35 livros que são diamantes para o cérebro
06 dezembro 2014 às 22h40
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O “filósofo” Millôr Fernandes escreveu que livro não enguiça. Tem razão. E dura mais do que automóveis, roupas, sapatos. Livros, como diamantes, são eternos — daí o título, conectando livros e diamantes a cérebro. A maioria dos livros citados na lista a seguir pode ser encontrada nas livrarias brasileiras, como Nobel (shopping Bougainville), Leitura (Goiânia Shopping) e Saraiva (shopping Flamboyant). Alguns podem ser encomendados nas livrarias Cultura (www.cultura.com.br) e Amazon (www.amazon.com.br). Outros (usados) podem ser adquiridos no Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br) e no Livronauta (www.livronauta.com.br). Para comprar livros usados no exterior, em várias línguas, consulte o Bookfinder (www.bookfinder.com). No período de Natal e Ano Novo, vale, e muito, presentear (com) livros.
Outras listas:
http://www.jornalopcao.com.br/colunas/imprensa/25-livros-que-sao-diamantes-para-o-cerebro
“Vladimir Nabokov — Los Años Americanos”, de Brian Boyd
A prosa de Vladimir Nabokov tem sido traduzida de maneira competente por Jorio Dauster, entre outros. Falta publicar a excelente biografia “Vladimir Nabokov — Os Anos Russos” e “Vladimir Nabokov — Os Anos Americanos”, de Brian Boyd. O segundo volume é mais importante, pois conta a história da melhor fase literária do russo que se considerava americano. Como nas melhores biografias, não se trata tão-somente de um estudo da vida do criador do romance “Lolita”, mas também um exame exaustivo de sua obra. (Anagrama, 966 páginas, tradução de Daniel Najmías.)
“Max Perkins — Um Editor de Gênios”, de A. Scott Berg
Se você quer saber como foram editados livros de Thomas Wolfe, Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, para citar apenas três, precisa ler “Max Perkins — Um Editor de Gênios”, de A. Scott Berg, que ganhou o Pulitzer. Como era editar o autor de “O Grande Gatsby”? “Scott foi sempre o cavalheiro. Às vezes precisava de apoio extra, e de estímulo para ficar sóbrio, mas escrevia de forma tão rica que valia a pena.” Era perfeccionista. Quanto a Hemingway, mentia um pouco. Sobre seu papel: “Um editor não acrescenta coisa alguma a um livro. A melhor obra de um escritor deriva integralmente dele mesmo.” Ele disse também: “Não há nada tão importante quanto um livro”. (Intrínseca, 541 páginas, tradução de Regina Lyra)
“Lealtad y Traición — Jorge Semprún y su siglo”, de Franziska Augstein
O comunista espanhol Jorge Semprún (1923-2011) tem uma história das mais interessante. Participou das lutas políticas na Espanha, foi perseguido pelo governo de Francisco Franco e foi aprisionado num campo de concentração dos nazistas. Sobreviveu e escreveu vários livros — romances, relatos. É uma das grandes personalidades do século 20. A biografia escrita pela jornalista alemã não tem o objetivo de diminuir sua rica história, porém, ao nuançá-la, exibe um Semprún mais complexo e nem sempre ético. Em 1949, a escritora Marguerite Duras e Robert Antelme foram denunciados à direção do Partido Comunista Francês por “desvios políticos”. Semprún passou a vida negando que tenha sido ele o autor da denúncia. Augstein prova que foi o escritor espanhol. (Tusquets Editores, 455 páginas, tradução de Rosa Pilar Blanco)
“Cheever — Una Vida”, de Blake Bailey
O contista e romancista americano John Cheever (1912-1982) deixou uma prosa de alta qualidade, às vezes escondida pela fama de Saul Bellow, John Updike e Philip Roth. No Brasil, além dos romances, saiu a coletânea “28 Contos de John Cheever” (Companhia das Letras, 360 páginas, tradução de Jorio Dauster e Daniel Galera). Blake Bailey enfrentou sua vida complexa e escreveu uma biografia monumental, enfrentando inclusive a história de sua homossexualidade (era crítico ferrenho dos homossexuais, mas mantinha relações sexuais com homens). “Uma página de boa prosa sempre será invencível”, disse. Updike e Malcolm Cowley estavam entre seus admiradores. (Duomo Ediciones, 885 páginas, tradução de Ramón de España.)
