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Com o conflito na Ucrânia, talvez as novas gerações estejam agora experimentando o que é viver a paz movida ao perigo nuclear

Foguetes são disparados de campo de neve durante exercícios conjuntos de russos com a Bielorrússia | Foto: Ministério da Defesa da Rússia / AFP

Desde o dia 5 de agosto de 1945, que Hiroshima foi alvo de um inacreditável ataque nuclear, o mundo vive sob a sombra do medo atômico. Daquela data até a queda do Muro de Berlim, em 1989, houve a divisão do mundo em duas zonas de influência – uma dos Estados Unidos e outra da União Soviética. Ambas, durante esse tempo, desenvolvendo milhares de ogivas nucleares.

A queda do Muro foi considerada também a queda do regime comunista como modo de produção. A economia planificada, em que o Estado concentrava os investimentos e a iniciativa privada se submetia, estava ruindo – o que, de certa forma, fica estranho quando olhamos, hoje, para a China.

O fato é que, com o fim da União Soviética, em 1991, o mundo respirou aliviado com o que considerava ser o epílogo da guerra fria – aquela em que as superpotências não se atacavam, mas usavam o mundo como um tabuleiro de War para conflitos diversos, da Coreia a Angola, do Vietnã a Cuba. O pano de fundo para a tensão era o arsenal nuclear e o planeta esteve bem próximo de um conflito total em 1962, com o episódio da crise da Baía dos Porcos, com mísseis soviéticos em terras cubanas, a apenas 150 quilômetros da costa estadunidense.

Mas o desmantelamento da União Soviética e de todos os seus aliados do Leste europeu traria consequências sérias. Num primeiro momento, a mais grave foi a Guerra dos Bálcãs, que transformou a antiga Iugoslávia em meia dúzia de países, à custa de muito sangue e bastante crueldade.

Por outro lado, houve o crescimento da Otan, a organização militar liderada pelos Estados Unidos, inclusive com a adesão de nações que estiveram ao lado da União Soviética. A Rússia não gostou e já vinha demonstrando isso pelo menos desde 2014, quando a assinatura do tratado de Minsk (capital da Bielorrússia) tentou pacificar a situação.

A complicação que ocasionou a invasão agora vem justamente de acusações de Moscou do desrespeito ao acordo. A ação militar, no entender da Rússia, foi uma espécie de autodefesa, para não ver o país com quem tem a maior fronteira ligado à Otan – e para defender cidadãos russos que estariam sendo massacrados no lado leste ucraniano. Para os Estados Unidos e seus aliados, foi um ato de agressão a um país que não provocou nada.

O fato é que a ação russa reinstala a guerra fria. Mais: agora com um conflito em plena Europa. Na nova divisão geopolítica, parece que o presidente Vladimir Putin passa a ter a China, senão como aliada, com um viés de parceria. Superpotências nucleares de um lado e de outro.

É justamente o temor atômico que, ironicamente, pode dar origem a uma paz à moda antiga. É a contradição: uma 3ª guerra mundial é algo impensável, mas também é logo ali, no botão vermelho. As gerações mais novas estão conhecendo o que é viver a tensão do conflito, mesmo tão longe dele.