, 180 páginas. O único problema é o preço: 199,90 reais)

“Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato

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O Brasil está cada vez mais urbano, com espaço cada vez menor para a área rural. Crianças, adolescentes e mesmo adultos sabem cada vez menos sobre assuntos que tenham a ver com o campo. O belo “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, se torna, portanto, mais interessante do que nunca. Porque põe seus leitores em contato com a natureza, com um garoto que inventa coisas para se divertir. Hoje, tirar uma criança das teclas de computadores e smartphones não é fácil. Monteiro Lobato, com sua rica imaginação, às vezes pecando por certo didatismo, provavelmente ainda consegue encantar as crianças e, até, os adolescentes. (Globinho, 72 páginas)

“O Menino e o Tuim”, de Rubem Braga

O Menino e o Tuim

O cronista Rubem Braga prova que sabe escrever para crianças com a história “O Menino e o Tuim”. O livro mostra a relação de uma criança com um passarinho. “Além de todo encantamento e alegria de ter um bichinho, o menino é forçado a lidar com as obrigações, necessidades e dilemas que vêm junto com o animalzinho quando ele é domesticado. Com uma linguagem sensível e poética, Rubem Braga capta toda a emoção de uma amizade pura e sincera e outras experiências transformadoras da infância”, sintetiza a editora. (Galerinha Record, 24 páginas)

“Andira”, de Rachel de Queiroz

Andira

Andira é uma criança? Não, Andira é uma andorinha-criança, quer dizer, um filhote. Pequena, e como não sabe voar, as demais andorinhas, que se preparam para migrar no inverno, deixam-na para trás. Como muitas andorinhas, Andira nasceu numa igreja e, na ausência dos parentes, é criada por morcegos. Estes se tornam seus mestres. (José Olympio, 64 páginas, ilustrações de Cláudio Martins)

“Marcelo, Marmelo e Martelo”, de Ruth Rocha

Marcelo Marmelo e Martelo

Ruth Rocha conhece como poucos o que se passa pela cabeça das crianças e adolescentes. Ela escreve com uma clareza impressionante e não subestima seus leitores. Por isso seus livros são tão lidos e adorados. Em “Marcelo, Marmelo e Martelo”, a escritora explora a vida de meninos que moram na cidade. São garotos espertos e ativos. Marcelo é um criador de palavras novas. Nas livrarias podem ser encontradas as belas e precisas adaptações que Ruth Rocha fez para a “Ilíada” e a “Odisseia”, de Homero”, e “Tom Sawyer”, de Mark Twain. Crianças ganham, muito, se lerem as adaptações. (Salamandra, 64 páginas, ilustrações de Mariana Massarani)

“A História de Emília”, de Monteiro Lobato

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Talvez seja possível dizer que Monteiro Lobato inventou a literatura infantil e infanto-juvenil no Brasil. Suas histórias não perdem vitalidade e permanecem modernas, ou, diria Carlos Drummond de Andrade, eternas. O escritor era um homem sisudo, mas tinha uma capacidade de imaginação imensa e, principalmente, não menosprezava a capacidade de entendimento de crianças e adolescentes. A história de Emília, uma boneca falante, é uma de suas principais criações Mexe com a percepção criadora das crianças. O curioso é que a personagem, com sua irreverência, agrada tanto meninas quanto meninos. É tão moleca, esperta e divertida quanto qualquer criança. (Globinho, 32 páginas)

“Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos

Meu Pé de Laranja Lima

O romance “Meu Pé de Laranja Lima” não deixa de ser piegas e, em alguns momentos, até primário. A exploração do sentimentalismo ganharia se incluísse, de modo mais incisivo, o humor, o riso (o mundo infantil raramente é tão lamentoso). Mas uma coisa é certa: José Mauro de Vasconcelos sabe comover crianças, pelo menos as do meu tempo de menino (entre as décadas de 1960 e 1970). A história do menino e do Portuga tem um quê de Mark Twain? Um quê, no caso, significa uns 20%. (Melhoramentos, 192 páginas)

“O estribo de prata”, de Graciliano Ramos

O estribo de prata

“Vidas Secas” é, cla­ro, um roman­ce adulto. Mas a história de Fabiano e da cachorra Baleia pode ser lida com proveito por jovens perceptivos. “O Estribo de Prata” é, ao contrário, um livro mesmo para garotos. Trata-se de um causo contado por Alexandre, um misto de caçador e vaqueiro. Simples, direto e muito bem escrito. Menos seco que a prosa tradicional de Graciliano Ramos. Há, por assim dizer, um pouco mais de emoção. (Galerinha Record, 24 páginas, ilustrações de Simone Matias)