“Paradiso”, de José Lezama Lima
Pense no Guimarães Rosa de Cuba. Pois o País do Caribe talvez seja lembrado, daqui a 100 anos, menos pela ditadura de Fidel Castro e Raul Castro e mais pela prosa e poesia de Lezama Lima. Trata-se do maior escritor da terra de José Martí. Saiu no Brasil este ano a nova tradução do romance (de formação, barroco) “Paradiso”. É uma obra-prima universal. A tradução de Josely Vianna Baptista é esmerada e fluente. Parece que se está lendo o livro em espanhol, tal a proximidade com o original. (Estação Liberdade, 612 páginas)
“Odisseia”, de Homero
O Brasil é um país de sorte: há várias traduções do livro “Odisseia” (640 páginas), do grego Homero. E traduções de qualidade, como as de Carlos Alberto Nunes, Donaldo Schüler e Trajano Vieira. Agora, Christian Werner traduz o longo poema numa linguagem coloquial, mas sem pedanteria. O posfácio é do escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, com apresentação de Richard Martin, com textos de Franz Kafka e do poeta Konstantinos Kaváfis. A edição da Cosac Naify é primorosa. Há duas versões — uma popular e uma de luxo (mais cara). Mesmo a popular é de excelente qualidade.
“Luís Carlos Prestes — Um Revolucionário Entre Dois Mundos”, de Daniel Aarão Reis
O doutor em história Daniel Aarão Reis entra, com esta excelente biografia sobre o líder comunista Luís Carlos Prestes, para o seleto círculo dos grandes biógrafos, como Francisco de Assis Barbosa, Fernando Morais, Ruy Castro e Lira Neto. Prestes sai com a estatura adequada da pesquisa exaustiva do professor da Universidade Federal Fluminense. Nem menor, nem maior. O livro é nuançado e sólido. É uma radiografia do século 20, notadamente da história brasileira. (Companhia das Letras, 536 páginas)
“Adolf Eichmann — Historia de un Asesino de Masas”, de Bettina Stangneth
A filósofa alemã Hannah Arendt escreveu um livro, “Eichmann em Jerusalém — Um Relato Sobre a Banalidade do Mal”, e praticamente definiu a história do nazista que chefiava o transporte de judeus para os campos de concentração e extermínio. O que a filósofa Bettina Stangneth mostra, em “Adolf Eichmann — Historia de un Asesino de Masas”, é que a história do nazista precisa ser nuançada. Na verdade, não era apenas um funcionário administrativo, cumpridor de ordens do Estado. Ele estava no topo do segundo escalão, por assim dizer, e, mesmo na Argentina, continuava articulando com nazistas que se escondiam no País. Lia Kant e escrevia muito. (Edhasa, 642 páginas, tradução de Silvia Villegas)
“Edna St. Vincent Millay — Belleza Selvaje”, de Nancy Milford
A poeta norte-americana Edna St. Vincent Millay (1892-1950) encantou de seu conterrâneo Edmund Wilson aos vates brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. No entanto, fora poesias publicadas em coletâneas, não há nenhum livro de sua autoria editado em português. Sua história lembra a de Pagu, guardadas as diferenças, lógico. Sua poesia é importante e influenciou gerações. Em termos comportamentais, era uma revolucionária. Nancy Milford nota, na excelente biografia, que “foi precursora da nova mulher. Fumou em público quando era ilegal que as mulheres o fizessem”; saiu com homens e mulheres, era independente e muito bonita. Acima de tudo, poeta relevante. (Circe, 635 páginas, tradução de Beatriz López-Buisán)
“O Paraíso Reconquistado”, de John Milton
O poeta britânico John Milton é sempre apresentado assim: “segundo maior poeta inglês, abaixo apenas de Shakespeare”. Harold Bloom, que “acha” que Shakespeare “inventou” Homero e o homem moderno, nem se fala. Os críticos podem até ter razão, mas Milton é um grande poeta, como prova “Paraíso Perdido”. Agora os brasileiros ganham “Paraído Reconquistado”. É a segunda parte do primeiro livro. (Cultura, traduzido por Guilherme Gontijo Flores e quatro profissionais, ilustrado por William Blake, 304 páginas)
“O Difícil Exercício das Cinzas”, de Ronaldo Costa Fernandes
