Resultados do marcador: Cinema e arte

Vencedor do Oscar de Melhor Ator por "Silêncio dos Inocentes", sir Anthony Hopkins tem uma filmografia que continua brilhante conforme ele envelhece

A quarentena imposta pela pandemia forçou diferentes grupos sociais a reinventarem suas atividades de lazer

Por Douglas Henrique Antunes Lopes*

No dia 19 de junho, comemoramos o Dia do Cinema Brasileiro, por ocasião das primeiras imagens capturadas por cinematógrafo no Brasil, na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, pelo italiano Afonso Segreto. De lá para cá, a história do cinema nacional parece uma montanha russa, com mais descidas do que subidas. No ano de 2020 então, não há muitos motivos para festejar, dada a pandemia de coronavírus que estrangula vários mercados e não deixa o audiovisual fora dessa condição.
Nesse sentido, não pretendemos fazer uma defesa pelo retorno da produção, dado o risco que profissionais possam correr, mas é importante considerar alguns aspectos do cinema nacional.
O primeiro deles diz respeito ao papel das políticas públicas para estimular e manter esse mercado, pois nossa livre iniciativa não pode ser nem comparada à economia movimentada em Hollywood. Quer um exemplo? Enquanto o Bacurau de Kleber Mendonça Filho contou com o orçamento de R$ 7,7 milhões; Vingadores: Ultimato, dirigido por Joe Russo e Anthony Russo, contou com US$ 356 milhões. Considerando as diferenças das propostas e dos produtos finais, podemos verificar que as equipes brasileiras conseguem fazer muito com pouco, pois nunca puderam contar com grandes orçamentos.
Na primeira metade do século XX, houveram leis de obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais em todas as salas de cinema do país, o que ajudou a aquecer este mercado. Na década de 1960, os cinemanovistas, como Glauber Rocha e Anselmo Duarte, distribuíam seus filmes por meio dos cineclubes, de modo que uma produção remunerava a outra, sem finalidade lucrativa, e para isto, criaram a Dinafilmes. Em 1969, o Governo Militar criou a Embrafilme, com propósito de divulgação da cultura nacional, mas com ela veio a censura, de modo que uma parte considerável da produção fílmica nacional foi de pornochanchadas ou filmes sem grande expressão técnica. Com o declínio da censura ao longo da década de 1980, a empresa produz seus melhores títulos, um deles é o longa intitulado Eles Não Usam Black-tie (1981), de Leon Hirszman. Essa onda duraria pouco, principalmente pela restrição de investimentos, dadas as frequentes crises econômicas enfrentadas pelo país naquela época. Em 1990 Collor sepulta a Embrafilme, de modo que as coisas ficariam melhores somente em 1993, com a criação da Lei do Audiovisual.
Carlota Joaquina, a princesa do Brasil (1995), de Carla Camurati, é considerada a primeira produção da época da retomada e não poderíamos deixar de mencionar a nossa célebre Central do Brasil (1998), dirigida por Walter Salles, conquistando vários prêmios internacionais e chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira.
Em 2001 testemunhamos a criação da Ancine, de forma que a empresa resultou em grandes produções, como Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund, e Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert.
A Ancine agoniza, com esvaziamento orçamentário desde 2016 e diminuição de editais de estímulo à produção audiovisual. Além das dificuldades de haverem novas produções, a nossa memória cinematográfica também está ameaçada com a crise da Cinemateca Brasileira, inaugurada em 1940, tendo como figura central nosso maior historiador do cinema brasileiro, Paulo Emílio Salles Gomes. Desde então, a cinemateca promove eventos de formação, publicações e tem um papel essencial na preservação e restauração de arquivos de filmes nacionais.
Além disso, de acordo com a Folha de São Paulo, quase 600 salas de cinema estão fechadas nesse contexto de pandemia, pois os locais são ambientes de alto risco para propagação do coronavírus. No entanto, a Covid-19 fez ressuscitar uma forma de exibição esquecida, os cinemas em “drive-in”, onde o público pode assistir os filmes dentro dos seus carros. A maioria das capitais brasileiras já contam com esse tipo de serviço, apesar disso, não há consenso médico sobre a segurança do público neste tipo de ambiente.
Diante deste contexto, quem está na “crista da onda” são os serviços de streaming, que já estavam crescendo nos últimos anos, mas ganharam uma alavancada maior ainda em razão das medidas de distanciamento social. Um relatório da Conviva, indica que o crescimento do consumo de serviços de streaming teve um aumento de 20% no mês de março. O que, na falta de políticas públicas, não é negativo. Ao pensarmos nas produções nacionais, somente a Netflix planejou um investimento de R$ 350 milhões no mercado nacional entre 2019 e 2020, gerando pelo menos 40 mil empregos diretos, conforme indica a reportagem da Revista Exame, pois as produções brasileiras têm sido um sucesso.
O que nós, os espectadores, podemos fazer neste momento de isolamento é aproveitar as plataformas públicas, como o Banco de Conteúdos Culturais (http://www.bcc.gov.br/) da Cinemateca Brasileira ou o Portacurtas (http://portacurtas.org.br/), e privados, como a Netflix e o Telecineplay, de modo que o consumo implica em maiores investimentos nas produções brasileiras em diversas modalidades.
*Douglas Henrique Antunes Lopes é professor de Filosofia e tutor da área de Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter.