“A Menina Cláudia e o Rinoceronte”, de Ferreira Gullar

A Menina Cláudia e o Rinoceronte

Ao criar colagens, o poeta Ferreira Gullar decidiu escrever “A Menina Cláudia e o Rinoceronte”. A garota, brincando com papel picado, “cria um rinoceronte. Ela toma gosto e logo faz vários outros, um de cada cor, era muita alegria inventar todo aquele novo e fantástico universo. Até que sua própria criação a surpreende obrigando a menina a embarcar numa incrível jornada e tanto pelos recortes de papel. Toda a história é contada por Gullar através de poemas leves e divertidos. Um livro lindo, uma verdadeira obra de arte visual com texto sensível e envolvente”, anota a editora. (José Olympio, 48 páginas)

“Raul da Ferrugem Azul”, de Ana Maria Machado

Raul da Ferrugem Azul

Ganhadora do Prêmio Hans Chris­tian Andersen, Ana Maria Machado é autora de livros de alta qualidade, como “Raul da Ferrugem Azul”, “História Meio ao Contrário?” e “Bisa Bia Bisa Bel”. Raul aparece com manchas azuis em todo o corpo. Depois de se lavar, usando xampu, álcool e detergente, conclui que tem ferrugem azul. A escritora conta a história com graça e sempre levando em consideração que o leitor é inteligente e perspicaz. (Salamandra, 64 páginas, ilustrações de Rosana Faria)

“A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga

A Bolsa Amarela

Lygia Bo­junga é uma escritora de livros infanto-juvenis? Consagrou-se assim. Acima de tudo, é uma grande escritora. Em conflito com a família e consigo mesma, uma menina esconde na sua bolsa “três grandes vontades”: “a de crescer, a de ser garoto e a de se tornar escritora”. Afinal, criança tem vontade ou sua vontade é a dos adultos? A garota relata como é seu cotidiano, intercambiando o mundo real, no qual vive com a família, e seu próprio mundo, no terreno da imaginação. (Casa Lygia Bojunga, 134 páginas)

“Histórias da Velha Totônia”, de José Lins do Rego

Histórias da Velha Totônia

José Lins do Rego tem livros magníficos sobre a infância. “Me­nino de Enge­nho”, às vezes subestimado, é um belíssimo romance. O es­critor paraibano escreve muito bem sobre meninos. “Quisera que todos eles (os meninos) me ouvissem com a ansiedade e o prazer com que eu escutava a velha Totônia do meu engenho”, disse o autor paraibano. A linguagem coloquial, oralizada, torna o livro extremamente acessível, divertido e delicioso. (José Olympio, 120 páginas)

“17 É Tov!”, de Tatiana Belinky

17 e Tov

Tatiana Belinky nasceu na Rússia e veio cedo para o Brasil. Traduziu para o português Gógol e Tchekhov, sempre com mestria. Ao mesmo tempo, escreveu belos livros no campo infanto-juvenil — com a percepção de que a criança e o adolescente são inteligentes e dispensam didatismos excessivos. “Em ‘17 É Tov!’ ela descreve os primeiros 17 anos em São Paulo, por meio de crônicas divertidas e bem-humoradas. Desde a chegada no bairro paulistano de Hi­gienópolis até o casamento de seu irmão com uma prima, a autora narra casos que marcaram sua vida e sua experiência em um novo país”. Suas memórias, escritas com leveza, são divertidas e atentas. (Cia das Letrinhas, 88 páginas, ilustrações de Maria Eugênia)

“A Árvore dos Desejos”, de William Faulkner

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O escritor americano William Faulkner é mais conhecido por seus romances mais complexos, como “O Som e a Fúria”, “Luz em Agosto”, “Absalão, Absalão” e “Enquanto Agonizo”. “A Árvore dos Desejos”, ao contrário dos chamados livrões, é escrito numa prosa mais simples e acessível. O menino Maurice convida a garota Dulcie para saírem em busca da Árvore dos Desejos. Eles vão para a floresta, ao lado de outras crianças. O Nobel de Literatura manipula bem o entrelaçamento entre o real e o fantástico. (Cosac Naify, 56 páginas, tradução de Leonardo Fróes, ilustrações de Eloar Guazzelli)

“Os Gatos de Copenhague”, de James Joyce

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O autor de “Ulysses”, James Joyce, escrevendo para crianças? Sim e, melhor, o faz muito bem. “Os Gatos de Copenhague”, com qualificada tradução de Dirce Waltrick do Amarante, é divertido. O autor de “Ulysses” envia, da Dinamarca, uma carta para seu neto Stephen Joyce, na qual conta a história de que não há gatos em Copenhague. Que o leitor não se assuste: a história é simples, sem as firulas experimentais dos outros textos do escritor irlandês. (Iluminuras, 24 páginas, ilustrações de Michaella Pivetti)