Poeta que dialoga com a tradição, sem considerá-la como superada ou montanha intransponível, Ronaldo Costa Fernandes é dotado de rara sofisticação. No caso, isto não tem a ver com pomposidade ou grandiloquência. Aqui e ali, há discurso, no que não há mal algum, pois o poeta vive no mundo, sob as agruras do real. Mas sua arte cresce quando põe as palavras para bailar, criando elos entre elas como se fossem braços entrelaçados. (7 Letras, 91 páginas)
“História Concisa da Língua Portuguesa”, de Renato Miguel Basso e Rodrigo Tadeu Gonçalves
O livro “História Concisa da Língua Portuguesa” tende a passar batido fora do mundo acadêmico, embora seja destinado a um público mais amplo. É um verdadeiro tesouro produzido por dois acadêmicos que escrevem com o máximo de clareza. Os autores contam a história do latim e, em seguida, indicam como o português “surgiu”. O “concisa” do título não significa que se trata de uma obra simplista. É densa e simples. (Vozes, 325 páginas)
“O Português Brasileiro — Formação e Contrastes”, de Volker Noll
O livro “O Português Brasileiro” resulta da tese de livre docência do alemão Volker Noll, apresentada na Universidade de Göttingen. Trata-se de um livro extraordinário, que nós, brasileiros, devemos (e precisamos) ler. Não deixa de ser interessante que um scholar alemão seja o responsável por um livro que examina a especificidade, se há, da língua que se usa no Brasil. A pesquisa é detalhada e é quase uma história do Brasil contada por intermédio da língua. (Globo, 399 páginas, tradução de Mário Eduardo Viaro)
“O Irmão Alemão”, de Chico Buarque
O compositor Chico Buarque é menos questionado do que o escritor Chico Buarque. É fato que tem sido estudado de maneira empática por Roberto Schwarz, mas parte dos críticos acadêmicos torce o nariz. O romance “O Irmão Alemão” relata a história de um irmão do artista-prosador, nascido na Alemanha, na década de 1930. Era uma história nebulosa e o historiador Sérgio Buarque de Holanda não conheceu o filho. Chico escarafunchou a vida de Sérgio Günther e, finalmente, o revela para o leitor. (Companhia das Letras, 239 páginas)
“Vida e Destino”, de Vassili Grossman
O romance “Vida e Destino”, de Vassili Grossman (1905-1964), é simplesmente o maior romance russo do século 20 (muito acima de “Doutor Jivago”, de Boris Pasternak), ombreando, em densidade narrativa, com o romance “Guerra e Paz”, de Liev Tolstói, sua clara inspiração. Perseguido pelo stalinismo, que censurou o livro, Grossman não pôde ver a sua publicação, anos depois de sua morte. O livro trata da Segunda Guerra Mundial e, claro, da vida sob o stalinismo (daí a censura e apreensão dos originais). O leitor brasileiro tem sorte: Irineu Franco Perpetuo traduziu a obra diretamente do russo, e muito bem, e a edição da Alfaguara (915 páginas) é caprichada. Franco Perpetuo é autor de um prefácio curto mas instrutivo. “Vassili Grossman é o Tolstói da URSS”, disse o inglês Martin Amis. É um dos grandes lançamentos do ano.
“Primo Levi”, de Ian Thomson
Ao lado de Italo Calvino e Carlo Emilio Gadda, Primo Levi é um dos grandes escritores italianos do século 20. Judeu, foi enviado para o campo de extermínio de Auschwitz, mas sobreviveu. Trabalhou como químico e escreveu vários livros, os mais candentes, como “É Isto um Homem?”, sobre a vida no campo nazista. Seu testemunho é acatado inclusive por historiadores profissionais. Era um homem reservado e avaliava que devia contar sua própria história. Mas o jornalista inglês Ian Thomson decidiu escavar mais fundo e publicou um livro (exemplar) que resgata um Primo Levi que, apesar de seus depoimentos, não conhecíamos ou conhecíamos pouco. (Belacqva, 743 páginas, tradução de Julio Paredes)
“O Museu da Inocência”, de Orhan Pamuk
“O Museu da Inocência”, do Nobel de Literatura turco Orhan Pamuk, é um belo e trágico romance. O núcleo do livro é a história de um homem, jovem, que se apaixona por uma mulher e luta para ficar perto dela, mas sempre há algo impedindo. Durante o relacionamento, numa paixão obrigatoriamente platônica, vai colecionando (subtraindo) objetos que pertencem à amada. Pequenas coisas sem importância. Quando tudo parece que vai bem, e se dará o desfecho romântico, ocorre uma tragédia. Ao contar a história do jovem casal, Pamuk (ele próprio personagem) vai exibindo a Turquia, como se fosse um grande museu, ainda que não da inocência. (Companhia das Letras, 567 páginas, tradução de Sergio Flaksman)
