Se à princípio a luz servia para iluminar, dar perspectiva e melhorar a imagem, o cinema, ao longo de seu caminho, encontrou outros sentidos mais profundos para aperfeiçoar suas técnicas 

A fotografia e o cinema nasceram praticamente juntos, lá por meados de 1890, e tinham como premissa básica de iluminação a naturalidade, a luz solar. Por essa razão, o cinema foi transportado de Nova York para Los Angeles, nos anos 20 do século passado, como explica o teórico do cinema Richard Blank em seu livro “Cinema e luz. A história da luz no cinema é a história do cinema”. Em Los Angeles, a luz é mais clara, mais contundente e mais dourada, o que possibilita uma iluminação frontal e uniforme nas personagens.

Enquanto as tecnologias para aperfeiçoar a iluminação se desenvolviam, outros padrões do cinema hollywoodiano também começavam a se delinear, como os perfis de suas estrelas, de suas personagens, sonoridades e roteiro e todo um pot-pourri de regras que fortaleciam sua posição no establishment. Hollywood se tornava uma das indústrias mais poderosas do mundo.

Do outro lado do Oceano Atlântico, na Europa os cineastas quebravam os paradigmas e faziam exceção à regra, se inspirando na estética de movimentos artísticos, se adaptando às adversidades (guerras, falta de recursos, clima, política) e buscando uma substância mais subliminar e filosófica para a iluminação de seus filmes, como ocorreu com o Expressionismo Alemão, o Realismo Italiano, a Nouvelle Vague e, também aqui nos Trópicos, o Cinema Novo Brasileiro.

Na pintura, a brincadeira com luzes e sombras permitem os olhos humanos a identificarem a perspectiva dos objetos. Pessoalmente, nós não precisamos exatamente que as luzes e sombras nos ajudem a determinar a distância entre os objetos e nós ou dos objetos com outros objetos, porque temos dois olhos que capturam a imagem de ângulos diferentes, mesmo que sutilmente. Apesar de pequeno, o deslocamento proporcionado pelos dois olhos nos dão a percepção tridimensional.

Como na pintura, a fotografia e o cinema também tiveram de desenvolver estilos de iluminação capazes de dar noção de profundidade para o público. Para além disso, também de transmitir mensagens subliminares ou sensações com um propósito específico. Agora, a iluminação não apenas proporciona luz e sombra, perspectiva e melhora a qualidade da imagem, como ela também cria no fantástico mundo da imaginação e das sensações a dramaticidade.

Um dos efeitos de iluminação mais famosos da Sétima Arte foi criado há cerca de 400 anos pelo pintor holandês Rembrandt Van Rijn. Dentre as características mais marcantes deste artista está a forte marcação das linhas de expressão dos rostos, o dramático chiaroscuro herdado de Caravaggio (claro-escuro: um contraste forte entre luzes e sombras) e a luz triangular carimbada sob os olhos de seus retratados. Essa última é hoje uma das mais utilizadas artimanhas do cinema, frequentemente usada para fazer o espectador acreditar que este é um momento emocional para a personagem.

Em filmes de suspense ou thriller, já é mais comum ver o efeito Top Down Lighting, que é uma técnica de iluminação desenvolvida para tornar determinados rostos da história assustadores. Geralmente a iluminação também é low-key, ou seja, o fundo é bastante escuro e a luz se concentra na personagem, reforçando a protuberância da face. O rosto é iluminado diretamente de cima para baixo e, com isso, é possível criar uma luz no formato de uma caveira sobre o rosto, o tornando mais ameaçador ou intimidador. A sensação no público é de medo.

Já o Far Side Key é uma luz quase poética e que dá às personagens um ar mais intrigante. Uma sombra mais endurecida deixa encoberto o lado da face que está voltado para a câmera, enquanto a luz ilumina o lado do rosto que quase não mostra. O efeito tem o poder de romantizar, dramatizar ou dar um ar heroico à personagem.