“Discurso do urso”, de Júlio Cortázar

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O escritor argentino Julio Cor­tázar é mais conhecido por “O Jogo da Amarelinha”, romance para adultos. O conto poético “O Discurso do Urso”, seu primeiro texto infantil, versa “sobre a vida e os seres humanos, vistos através dos olhos de um ursinho que vive passeando pelos canos dos prédios. Neste vai e vem ele ouve conversa e explora” o “cotidiano” das pessoas — “e suas qualidade e imperfeições — com curiosidade, deslumbre e audácia”, ressalta a editora. (Galerinha Record, 28 páginas, tradução de Léo Cunha)

“Caninos Brancos”, de Jack London

Capa

Jack London é um escritor brilhante, porém, como pouco dado a firulas experimentais, às vezes é sugerido como do segundo time. O autor de “O Cha­mado Selvagem” é responsável, em larga medida, pela formação e ampliação do número de leitores. Sua prosa é de qualidade, densa e, ao mesmo tempo, simples. Pode ser lida, com igual prazer, por crianças, adolescentes e adultos. “Caninos Brancos” é um de seus mais belos romances. Um lobo do Yukon, aprisionado, é utilizado como puxador de trenó e como cão de rinha. Resgatado por um homem “não-selvagem”, readquire, por assim dizer, sua “dignidade” e, aos poucos, volta à natureza. As relações homem-natureza são mostradas com rara felicidade por Jack London. A história foi adaptada para o cinema, mas nada substitui a leveza contagiante do texto do escritor americano (há pelo menos duas traduções de qualidade. Sônia Moreira é responsável pela da Companha das Letras/Penguin, com 296 páginas, e Rosaura Eichenberg fez a da L&PM, com 232 páginas)

Uma lista para adultos

https://jornalopcao.com.br/colunas/imprensa/25-livros-que-sao-diamantes-para-o-cerebro

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35 livros que são diamantes para o cérebro