“A Cortina de Ferro — O Fim da Europa de Leste”, de Anne Applebaum
Autora de um livro impressionante sobre o Gullag soviético, a historiadora Anne Applebaum publicou outra obra excepcional, “A Cortina de Ferro — O Fim da Europa de Leste”. De quebra, mostra a insuficiência de Hannah Arendt para interpretar a vigência do totalitarismo no Leste Europeu. A pesquisadora anota: “As políticas mais duras impostas no bloco soviético em 1947 e 1948 não foram (…) meramente, e seguramente não só, uma reação à Guerra Fria. Foram também uma reação ao fracasso. A União Soviética e os seus aliados locais não tinham conseguido conquistar o poder pacificamente”. A autora mostra que, apesar do quadro semelhante, havia nuances no stalinismo de cada país, como Hungria, Polônia e Alemanha Oriental. (Civilização Editora, 697 páginas, tradução de Miguel Freitas da Costa)
“A Primeira Guerra Mundial”, de Margaret MacMillan
As editoras publicaram livros densos sobre a Primeira Guerra Mundial. Saíram obras de Max Hastings, Peter Englund, Christopher Clark e Niall Ferguson (o mais polêmico). A leitura dos quatro autores dará ao leitor um painel amplo do que foi a Grande Guerra, como era conhecida em seu tempo. Mas vale a pena ler “A Primeira Guerra Mundial”, da historiadora inglesa Margaret MacMillan. A pesquisa é exaustiva e o texto é fluente. É o complemento ideal para os demais livros mencionados. (Globo Livros, 724 páginas, tradução de Gleuber Vieira)
“A Festa da Insignificância”, de Milan Kundera
O pequeno romance “A Festa da Insignificância”, de Milan Kundera, recebeu uma resenha próxima da mendicância num jornal de São Paulo, que não percebeu a ironia, o humor e a sutileza da história (leituras rápidas às vezes são empobrecedoras). O autor tcheco cometeu o “erro” de sua vida ao obter sucesso com o belo (“mas” popular) “A Insustentável Leveza do Ser”. Comparável a Saul Bellow, Philip Roth, Ian McEwan, John Updike e Joyce Carol Oates, em termos de qualidade literária, Kundera é lido, às vezes, como se fosse um Sydney Sheldon sofisticado. Uma comparação esdrúxula. Outra coisa que choca alguns acadêmicos é o fato de Kundera ser um ensaísta de primeira linha, com textos do balacobaco sobre, por exemplo, Cervantes. (Companhia das Letras, 236 páginas, tradução de Teresa Bulhões)
“O Pintassilgo”, de Donna Tartt
O romance “O Pintassilgo”, de Donna Tartt, é Fiódor Dostoiévski e Charles Dickens transplantados para os tempos atuais. Porém, ao adaptar a história noutra época, e não no século 19, a escritora americana recria seus influenciadores, mudando-os. Assim, ela é e não é a Dostoiévski e a Dickens de saia. Há uma certa ironia, talvez uma certa brutalidade feminina (rara de se ver, exceto em Joyce Carol Oates), que a diferencia, definindo uma persona literária específica. De resto, o livro é muito bem escrito e a história é muito boa. Donna Tartt transforma a história policial em grande literatura, poderiam dizer P. D. James e Ruth Rendell (admiradora da prosa de Donna Tartt). Uma crítica negativa de James Wood, num raro momento infeliz, “produziu” parte da crítica patropi, quase sempre colonizada. (Companhia das Letras, 728 páginas, tradução de Sara Grünhagen)
“A Balada de Adam Henry”, de Ian McEwan
O escritor britânico Ian McEwan consagrou-se com a obra-prima “Reparação”, um dos grandes romances do século 21. Mas não deixou de publicar boa literatura. Agora, lança mais um livro apontado como racionalista, ou melhor, contra a suposta irracionalidade das pessoas. No romance que saiu este ano no Brasil, o jovem Adam Henry tem leucemia e precisa fazer uma transfusão de sangue, mas sua família, composta de Testemunhas de Jeová, é contrária. A juíza Fiona Maye, séria e competente, enfrenta a parada, mas, no meio do caminho, surpreende-se com novos fatos e angulações. Espécie de “Reparação” menor, mas de idêntica qualidade. (Companhia das Letras, 200 páginas, tradução de Jorio Dauster)
“Armênio Guedes — Sereno Guerreiro da Liberdade”, de Sandro Vaia
