“Meu Pai” traz atuação mais arrebatadora de Anthony Hopkins em sua carreira
02 abril 2021 às 20h35
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Vencedor do Oscar de Melhor Ator por “Silêncio dos Inocentes”, sir Anthony Hopkins tem uma filmografia que continua brilhante conforme ele envelhece
“Meu Pai” é um longa-metragem de 1h37 de duração, dirigido pelo escritor, dramaturgo e cineasta francês Florian Zeller. O filme tem previsão para estreia nas plataformas digitais Now, Google Play, ITunes, Skyplay e Vivoplay no dia 8 de abril no Brasil.
O drama é uma adaptação de peça homônima escrita pelo próprio Florian Zeller, que estreou nos teatros europeus em setembro de 2012 e chegou a ter versão no Brasil. A adaptação do roteiro para os cinemas teve ajuda de Christopher Hampton.
E a transição deste roteiro de teatro para as telas ocorreu de maneira muito eficaz. O trabalho de edição/montagem, mérito de Yorgos Lamprinos, foi primoroso. O editor lapidou cada extremidade de cena transformando a obra em um perfeito labirinto da mente de Anthony, nosso protagonista. “Meu pai” traz sir Anthony Hopkins no papel de Anthony, um idoso de 80 e poucos anos que sofre de demência. Hopkins divide as telas com Olivia Colman, que interpreta Ann, sua filha.
Em entrevista ao Toronto International Film Festival (TIFF), o diretor Florian Zeller conta que quando pensou em adaptar a peça para as telas, sempre imaginou sir Anthony Hopkins como seu personagem central. Ao compartilhar o sonho com colegas da produtora, todos achavam que se tratava de uma ideia mirabolante, já que este é o primeiro trabalho de Zeller para o cinema.
Roteiro enviado para o agente de Anthony Hopkins, o dramaturgo francês recebe um telefonema que o surpreende: o ator se interessou pelo projeto e aceitou almoçar com ele e Hampton. O resto da história a gente já sabe. O sonho de Zeller se concretizou.
Voltando a falar do enredo do filme, Lamprinos leva o espectador para dentro da mente confusa de uma pessoa com demência. À princípio, não parece claro, mas a intenção de Zeller é fazer o espectador experimentar confusão, sensação de se estar perdido, de quem monta um quebra-cabeça em que parte das peças não se encaixam.
Anthony vive em seu apartamento em Londres e, em um primeiro momento, assim como o protagonista temos certeza do que vemos. Ele mora com sua filha, e ela lhe conta que irá se mudar para Paris com o novo namorado. Em questão de minutos, o rosto de Ann é diferente Um estranho sentado na sala diz ser marido de Ann e tem certeza de que o apartamento é dele. Ainda faz Anthony se sentir um inquilino indesejado. Um quadro na parede que desaparece, duas cadeiras surgem no corredor. Além das pessoas e da história, o apartamento também parece sofrer transformações muito rápidas.
A gente, como Anthony, passa a ter dúvidas do que é real e do que não é. Estamos loucos? A interpretação dos protagonistas flui muito fácil. Olivia e Anthony confirmaram que eles simplesmente flutuavam sobre seus papeis ao TIFF. O protagonista resmunga, é charmoso, é irritado, paranoico, dentre diversas outras características que facilmente encontraríamos em pessoas próximas, como um avô ou um pai.
A atuação do veterano é arrasadora.
Olivia Colman, que também é um grande talento, complementa essa obra-prima, já que os dois emitem uma sintonia muito forte.
Para Florian, o filme é também sobre empatia. Sobre se colocar no lugar de Ann, vivida por Olivia, e pensar: o que eu faria com a pessoa que amo que vive em situação de demência?
O público se sente como Anthony, confuso, assustado e até bravo. No entanto, é a angústia de Ann que preenche o apartamento, contagia todos ao seu redor.
Ao ser perguntado sobre como foi a experiência nesse filme, sir Anthony respondeu que, apesar de ter realizado ótimos trabalhos nos últimos anos, esse foi o ponto alto de sua carreira. Vale ressaltar que estamos falando de Anthony Hopkins, o Hannibal Lecter de “Silêncio dos Inocentes”.
De fato, se não for esta sua magnum opus, com certeza está entre suas melhores atuações. Ao ser questionado como conseguiu encontrar a essência daquele personagem tão complexo e cheio de facetas, ele responde que foi fácil. “Cheguei naquela idade em que eu sinto a melancolia”, falou.
Outro detalhe deste filme que merece louvor é a fotografia, que cria um ambiente de suspense e thriller, às vezes com luzes baixas e sombras precisas. Nos faz pensar o quanto é assustadora a situação de Anthony.
“Meu Pai” disputa o Oscar 2021 nas categorias de direção, design de produção, roteiro adaptado, melhor ator e atriz coadjuvante.