O “filósofo” Millôr Fernandes escreveu que livro não enguiça. Tem razão. E dura mais do que automóveis, roupas, sapatos. Livros, como diamantes, são eternos — daí o título, conectando livros e diamantes a cérebro. A maioria dos livros citados na lista a seguir pode ser encontrada nas livrarias brasileiras, como Nobel (shopping Bougainville), Leitura (Goiânia Shopping) e Saraiva (shopping Flamboyant). Alguns podem ser encomendados nas livrarias Cultura (www.cultura.com.br) e Amazon (www.amazon.com.br). Outros (usados) podem ser adquiridos no Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br) e no Livronauta (www.livronauta.com.br). Para comprar livros usados no exterior, em várias línguas, consulte o Bookfinder (www.bookfinder.com). No período de Natal e Ano Novo, vale, e muito, presentear (com) livros. Outras listas:  https://jornalopcao.com.br/colunas/imprensa/25-dos-melhores-livros-sobre-o-golpe-de-1964-e-a-ditadura-civil-militar-que-acabou-em-1985 https://jornalopcao.com.br/colunas/imprensa/25-livros-que-sao-diamantes-para-o-cerebro imprensa_20570007“Vladimir Nabokov — Los Años Americanos”, de Brian Boyd A prosa de Vladimir Nabokov tem sido traduzida de maneira competente por Jorio Daus­ter, entre outros. Falta publicar a excelente biografia “Vladimir Nabokov — Os Anos Russos” e “Vladimir Nabokov — Os Anos Americanos”, de Brian Boyd. O segundo volume é mais importante, pois conta a história da melhor fase literária do russo que se considerava americano. Como nas melhores biografias, não se trata tão-somente de um estudo da vida do criador do romance “Lolita”, mas também um exame exaustivo de sua obra. (Anagrama, 966 páginas, tradução de Daniel Najmías.) imprensa_20570001“Max Perkins — Um Editor de Gênios”, de A. Scott Berg Se você quer saber como foram editados livros de Thomas Wolfe, Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, para citar apenas três, precisa ler “Max Perkins — Um Editor de Gênios”, de A. Scott Berg, que ganhou o Pulitzer. Como era editar o autor de “O Grande Gatsby”? “Scott foi sempre o cavalheiro. Às vezes precisava de apoio extra, e de estímulo para ficar sóbrio, mas escrevia de forma tão rica que valia a pena.” Era perfeccionista. Quanto a Hemingway, mentia um pouco. Sobre seu papel: “Um editor não acrescenta coisa alguma a um livro. A melhor obra de um escritor deriva integralmente dele mesmo.” Ele disse também: “Não há nada tão importante quanto um livro”. (Intrínseca, 541 páginas, tradução de Regina Lyra) imprensa_20570002“Lealtad y Traición — Jorge Semprún y su siglo”, de Franziska Augstein O comunista espanhol Jorge Semprún (1923-2011) tem uma história das mais interessante. Participou das lutas políticas na Espanha, foi perseguido pelo governo de Francisco Franco e foi aprisionado num campo de concentração dos nazistas. Sobreviveu e escreveu vários livros — romances, relatos. É uma das grandes personalidades do século 20. A biografia escrita pela jornalista alemã não tem o objetivo de diminuir sua rica história, porém, ao nuançá-la, exibe um Semprún mais complexo e nem sempre ético. Em 1949, a escritora Marguerite Duras e Robert Antelme foram denunciados à direção do Partido Comunista Francês por “desvios políticos”. Semprún passou a vida negando que tenha sido ele o autor da denúncia. Augstein prova que foi o escritor espanhol. (Tusquets Editores, 455 páginas, tradução de Rosa Pilar Blanco) imprensa_20570005“Cheever — Una Vida”, de Blake Bailey O contista e romancista americano John Cheever (1912-1982) deixou uma prosa de alta qualidade, às vezes escondida pela fama de Saul Bellow, John Updike e Philip Roth. No Brasil, além dos romances, saiu a coletânea “28 Contos de John Cheever” (Companhia das Letras, 360 páginas, tradução de Jorio Dauster e Daniel Galera). Blake Bailey enfrentou sua vida complexa e escreveu uma biografia monumental, enfrentando inclusive a história de sua homossexualidade (era crítico ferrenho dos homossexuais, mas mantinha relações sexuais com homens). “Uma página de boa prosa sempre será invencível”, disse. Updike e Malcolm Cowley estavam entre seus admiradores. (Duomo Ediciones, 885 páginas, tradução de Ramón de España.) imprensa_20570008“Paradiso”, de José Lezama Lima Pense no Guimarães Rosa de Cuba. Pois o País do Caribe talvez seja lembrado, daqui a 100 anos, menos pela ditadura de Fidel Castro e Raul Castro e mais pela prosa e poesia de Lezama Lima. Trata-se do maior escritor da terra de José Martí. Saiu no Brasil este ano a nova tradução do romance (de formação, barroco) “Paradiso”. É uma obra-prima universal. A tradução de Josely Vianna Baptista é esmerada e fluente. Parece que se está lendo o livro em espanhol, tal a proximidade com o original. (Es­tação Liberdade, 612 páginas) 85000456“Odisseia”, de Homero O Brasil é um país de sorte: há várias traduções do livro “Odisseia” (640 páginas), do grego Homero. E traduções de qualidade, como as de Carlos Alberto Nunes, Donaldo Schüler e Trajano Vieira. Agora, Christian Werner traduz o longo poema numa linguagem coloquial, mas