Se Luís Carlos Prestes era autoritário e stalinista, o jornalista Armênio Guedes, nos seus anos de militância, tinha um comportamento completamente diferente. Era heterodoxo, porque, mesmo comunista, desconfiava do voluntarismo e do esquerdismo doentio de alguns companheiros de jornada. Mantinha uma relação aberta com integrantes de outros partidos. Talvez seja uma contradição dizer que uma pessoa é comunista e democrata, porque os comunistas em geral veem, ou viam, a democracia como uma etapa para algo “melhor”, o paraíso comunista, e não como um valor universal e ponto de chegada. Ainda assim, Armênio Guedes talvez possa ser considerado como um socialista democrático. Era contra a luta armada e apontou, com clareza, as razões de seu fracasso. (Barcarolla, 254 páginas)
“Sócrates”, de Tom Cardoso
Sócrates era um craque nos gramados e o mais politizado dos jogadores de futebol fora deles. No Corinthians e na Seleção Brasileira fez partidas memoráveis, dando passes magistrais. Era um jogador inteligente. Ao lado de Casagrande, comandou a democracia corintiana. Era médico e atuou como comentarista esportivo, sempre crítico. Devido ao alcoolismo, morreu cedo. Tom Cardoso diz que era o mais original dos jogadores. A biografia mostra o homem, o cidadão e o jogador de maneira integral, sem proteções e salamaleques. (Objetiva, 264 páginas)
“Pizzolato — Não Existe Plano Infalível”, de Fernanda Odilla
O livro de Fernando Odilla resulta de um acompanhamento meticuloso da história de Henrique Pizzolato, um dos formuladores do mensalão, ao lado de Marcos Valério, Delúbio Soares e José Dirceu. Um formulador menor, é possível, mas ainda assim um partícipe do grupo que criou um meio para financiar (comprar) apoio político. No caso de Pizzolato, há indícios de enriquecimento pessoal. Repórter do primeiro time, Fernanda Odilla mostra, detalhadamente, como Pizzolato saiu do Brasil, escapando para a Argentina e, daí, para a Espanha e, em seguida, para a Itália. (Leya, 320 páginas)
“Tudo ou Nada — Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X”, de Malu Gaspar
O livro da repórter Malu Gaspar poderia ter outro título: “Radiografia do Capitalismo Aloprado no Brasil”. Para não dizer, no lugar de “aloprado”, “irresponsável”. A jornalista, ao buscar entender e mostrar como um empresário chegou tão longe, com uma estrutura praticamente de papel, acaba por dissecar um tipo de capitalismo, não inteiramente brasileiro, mas com certa especificidade patropi. É possível que Eike Batista tinha certa consciência dos riscos, mas fica-se com a impressão de que os governantes do PT, como Lula da Silva e Dilma Rousseff, não conseguiram entender o significado das jogadas financeiras do dom Juan. É provável que ele tenha usado as relações com os governantes nacionais para se tornar crível no exterior. (Record, 546 páginas)
“Operação Banqueiro”, de Rubens Valente
O repórter Rubens Valente escreveu um livro de rara excelência, sem denuncismo e sensacionalismo. É óbvio que aqueles que foram desnudados, como o banqueiro Daniel Dantas, não apreciam a pesquisa, sugerindo que não há provas cabais. Mas o leitor perceberá que o que há de sobra neste livro — uma reportagem sobre rapinagem no capitalismo patropi — são provas bem documentadas. “Operação Banqueiro” não é um panfleto. É trabalho de repórter que checa exaustivamente aquilo que investiga e publica. (Geração Editorial, 464 páginas)
“A Rua das Lojas Escuras”, de Patrick Modiano
Em Portugal, o romance o Nobel de Literatura Patrick Modiano saiu com o título de “A Rua das Lojas Escuras”. No Brasil, pela Editora Rocco, será publicado, em dezembro, com o título de “Uma Rua de Roma”. O livro é, como sempre nas histórias do autor francês, sobre a memória. Um homem, que trabalhava para uma agência de detetives, perde a memória e tenta se reencontrar. Conversa com várias pessoas, juntando cacos e, aos poucos, vai tentando recompor seu ser. Tem a ver com a história do nazismo, durante a ocupação francesa. Com frases, períodos e capítulos curtos, o livro não faz concessões ao leitor. Não lhe dá nada de bandeja. Patrick Modiano é avaro em esclarecimentos. (Relógio d’Água, 185 páginas, tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira)
