No evento mais esperado desde o início da campanha eleitoral, Jair Bolsonaro (PL) compareceu à tradicional sabatina do Jornal Nacional com os candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. Por determinação de sorteio, foi o presidente quem abriu a sequência de entrevistas de 40 minutos em que William Bonner e Renata Vasconcellos vão sabatinar, ainda, Ciro Gomes (PDT) – nesta terça-feira, 23 –; Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na quinta-feira; e Simone Tebet (MDB), na sexta.

Em 2018, quando pela primeira vez enfrentou a bancada do JN, Bolsonaro foi questionado por 27 minutos e conseguiu espalhar a fake news do “kit gay” em rede nacional, apresentando ao vivo um livro de origem francesa (que nunca esteve na rede pública de ensino) como algo distribuído no governo do PT para “perverter” criancinhas.

Desta vez, Bolsonaro estava lá para uma maratona de 40 minutos com a faixa de presidente, tendo o peso de um governo altamente impopular e precisando prestar esclarecimentos, entre outras coisas, sobre uma forma de gerir a pandemia que levou o País a ter a segunda maior taxa de letalidade por 100 mil habitantes no mundo.

O que, em tese, seria uma “carnificina” sobre o capitão não se confirmou. Se o entrevistado não se saiu bem, também não se deu mal: mentiu bastante aqui e acolá, tergiversou a seu modo sobre dados objetivos e conseguiu “fazer cera” para respostas mais complicadas, mas isso não foi o mais importante: o que lhe valeu foi passar a imagem, para os eleitores que ainda esperam ser convencidos para decidir o voto de que é alguém não tão destemperado assim.

Bolsonaro evitou confronto com praticamente todos os seus desafetos: PT, comunismo, imprensa, Judiciário e a própria Globo foram coadjuvantes ou praticamente personagens inexistentes em seu discurso.

Sabe-se que há uma batalha pela protagonismo da narrativa – palavra da moda para a extrema-direita – da campanha à reeleição de Jair Bolsonaro. Enquanto a ala ideológica quer botar fogo no País, falar de “bem versus mal” e demonizar adversários, os experimentados políticos do front, comandados por gente como Valdemar Costa Neto – chefão do PL – e Ciro Nogueira – ministro da Casa Civil e líder do Centrão – quer a versão mais moderada possível que puderem extrair do capitão.

Pelo menos no embate desta segunda-feira frente a frente a Bonner e Renata, o ponto vai para Valdemar e Ciro: Bolsonaro soube se portar e se comportar. Muita gente no Palácio do Planalto curtiu o restante do Jornal Nacional respirando bastante aliviada.