sem pedanteria. O posfácio é do escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, com apresentação de Richard Martin, com textos de Franz Kafka e do poeta Konstantinos Kaváfis. A edição da Cosac Naify é primorosa. Há duas versões — uma popular e uma de luxo (mais cara). Mesmo a popular é de excelente qualidade. images“Luís Carlos Prestes — Um Revolucionário Entre Dois Mundos”, de Daniel Aarão Reis O doutor em história Daniel Aarão Reis entra, com esta excelente biografia sobre o líder comunista Luís Carlos Prestes, para o seleto círculo dos grandes biógrafos, como Fran­cisco de Assis Barbosa, Fernando Morais, Ruy Castro e Lira Neto. Prestes sai com a estatura adequada da pesquisa exaustiva do professor da Universidade Federal Fluminense. Nem menor, nem maior. O livro é nuançado e sólido. É uma radiografia do século 20, notadamente da história brasileira. (Companhia das Letras, 536 páginas) imprensa_20570006“Adolf Eichmann — Historia de un Asesino de Masas”, de Bettina Stangneth A filósofa alemã Hannah Arendt escreveu um livro, “Eich­mann em Jerusalém — Um Relato Sobre a Banalidade do Mal”, e praticamente definiu a história do nazista que chefiava o transporte de judeus para os campos de concentração e extermínio. O que a filósofa Bettina Stangneth mostra, em “Adolf Eichmann — Historia de un Asesino de Masas”, é que a história do nazista precisa ser nuançada. Na verdade, não era apenas um funcionário administrativo, cumpridor de ordens do Estado. Ele estava no topo do segundo escalão, por assim dizer, e, mesmo na Argentina, continuava articulando com nazistas que se escondiam no País. Lia Kant e escrevia muito. (Edhasa, 642 páginas, tradução de Silvia Villegas) imprensa_20570003“Edna St. Vincent Millay — Belleza Selvaje”, de Nancy Milford A poeta norte-americana Edna St. Vincent Millay (1892-1950) en­cantou de seu conterrâneo Edmund Wilson aos vates brasileiros Carlos Drum­mond de Andrade e Manuel Bandeira. No entanto, fora poesias publicadas em coletâneas, não há nenhum livro de sua autoria editado em português. Sua história lembra a de Pagu, guardadas as diferenças, lógico. Sua poesia é importante e influenciou gerações. Em termos comportamentais, era uma revolucionária. Nancy Milford nota, na excelente biografia, que “foi precursora da nova mulher. Fumou em público quando era ilegal que as mulheres o fizessem”; saiu com homens e mulheres, era independente e muito bonita. Acima de tudo, poeta relevante. (Circe, 635 páginas, tradução de Beatriz López-Buisán) 15068233“O Paraíso Reconquistado”, de John Milton O poeta britânico John Milton é sempre apresentado assim: “segundo maior poeta inglês, abaixo apenas de Shakespeare”. Harold Bloom, que “acha” que Shakespeare “inventou” Homero e o homem moderno, nem se fala. Os críticos podem até ter razão, mas Milton é um grande poeta, como prova “Paraíso Perdido”. Agora os brasileiros ganham “Paraído Reconquistado”. É a segunda parte do primeiro livro. (Cultura, traduzido por Guilherme Gontijo Flores e quatro profissionais, ilustrado por William Blake, 304 páginas) imprensa_20570004“O Difícil Exercício das Cinzas”, de Ronaldo Costa Fernandes Poeta que dialoga com a tradição, sem considerá-la como superada ou montanha intransponível, Ronaldo Costa Fernandes é dotado de rara sofisticação. No caso, isto não tem a ver com pomposidade ou grandiloquência. Aqui e ali, há discurso, no que não há mal algum, pois o poeta vive no mundo, sob as agruras do real. Mas sua arte cresce quando põe as palavras para bailar, criando elos entre elas como se fossem braços entrelaçados. (7 Letras, 91 páginas) imprensa_20570013“História Concisa da Língua Portuguesa”, de Renato Miguel Basso e Rodrigo Tadeu Gonçalves O livro “História Concisa da Língua Portuguesa” tende a passar batido fora do mundo acadêmico, embora seja destinado a um público mais amplo. É um verdadeiro tesouro produzido por dois acadêmicos que escrevem com o máximo de clareza. Os autores contam a história do latim e, em seguida, indicam como o português “surgiu”. O “concisa” do título não significa que se trata de uma obra simplista. É densa e simples. (Vozes, 325 páginas) imprensa_20570012“O Português Brasileiro — Formação e Contrastes”, de Volker Noll O livro “O Português Brasileiro” resulta da tese de livre docência do alemão Volker Noll, apresentada na Universidade de Göttingen. Trata-se de um livro extraordinário, que nós, brasileiros, devemos (e precisamos) ler. Não deixa de ser interessante que um scholar alemão seja o responsável por um livro que examina a especificidade, se há, da língua que se usa no Brasil. A pesquisa é detalhada e é quase uma história do Brasil contada por intermédio da língua. (Globo, 399 páginas, tradução de Mário Eduardo Viaro) 15067563“O Irmão Alemão”, de Chico Buarque O compositor Chico Buarque é menos questionado do que o escritor Chico Buarque. É fato que tem sido estudado de maneira empática por Roberto Schwarz, mas parte dos críticos acadêmicos torce o nariz. O romance “O Irmão Alemão” relata a história de um irmão do