“Vale Tudo — O Som e a Fúria de Tim Maia”, de Nelson Motta
Morto aos 55 anos, em 1998, Tim Maia era compositor, cantor, músico e, vá lá, “empresário”. Costumava dizer que, embora intelectualizados, Caetano Veloso e Chico Buarque eram passados para trás pelas gravadoras. Ele, pelo contrário, jogava pesado com as múltis. Usuário de drogas — cocaína, maconha e o que aparecesse — e bebum quase profissional, faltava a shows, dava cheques sem fundos e não comparecia às muitas audiências judiciais. Mas era um gênio musical. A biografia de Nelson Motta conta tudo, sem deixar de mostrar o pior do artista, mas o faz com delicadeza. (Objetiva, 389 páginas)
“As Pequenas Mortes”, de Wesley Peres
Se você quer ler um autor que vai surpreendê-lo, pela qualidade da escrita, pela economia de recursos para contar uma história e pela densidade ao examinar a vida, não perca tempo: busque a prosa precisa de “As Pequenas Mortes”, de Wesley Peres. O autor começa a despertar interesse no exterior, notadamente na terra do bardo Shakespeare. (Rocco, 120 páginas)
“Reprodução”, de Bernardo Carvalho
Nos nossos tempos de violência física nas ruas e brutalidade verbal nas redes sociais e blogs — nas quais adversários políticos se tratam como inimigos em guerra aberta, com brigas homéricas sendo apresentadas como debates —, nada como ler o excelente romance “Reprodução”, de Bernardo Carvalho. Trata-se de uma ficção que captura, às vezes, com precisão o espírito dos tempos atuais — bárbaros, selvagens, anti-civilização. (Companhia das Letras, 168 páginas)
“Homem invisível”, de Ralph Ellison
“Homem Invisível” deve ser incluído entre os 10 melhores romances americanos do século 20 (ao lado de “O Grande Gatsby”, “O Som e a Fúria”, “Adeus às Armas”, “O Arco-Íris da Gravidade”, “Coelho Corre”, “A Filha do Coveiro”, “O Teatro de Sabbath”, “Henderson, o Rei da Chuva” e “O Sal da Terra”). Ralph Ellison, um autor requintado, capturou, com rara mestria, a vida complexa dos negros americanos. O registro da brutalização das ruas, como se os personagens estivessem vivendo numa espécie de transe, impressiona. A nova tradução é bem-vinda. (José Olympio, 574 páginas, tradução Mauro Gama)
“Quem Samba Tem Alegria — A Vida e o Tempo de Assis Valente”, de Gonçalo Junior
Assis Valente compôs “Boas festas” (“Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”), “Alegria”, “Cai cai balão”, “Camisa listrada”, “Boneca de pano” e “Brasil pandeiro”, clássicos da música popular brasileira. Alguns cantores que gravaram suas músicas: Francisco Alves, Aracy de Almeida, Elza Soares, Isaura Garcia, Márcia, Maria Alcina, Simone, Olívia Byington, Wanderléa, Nara Leão, Maria Bethânia, Zezé Motta, Clara Nunes, Vanusa, Eliete Negreiros, Ney Matogrosso, Paula Toller, Adriana Calcanhotto. O biógrafo contesta sua homossexualidade. Assis Valente matou-se em 1958. (Civilização Brasileira, 644 páginas)
“Pensando o Século XX”, de Tony Judt
O britânico Tony Judt era uma espécie rara de historiador-filósofo. Ao mesmo tempo que escreveu livros fundamentados de história, publicou obras de reflexão sobre a história e grandes personalidades, como Jean-Paul Sartre e Raymond Aron. “Pensando o Século XX”, escrito com o apoio do historiador Timothy Snyder — Tony Judt estava muito doente —, é importante para se compreender o mundo contemporâneo. “Barack Obama (…) está se mostrando muito hábil no que alguns de nós temiam que fosse sua qualidade saliente — o desejo de ser julgado razoável. Não necessariamente fazer concessões, mas o desejo de ser visto como alguém que faz concessões. O que torna muito difícil liderar.”
“Getúlio” (1945-1954), de Lira Neto
A história do Brasil no século 20 ficou mais precisa e lúcida com a publicação da biografia de Getúlio Vargas, em três volumes, pelo jornalista Lira Neto. A trilogia, mais do que um estudo do presidente que fortaleceu o Estado e expandiu a industrialização do País, é um grande mergulho na história do Brasil, dos fins do século 19 até meados da década de 1950. Era o livro que faltava nas bibliotecas. (Companhia das Letras, 448 páginas)