Se à princípio a luz servia para iluminar, dar perspectiva e melhorar a imagem, o cinema, ao longo de seu caminho, encontrou outros sentidos mais profundos para aperfeiçoar suas técnicas
A fotografia e o cinema nasceram praticamente juntos, lá por meados de 1890, e tinham como premissa básica de iluminação a naturalidade, a luz solar. Por essa razão, o cinema foi transportado de Nova York para Los Angeles, nos anos 20 do século passado, como explica o teórico do cinema Richard Blank em seu livro "Cinema e luz. A história da luz no cinema é a história do cinema". Em Los Angeles, a luz é mais clara, mais contundente e mais dourada, o que possibilita uma iluminação frontal e uniforme nas personagens.
Enquanto as tecnologias para aperfeiçoar a iluminação se desenvolviam, outros padrões do cinema hollywoodiano também começavam a se delinear, como os perfis de suas estrelas, de suas personagens, sonoridades e roteiro e todo um pot-pourri de regras que fortaleciam sua posição no establishment. Hollywood se tornava uma das indústrias mais poderosas do mundo.
Do outro lado do Oceano Atlântico, na Europa os cineastas quebravam os paradigmas e faziam exceção à regra, se inspirando na estética de movimentos artísticos, se adaptando às adversidades (guerras, falta de recursos, clima, política) e buscando uma substância mais subliminar e filosófica para a iluminação de seus filmes, como ocorreu com o Expressionismo Alemão, o Realismo Italiano, a Nouvelle Vague e, também aqui nos Trópicos, o Cinema Novo Brasileiro.
Na pintura, a brincadeira com luzes e sombras permitem os olhos humanos a identificarem a perspectiva dos objetos. Pessoalmente, nós não precisamos exatamente que as luzes e sombras nos ajudem a determinar a distância entre os objetos e nós ou dos objetos com outros objetos, porque temos dois olhos que capturam a imagem de ângulos diferentes, mesmo que sutilmente. Apesar de pequeno, o deslocamento proporcionado pelos dois olhos nos dão a percepção tridimensional.
Como na pintura, a fotografia e o cinema também tiveram de desenvolver estilos de iluminação capazes de dar noção de profundidade para o público. Para além disso, também de transmitir mensagens subliminares ou sensações com um propósito específico. Agora, a iluminação não apenas proporciona luz e sombra, perspectiva e melhora a qualidade da imagem, como ela também cria no fantástico mundo da imaginação e das sensações a dramaticidade.
Um dos efeitos de iluminação mais famosos da Sétima Arte foi criado há cerca de 400 anos pelo pintor holandês Rembrandt Van Rijn. Dentre as características mais marcantes deste artista está a forte marcação das linhas de expressão dos rostos, o dramático chiaroscuro herdado de Caravaggio (claro-escuro: um contraste forte entre luzes e sombras) e a luz triangular carimbada sob os olhos de seus retratados. Essa última é hoje uma das mais utilizadas artimanhas do cinema, frequentemente usada para fazer o espectador acreditar que este é um momento emocional para a personagem.
Em filmes de suspense ou thriller, já é mais comum ver o efeito Top Down Lighting, que é uma técnica de iluminação desenvolvida para tornar determinados rostos da história assustadores. Geralmente a iluminação também é low-key, ou seja, o fundo é bastante escuro e a luz se concentra na personagem, reforçando a protuberância da face. O rosto é iluminado diretamente de cima para baixo e, com isso, é possível criar uma luz no formato de uma caveira sobre o rosto, o tornando mais ameaçador ou intimidador. A sensação no público é de medo.
Já o Far Side Key é uma luz quase poética e que dá às personagens um ar mais intrigante. Uma sombra mais endurecida deixa encoberto o lado da face que está voltado para a câmera, enquanto a luz ilumina o lado do rosto que quase não mostra. O efeito tem o poder de romantizar, dramatizar ou dar um ar heroico à personagem.