artista-prosador, nascido na Alemanha, na década de 1930. Era uma história nebulosa e o historiador Sérgio Buarque de Holanda não conheceu o filho. Chico escarafunchou a vida de Sérgio Günther e, finalmente, o revela para o leitor. (Com­panhia das Letras, 239 páginas) imprensa_20570010“Vida e Destino”, de Vassili Grossman O romance “Vida e Destino”, de Vassili Grossman (1905-1964), é simplesmente o maior romance russo do século 20 (muito acima de “Doutor Jivago”, de Boris Pasternak), om­breando, em densidade narrativa, com o romance “Guerra e Paz”, de Liev Tolstói, sua clara inspiração. Perseguido pelo stalinismo, que censurou o livro, Grossman não pôde ver a sua publicação, anos depois de sua morte. O livro trata da Segunda Guerra Mundial e, claro, da vida sob o stalinismo (daí a censura e apreensão dos originais). O leitor brasileiro tem sorte: Irineu Franco Perpetuo traduziu a obra diretamente do russo, e muito bem, e a edição da Alfaguara (915 páginas) é caprichada. Franco Perpetuo é autor de um prefácio curto mas instrutivo. “Vassili Gros­sman é o Tolstói da URSS”, disse o inglês Martin Amis. É um dos grandes lançamentos do ano. imprensa_20570009“Primo Levi”, de Ian Thomson Ao lado de Italo Calvino e Carlo Emilio Gadda, Primo Levi é um dos grandes escritores italianos do século 20. Judeu, foi enviado para o campo de extermínio de Auschwitz, mas sobreviveu. Trabalhou como químico e escreveu vários livros, os mais candentes, como “É Isto um Homem?”, sobre a vida no campo nazista. Seu testemunho é acatado inclusive por historiadores profissionais. Era um homem reservado e avaliava que devia contar sua própria história. Mas o jornalista inglês Ian Thomson decidiu escavar mais fundo e publicou um livro (exemplar) que resgata um Primo Levi que, apesar de seus depoimentos, não conhecíamos ou conhecíamos pouco. (Belacqva, 743 páginas, tradução de Julio Paredes) 11038214“O Museu da Inocência”, de Orhan Pamuk “O Museu da Inocência”, do Nobel de Literatura turco Orhan Pamuk, é um belo e trágico romance. O núcleo do livro é a história de um homem, jovem, que se apaixona por uma mulher e luta para ficar perto dela, mas sempre há algo impedindo. Durante o relacionamento, numa paixão obrigatoriamente platônica, vai colecionando (subtraindo) objetos que pertencem à amada. Pequenas coisas sem importância. Quando tudo parece que vai bem, e se dará o desfecho romântico, ocorre uma tragédia. Ao contar a história do jovem casal, Pamuk (ele próprio personagem) vai exibindo a Turquia, como se fosse um grande museu, ainda que não da inocência. (Companhia das Letras, 567 páginas, tradução de Sergio Flaksman) imprensa_20570011“A Cortina de Ferro — O Fim da Europa de Leste”, de Anne Applebaum Autora de um livro impressionante sobre o Gullag soviético, a historiadora Anne Applebaum publicou outra obra excepcional, “A Cortina de Ferro — O Fim da Europa de Leste”. De quebra, mostra a insuficiência de Hannah Arendt para interpretar a vigência do totalitarismo no Leste Europeu. A pesquisadora anota: “As políticas mais duras impostas no bloco soviético em 1947 e 1948 não foram (...) meramente, e seguramente não só, uma reação à Guerra Fria. Foram também uma reação ao fracasso. A União Soviética e os seus aliados locais não tinham conseguido conquistar o poder pacificamente”. A autora mostra que, apesar do quadro semelhante, havia nuances no stalinismo de cada país, como Hungria, Polônia e Alemanha Oriental. (Civilização Editora, 697 páginas, tradução de Miguel Freitas da Costa) 42744935“A Primeira Guerra Mundial”, de Margaret MacMillan As editoras publicaram livros densos sobre a Primeira Guerra Mundial. Saíram obras de Max Hastings, Peter Englund, Christopher Clark e Niall Ferguson (o mais polêmico). A leitura dos quatro autores dará ao leitor um painel amplo do que foi a Grande Guerra, como era conhecida em seu tempo. Mas vale a pena ler “A Primeira Guerra Mundial”, da historiadora inglesa Margaret MacMillan. A pesquisa é exaustiva e o texto é fluente. É o complemento ideal para os demais livros mencionados. (Globo Livros, 724 páginas, tradução de Gleuber Vieira) 13750_gg“A Festa da Insignificância”, de Milan Kundera O pequeno romance “A Festa da Insignificância”, de Milan Kundera, recebeu uma resenha próxima da mendicância num jornal de São Paulo, que não percebeu a ironia, o humor e a sutileza da história (leituras rápidas às vezes são empobrecedoras). O autor tcheco cometeu o “erro” de sua vida ao obter sucesso com o belo (“mas” popular) “A Insustentável Leveza do Ser”. Comparável a Saul Bellow, Philip Roth, Ian McEwan, John Updike e Joyce Carol Oates, em termos de qualidade literária, Kundera é lido, às vezes, como se fosse um Sydney Sheldon sofisticado. Uma comparação esdrúxula. Outra coisa que choca alguns acadêmicos é o fato de Kundera ser um ensaísta de primeira linha, com textos do balacobaco sobre, por exemplo, Cervantes. (Companhia das Letras, 236 páginas, tradução de Teresa Bulhões) 42272389“O Pintassilgo”, de Donna Tartt O romance “O Pintassilgo”, de Donna