A pandemia é um convite à inovação, a repensarmos políticas e sistemas públicos. O momento é de perceber na tecnologia a saída para geração de riquezas

Bruno Netto

O exercício de olhar para trás, na busca por apoio nas elucubrações do que está por vir, me permite refletir como o mundo, ou melhor o mercado, vem se comportando. Podemos tentar construir caminhos mais prósperos, olhando os acertos e equívocos das nações no trato com os desafios que, infelizmente, a humanidade já experimentou.

Num recorte desde a Revolução Industrial, sabendo que não há uma data precisa, mas considerando 1840 como ponto de partida, temos praticamente 200 anos até aqui. É fato que as catástrofes transformaram o mundo, seja depois de cada uma das duas grandes guerras, pandemias ou revoluções. Embora algumas vezes momentos de instabilidade tenham facilitado o crescimento de regimes ditatoriais, também vimos sociedades experimentarem a reinvenção do Estado, no sentido de proteger melhor os mais necessitados e alcançar uma sociedade mais igual.

A gripe espanhola dizimou, apenas em 1918, entre 20 e 100 milhões de pessoas. A dimensão e a imprecisão dos números mostram o quanto o mundo não estava pronto para passar por uma pandemia e somados aos números de mortes da primeira grande guerra, que cessava um ano antes, temos o cenário do risco e responsabilidade, para além da economia, com a nossa espécie. Uma vez extintos, não precisamos de poder econômico. Por isso a saúde vem primeiro.

Voltando para 1918, muitos países reforçaram o papel do Estado, criando sistemas públicos de saúde e ministérios sobre o tema. Inclusive, a Organização Mundial da Saúde é fruto daquela pandemia, quando a Liga da Nações criou, em Viena, um escritório internacional para combater grandes problemas sanitários e a partir disso foi consolidando ações, até se instituir a poderosa OMS que conhecemos. Essas duas catástrofes impactaram a economia, causando um movimento obrigatório de mudança de rumos planetário.

Com isso, podemos observar que a dificuldade econômica posterior trouxe danos que foram proveitosos para uns e não tanto para outros. Temos na grande depressão da década de 30, nos EUA, uma óbvia consequência de 1918. E quando lemos o discurso do candidato democrata à presidência, Franklyn Roosevelt, em 1932, fica claro de onde vem o protagonismo americano nos anos conseguintes: “Existem duas maneiras de olharmos o papel do governo nas questões, afetando a economia e a sociedade. O primeiro procura favorecer poucos na esperança de que a prosperidade desses poucos escoe e chegue aos trabalhadores, mas essa não é, e nunca será, a teoria do Partido Democrata”. O “New Deal” (Novo Acordo ou Novo Trato) foi posto em prática a partir da eleição de Roosevelt, em 33. 

O grande salto na qualidade do Estado de Bem-Estar Social ocorre como consequência da Segunda Guerra Mundial, a partir da Inglaterra, pelo governo trabalhista. Em 1942, liderada no parlamento pela maioria do Partido Liberal, a Inglaterra publicou um relatório propondo reformas sociais profundas, conhecido como “Social security from cradle to grave” (Segurança Social do Berço ao Túmulo), focado na luta contra os cinco grandes males: miséria, doença, ignorância, necessidades básicas e inatividade por falta de trabalho. 

A Declaração Universal do Direitos Humanos, de 1948, que é uma reação à barbárie da Segunda Grande Guerra, traz nos seus artigos 22 a 26, a representatividade dos direitos econômicos e sociais consagrados durante o New Deal. Nessa fase, o Estado de Bem-Estar Social se tornou realidade na maioria dos países do mundo e um roteiro para toda a humanidade.

Um aspecto central do Estado de Bem-Estar Social, após 1945, foi o consenso alcançado entre as principais forças políticas para apoiar uma economia mista que combinava o público com os setores privados.  Enquanto na Europa, na década de 1930, apenas metade dos trabalhadores possuía alguma forma de proteção social, na década de 1970, esse número chegou a 90%. 

Revolução neoconservadora

Com a revolução neoconservadora liderada por Ronald Reagan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra), nos anos 70, o estado de bem-estar social construído nas décadas anteriores perdeu protagonismo, contaminando outras nações pelo mundo. Em uma passagem sempre lembrada de Reagan, podemos notar: “O governo não é a solução para nossos problemas; o governo é o problema” A nova visão do governo como inimigo, ou, na melhor das hipóteses, como espectador, espalhou-se. 

Podemos ver que cada momento deu protagonismo para a condução de políticas públicas antagônicas, mas que se adequaram à realidade do momento. Trazendo luz para algo interessante: não há o perfeito. Porém, há o momento perfeito para se aplicar determinada visão de alicerce para a sociedade. Hoje, a partir da condição temporal, será preciso que os líderes no mundo inteiro percebam a tecnologia como aliada, a paz como fim social e a oportunidade de desenvolvimento individual seja assegurada para termos condições de existência harmônica.

Se não propusermos inovações, se não formos criativos/inventivos, assistiremos a progressão entre “quem tem e quem não tem” pelos próximos anos. As mudanças exponenciais às quais o mundo está exposto, além de enfraquecer o estado de bem-estar social, evidenciam sua fragilidade perante aos avanços tecnológicos. A verdade é que o Estado, em todas suas formas representadas ao redor do planeta, está exposto pela pandemia, mostrando sua ineficiência para cuidar de verdade das pessoas. Faltaram tantos leitos e respiradores em Nova Iorque, quanto em Manaus. Há um imenso esforço para não faltar comida a ninguém, mas os cadastros não são eficientes e mais uma vez a tecnologia existe, mas não está posta adequadamente em lugar algum como política pública abrangente. 

Novos empregos

No Governo de Goiás, liderado pelo governador Ronaldo Caiado, estamos colocando de pé um dos legados orientados do Programa Goiás de Resultados, a Biometria Cidadã, que de maneira inédita está formando um único banco de dados para assegurar todos os serviços que o cidadão precisa, do nascimento ao falecimento, com dados que apoiarão políticas públicas assertivas no futuro. Assim, como também estamos trabalhando para o desenvolvimento exponencial de novos empregos, através da recém-criada Força-Tarefa, coordenada pelo vice-governador Lincoln Tejota, voltada para o Desenvolvimento Econômico Regional de todo o Estado. Momentos difíceis demandam inventividade.

O mundo mudou e ficou cada vez mais complexo manter um cinturão de proteção social e oferta de oportunidades igualitárias, com as soluções que estão postas hoje. Essa pandemia é um convite à inovação, a repensarmos políticas e sistemas públicos de forma a perceber que diretrizes políticas de esquerda ou direita fizeram sentido e foram boas para a sociedade em períodos passados. O momento é de perceber na tecnologia a saída para diversas funções que geram riqueza e que o indivíduo precisa ser orientado para o seu desenvolvimento intelectual, a fim de perceber seu lugar no mundo, como parte da natureza. Pois o maior desafio da nossa espécie é o de permanecer habitando a Terra, mas principalmente, manter o planeta saudável e equilibrado para que perdure. Isso envolve todo o ecossistema e nele, o ator principal é o ser humano.

*Bruno Netto é gestor do Programa Goiás de Resultados