Conheça a história da cooperativa que abriu o Cerrado para o agro e revolucionou a economia

28 outubro 2023 às 12h59

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A Cooperativa Comigo foi fundada em 1975 por 50 produtores rurais de Rio Verde Goiás. A empresa foi uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da produção de grãos em Goiás e se tornou a sexta maior cooperativa do agro brasileiro. Em 2021, a Comigo teve receita de 6,71 bilhões de reais.
A cooperativa de Rio Verde possui um complexo industrial extenso: são 20 armazéns com capacidade para guardar 30,1 milhões de sacas; lojas agropecuárias em 20 municípios goianos; 11 processadoras de óleo e farelo de soja, rações, fertilizantes, sementes e suplementos minerais; um instituto próprio de ciência e tecnologia.
Atualmente, a Comigo conta com 11 mil associados em todo Estado e cerca de 3.500 colaboradores. A empresa está presente na vida do produtor desde a análise de terra, até a colheita. O associado recebe orientação técnica e o amparo desejado dentro da cooperativa. O presidente da cooperativa, Antônio Chavaglia, diz que o propósito da companhia é fazer jus a seu nome e acompanhar os produtores em todos os processos.

Antônio Chavaglia é um produtor rural paulista de nascimento, mas, segundo o próprio, goiano de coração. Está na presidência da Comigo desde 1986, tendo ingressado na diretoria em 1980. Além de comandar a Cooperativa, também é produtor rural na região de Rio Verde. Vindo do Estado de São Paulo em 1986 com a intenção de plantar algodão, o empresário arrendou terras goianas.
O produtor explica que a Cooperativa Comigo nasceu em um contexto em que o Cerrado estava sendo desbravado pelo agro. À época, goianos produziam principalmente arroz e gado. Em 1975, os primeiros associados da Comigo se juntaram na cooperativa e em 1978 foi construído o primeiro armazém para arroz. Chavaglia conta que processos como a secagem do arroz eram realizados de forma artesanal. “O arroz era secado no asfalto; as máquinas de beneficiamento eram poucas e não atendiam a demanda.”
Em 1980, a Comigo recebeu o primeiro armazém graneleiro para guardar o milho. A cooperativa começou a expandir gradativamente para outros municípios goianos. Em 1983 a comigo inaugurou a primeira indústria de esmagamento de soja no Centro-Oeste.

A partir daí, a produção de soja começou a decolar. Produtores perceberam a lucratividade da soja e as lavouras migraram para o plantio da oleaginosa. De acordo com Chavaglia, a Comigo contribuiu para a “abertura” do Cerrado, o que significou a grande revolução econômica do país. “Na época, o governo federal mandava as pessoas para o Centro-Oeste, facilitando a construção de estradas e financiando propiriedades rurais na região. Foi o momento em que o produtor passou a ter resultados positivos. Agricultores que viviam sob a lona em terras arrendadas começaram a comprar suas propriedades. Hoje, muitos dos que chegaram aqui sem nada têm grandes terras“, pontua Chavaglia.
O presidente da cooperativa lembra que uma das primeiras iniciativas da Comigo foi a contratação de um agrônomo e de um veterinário. Os profissionais foram responsáveis por tornar as terras do chapadão produtivas para soja. “Desde então, fazemos todas as etapas para os associados. Entre agrônomos a veterinários, nosso quadro possui mais de 130 profissionais e seis técnicos realizando pesquisas. Temos uma estrutura para realizar experimentos, preparar o solo e pesquisar na agropecuária. O produtor associado está amparado sob orientação técnica.”
A Comigo possui um complexo industrial que transforma matérias-primas em produtos como o óleo de soja. São duas fabricas de sal mineral e três de ração. “A cooperativa está bem estruturada, no entanto não pode parar de crescer, porque a empresa que para de crescer acaba desaparecendo. Os custos aumentam e ela precisa evoluir diariamente. “
Atualmente, são industrializado dentro do complexo cerca de 50% da soja que a cooperativa recebe – cerca de 28 milhões de sacas. O restante é comercializado no mercado. A Comigo armazena aproximadamente 17% da soja produzida em Goiás, e as compras são feitas somente no estado.
Se tornando sócio
Chavaglia esclarece que para se tornar um associado, o interessado precisa passar por um curso de pelo menos duas horas para conhecer a cooperativa e conhecer as possibilidadesde integrar a cooperativa. Ele ressalta que em contrapartida, os associados precisam honrar compromissos explicitados em contrato, como destinar parte de sua produção para a cooperativa. O presidente pondera: “Os associados é que são os donos da cooperativa, e qualquer coisa que aconteça negativamente, como um desastre econômico na empresa, são de corresponsabilidade dos sócios, bem como o sucesso financeiro. Antes de tomar a decisão, o produtor é muito bem orientado para depois decidir”, diz Chavaglia.

A cota capital da Comigo chega a 70% da sobra da produção. Aos 65 anos de idade, o associado passa receber uma espécie de aposentadoria, que chaga a 10% de sua produção anual e, se ele vier a falecer, a cooperativa paga para a família a cota à vista, desde que o inventário esteja pronto. Ademais, ainda é distribuído 15% da sobra para a conta corrente do associado.
O presidente afirma que a cooperativa não sofre interferência política e nem permite que seja usada de tal forma. “Se algum funcionário ou diretor quiser se candidatar a algum cargo político precisa sair da cooperativa. Apenas aos associados é permitido o ingresso em partidos políticos, mas não aos funcionários e diretores.” Chavaglia informa ainda que a empresa não aceita ajuda política, destinação de emendas, e jamais trabalhará em prol da eleição de político algum. “Aqui não entra verba pública. Todo dinheiro que recebemos, pagamos de volta com juros.”
Cenário atual
Em relação aos investimentos da cooperativa, Antônio Chavaglia faz uma ressalva. O período de incerteza que o país atravessa nesse momento não dá segurança aos investidores, diz o presdiente da Comigo. “Enquanto o governo federal não der firmeza sobre as contas públicas em 2024 e 2025, ninguém tem certeza para fazer investimentos. Por isso, estamos reduzindo nossas aplicações financeiras e estamos focando em terminar construções que já estavam em andamento. O ano de 2023 é de muita cautela“, afirma.

Chavaglia lembra que a Tecnoshow, a maior feira agro do Centro-Oeste, foi idealizada pela Comigo. O evendo ficou parado durante os dois anos de pandemia, mas voltou em 2023, superando as expectativas. “Foram muitas negociações. Os preços estavam bons, porém, ao término da feira, muitos negócios feitos tiverem de ser cancelados por conta do pouco financiamento oferecido pelos bancos. Mesmo compras realizadas à vista foram desfeitas posteriormente. Então, os 60 dias após a Tecnoshow foram de muita frustração para todos, justamente pelas incertezas do mercado.” A feira de 2024 já está com data marcada: 8 a 12 de abril.