Tartt, é Fiódor Dostoiévski e Charles Dickens transplantados para os tempos atuais. Porém, ao adaptar a história noutra época, e não no século 19, a escritora americana recria seus influenciadores, mudando-os. Assim, ela é e não é a Dostoiévski e a Dickens de saia. Há uma certa ironia, talvez uma certa brutalidade feminina (rara de se ver, exceto em Joyce Carol Oates), que a diferencia, definindo uma persona literária específica. De resto, o livro é muito bem escrito e a história é muito boa. Donna Tartt transforma a história policial em grande literatura, poderiam dizer P. D. James e Ruth Rendell (admiradora da prosa de Donna Tartt). Uma crítica negativa de James Wood, num raro momento infeliz, “produziu” parte da crítica patropi, quase sempre colonizada. (Companhia das Letras, 728 páginas, tradução de Sara Grünhagen) 13808_g“A Balada de Adam Henry”, de Ian McEwan O escritor britânico Ian McEwan consagrou-se com a obra-prima “Reparação”, um dos grandes romances do século 21. Mas não deixou de publicar boa literatura. Agora, lança mais um livro apontado como racionalista, ou melhor, contra a suposta irracionalidade das pessoas. No romance que saiu este ano no Brasil, o jovem Adam Henry tem leucemia e precisa fazer uma transfusão de sangue, mas sua família, composta de Testemunhas de Jeová, é contrária. A juíza Fiona Maye, séria e competente, enfrenta a parada, mas, no meio do caminho, surpreende-se com novos fatos e angulações. Espécie de “Reparação” menor, mas de idêntica qualidade. (Companhia das Letras, 200 páginas, tradução de Jorio Dauster) 42128232“Armênio Guedes — Sereno Guerreiro da Liberdade”, de Sandro Vaia Se Luís Carlos Prestes era autoritário e stalinista, o jornalista Armênio Guedes, nos seus anos de militância, tinha um comportamento completamente diferente. Era heterodoxo, porque, mesmo comunista, desconfiava do voluntarismo e do esquerdismo doentio de alguns companheiros de jornada. Mantinha uma relação aberta com integrantes de outros partidos. Talvez seja uma contradição dizer que uma pessoa é comunista e democrata, porque os comunistas em geral veem, ou viam, a democracia como uma etapa para algo “melhor”, o paraíso comunista, e não como um valor universal e ponto de chegada. Ainda assim, Armênio Guedes talvez possa ser considerado como um socialista democrático. Era contra a luta armada e apontou, com clareza, as razões de seu fracasso. (Barcarolla, 254 páginas) 42745345“Sócrates”, de Tom Cardoso Sócrates era um craque nos gramados e o mais politizado dos jogadores de futebol fora deles. No Corinthians e na Se­leção Brasileira fez partidas memoráveis, dando passes magistrais. Era um jogador inteligente. Ao lado de Casa­grande, comandou a democracia corintiana. Era médico e atuou como comentarista esportivo, sempre crítico. Devido ao alcoolismo, morreu cedo. Tom Cardoso diz que era o mais original dos jogadores. A biografia mostra o homem, o cidadão e o jogador de maneira integral, sem proteções e salamaleques. (Objetiva, 264 páginas) 42745179“Pizzolato — Não Existe Plano Infalível”, de Fernanda Odilla O livro de Fer­nando Odilla resulta de um acompanhamento meticuloso da história de Henrique Pizzolato, um dos formuladores do men­salão, ao lado de Mar­cos Valério, Delúbio Soares e José Dirceu. Um formulador menor, é possível, mas ainda assim um partícipe do grupo que criou um meio para financiar (comprar) apoio político. No caso de Pizzolato, há indícios de enriquecimento pessoal. Repórter do primeiro time, Fernanda Odilla mostra, detalhadamente, como Pizzolato saiu do Brasil, escapando para a Argentina e, daí, para a Espanha e, em seguida, para a Itália. (Leya, 320 páginas) 15067596“Tudo ou Nada — Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X”, de Malu Gaspar O livro da repórter Malu Gaspar poderia ter outro título: “Radiografia do Capitalismo Aloprado no Brasil”. Para não dizer, no lugar de “aloprado”, “irresponsável”. A jornalista, ao buscar entender e mostrar como um empresário chegou tão longe, com uma estrutura praticamente de papel, acaba por dissecar um tipo de capitalismo, não inteiramente brasileiro, mas com certa especificidade patropi. É possível que Eike Batista tinha certa consciência dos riscos, mas fica-se com a impressão de que os governantes do PT, como Lula da Silva e Dilma Rousseff, não conseguiram entender o significado das jogadas financeiras do dom Juan. É provável que ele tenha usado as relações com os governantes nacionais para se tornar crível no exterior. (Record, 546 páginas) 42158677“Operação Banqueiro”, de Rubens Valente O repórter Ru­bens Valente escreveu um livro de rara excelência, sem de­nuncismo e sensacionalismo. É óbvio que aqueles que foram desnudados, como o banqueiro Daniel Dantas, não apreciam a pesquisa, sugerindo que não há provas cabais. Mas o leitor perceberá que o que há de sobra neste livro — uma reportagem sobre rapinagem no capitalismo patropi — são provas bem documentadas. “Operação Banqueiro” não é um panfleto. É trabalho de repórter que checa exaustivamente aquilo que