Um estudo recente revelou melhorias significativas na qualidade do solo do Cerrado goiano, graças à implantação de sistemas de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF). Realizado pela Embrapa em parceria com o Instituto Federal Goiano (IFGoiano), o estudo comparou áreas de ILPF recém-implantadas com pastagens não cultivadas, utilizando indicadores de disponibilidade de água e aeração do solo.

Segundo a Embrapa, a macroporosidade do solo nas áreas de ILPF foi até 50% superior à das áreas de pastagem de referência. Este aumento é crucial para a sustentabilidade do crescimento vegetal e da vida microbiana subterrânea, elementos essenciais para a saúde do solo e das plantas. “Eu tenho um solo sempre coberto, protegido e cheio de raízes”, disse Márcia Carvalho, pesquisadora da Embrapa Arroz e Feijão (GO) e uma das coordenadoras desse trabalho.

O estudo foi conduzido em duas fazendas-escola do IFGoiano, localizadas em Morrinhos e Iporá, representativas da região do sudoeste goiano. Esta área é responsável por cerca de 9% da safra de grãos do Brasil. Os sistemas de ILPF, com um a dois anos de implantação, incluíam árvores de eucalipto e nativas (como baru e angico), além do cultivo de soja, milho e braquiária entre as fileiras.

“Para nossa surpresa, os sistemas mais recém-plantados, que são esses de Iporá e Morrinhos, a gente já conseguiu ver alguma melhoria, especialmente em termos de capacidade do solo de aumentar a água disponível para as plantas”, afirmou Márcia.

Os pesquisadores coletaram amostras de solo em sete camadas diferentes, até um metro de profundidade, para avaliar a porosidade e as propriedades físico-hídricas. A análise revelou que, em ambas as localidades, a ILPF aumentou a umidade retida pelo solo em até 0,7 milímetro por centímetro de solo, comparado à pastagem não cultivada.

“O solo argiloso, que já tem mais micropolos e tem alta capacidade de retenção de água, ela é retida para as plantas, e os micropolos aumentam com a agregação da matéria orgânica do solo. Então, além de capturar carbono, esses sistemas também contribuem para a melhoria da capacidade do solo de disponibilizar água”, explicou a pesquisadora.

Em Iporá, onde baru e eucalipto foram cultivados no sistema de ILPF, o solo mostrou uma capacidade de aeração superior à da área de referência. Essas melhorias foram mais evidentes na camada superficial do solo, até 30 centímetros de profundidade.

“Isso é muito significativo quando a gente tem altas temperaturas, por exemplo, ou momentos de seca para as plantas que são cultivadas nas entrelinhas das árvores. Nos solos arenosos essa capacidade é um pouco menor por terem uma textura diferente, não tem argila, que são os solos de Iporá, mais rasos, rochosos. A aeração desses solos, que é algo positivo, é algo que você gostaria que acontecesse nesse tipo de solo, que são muito rochosos e duros”, argumentou Márcia.

Coordenação e continuidade do monitoramento

Márcia Carvalho destacou a importância do acompanhamento contínuo dos impactos dos sistemas ILPF nas características físico-hídricas do solo. Esse monitoramento é crucial para entender a evolução da qualidade do solo desde a fase inicial da integração entre cultivos, forrageiras e espécies arbóreas.

“Os sistemas de integração foram implantados há dois anos. Essa análise foi feita em 2019 e 2020 e ela está sendo refeita agora, cerca de cinco, ou seis anos depois, porque as propriedades do solo são estáveis, a não ser que você tenha a mecanização na área. O sistema de ILPF agregam boas práticas que estão no plano da agricultura de baixo carbono do Brasil, com o plantio direto, uso de insumos, a diversificação das plantas”, ressaltou.

Além do ILPF, Carvalho mencionou outros sistemas de integração que contribuem para uma produção mais sustentável, como os sistemas agroflorestais e agroecológicos. Estes sistemas ajudam a regular a temperatura local, manter a umidade e a água no solo, e são essenciais para enfrentar incertezas climáticas, aumentando a segurança alimentar e a sustentabilidade da produção agrícola.

“As propriedades do solo melhoram porque há uma melhoria também em termos de cultivo e de boas práticas. Quando a gente fala de incremento da capacidade de água disponível, é sempre em relação a essa pastagem não cultivada, que é próxima à área onde foi implementada a ILPF. Essa pastagem representa o que era o solo, as condições antes da implantação do sistema. Representa o tempo zero. Então, quando eu estou falando desse incremento é em relação a essa pastagem não cultivada, que a gente conhece bem, que está lá há 30 anos e que não tem nenhum manejo sobre essa pastagem que ela é subutilizada. Basicamente isso que o estudo mostra”, finaliza.

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