investiga e publica. (Geração Editorial, 464 páginas) 42749156“A Rua das Lojas Escuras”, de Patrick Modiano Em Portugal, o romance o Nobel de Literatura Patrick Modiano saiu com o título de “A Rua das Lojas Escuras”. No Brasil, pela Editora Rocco, será publicado, em dezembro, com o título de “Uma Rua de Roma”. O livro é, como sempre nas histórias do autor francês, sobre a memória. Um homem, que trabalhava para uma agência de detetives, perde a memória e tenta se reencontrar. Conversa com várias pessoas, juntando cacos e, aos poucos, vai tentando recompor seu ser. Tem a ver com a história do nazismo, durante a ocupação francesa. Com frases, períodos e capítulos curtos, o livro não faz concessões ao leitor. Não lhe dá nada de bandeja. Patrick Modiano é avaro em esclarecimentos. (Relógio d’Água, 185 páginas, tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira) 42744661“Vale Tudo — O Som e a Fúria de Tim Maia”, de Nelson Motta Morto aos 55 anos, em 1998, Tim Maia era compositor, cantor, músico e, vá lá, “empresário”. Costumava dizer que, embora intelectualizados, Caetano Veloso e Chico Buarque eram passados para trás pelas gravadoras. Ele, pelo contrário, jogava pesado com as múltis. Usuário de drogas — cocaína, maconha e o que aparecesse — e bebum quase profissional, faltava a shows, dava cheques sem fundos e não comparecia às muitas audiências judiciais. Mas era um gênio musical. A biografia de Nelson Motta conta tudo, sem deixar de mostrar o pior do artista, mas o faz com delicadeza. (Objetiva, 389 páginas) 30757766“As Pequenas Mortes”, de Wesley Peres Se você quer ler um autor que vai surpreendê-lo, pela qualidade da escrita, pela economia de recursos para contar uma história e pela densidade ao examinar a vida, não perca tempo: busque a prosa precisa de “As Pequenas Mortes”, de Wesley Peres. O autor começa a despertar interesse no exterior, notadamente na terra do bardo Shakespeare. (Rocco, 120 páginas) 13488_g“Reprodução”, de Bernardo Carvalho Nos nossos tempos de violência física nas ruas e brutalidade verbal nas redes sociais e blogs — nas quais adversários políticos se tratam como inimigos em guerra aberta, com brigas homéricas sendo apresentadas como debates —, nada como ler o excelente romance “Reprodução”, de Bernardo Carvalho. Trata-se de uma ficção que captura, às vezes, com precisão o espírito dos tempos atuais — bárbaros, selvagens, anti-civilização. (Companhia das Letras, 168 páginas) 315437b2-26ea-4e41-96ff-531a7699fca7"Homem invisível", de Ralph Ellison “Homem Invisível” deve ser incluído entre os 10 melhores romances americanos do século 20 (ao lado de “O Grande Gatsby”, “O Som e a Fúria”, “Adeus às Armas”, “O Arco-Íris da Gravidade”, “Coelho Corre”, “A Filha do Coveiro”, “O Teatro de Sabbath”, “Henderson, o Rei da Chuva” e “O Sal da Terra”). Ralph Ellison, um autor requintado, capturou, com rara mestria, a vida complexa dos negros americanos. O registro da brutalização das ruas, como se os personagens estivessem vivendo numa espécie de transe, impressiona. A nova tradução é bem-vinda. (José Olympio, 574 páginas, tradução Mauro Gama) exibe_thumb.asp“Quem Samba Tem Alegria — A Vida e o Tempo de Assis Valente”, de Gonçalo Junior Assis Valente compôs “Boas festas” (“Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”), “Alegria”, “Cai cai balão”, “Camisa listrada”, “Boneca de pano” e “Brasil pandeiro”, clássicos da música popular brasileira. Alguns cantores que gravaram suas músicas: Francisco Alves, Aracy de Almeida, Elza Soares, Isaura Garcia, Márcia, Maria Alcina, Simone, Olívia Byington, Wanderléa, Nara Leão, Maria Bethânia, Zezé Motta, Clara Nunes, Vanusa, Eliete Negreiros, Ney Matogrosso, Paula Toller, Adriana Calcanhotto. O biógrafo contesta sua homossexualidade. Assis Valente matou-se em 1958. (Civi­lização Brasileira, 644 páginas) 15057581“Pensando o Século XX”, de Tony Judt O britânico Tony Judt era uma espécie rara de historiador-filósofo. Ao mesmo tempo que escreveu livros fundamentados de história, publicou obras de reflexão sobre a história e grandes personalidades, como Jean-Paul Sartre e Raymond Aron. “Pensando o Século XX”, escrito com o apoio do historiador Timothy Snyder — Tony Judt estava muito doente —, é importante para se compreender o mundo contemporâneo. “Barack Obama (...) está se mostrando muito hábil no que alguns de nós temiam que fosse sua qualidade saliente — o desejo de ser julgado razoável. Não necessariamente fazer concessões, mas o desejo de ser visto como alguém que faz concessões. O que torna muito difícil liderar.” 42273574“Getúlio” (1945-1954), de Lira Neto A história do Brasil no século 20 ficou mais precisa e lúcida com a publicação da biografia de Getúlio Vargas, em três volumes, pelo jornalista Lira Neto. A trilogia, mais do que um estudo do presidente que fortaleceu o Estado e expandiu a industrialização do País, é um grande mergulho na história do Brasil, dos fins do século 19 até meados da década de 1950. Era o livro que faltava nas bibliotecas. (Companhia das Letras, 448 páginas)